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23/10/2014 - 09:34

Caça às bruxas

Na última quarta-feira (15/10), no bairro paulistano de Higienópolis, uma moça segurando duas meninas pequenas foi surpreendida pelo senhor que vociferava: “Sua vaca, vocês quebraram meu país!” Logo ela percebeu que ele se referia ao adesivo “Dilma 13”, estampado no vidro traseiro de seu carro. O discurso de demonização do PT tomou todo o espaço democrático, para dar carta branca a inquisidores em uma verdadeira caça às bruxas.

A atuação das esquerdas brasileiras no poder, devemos reconhecer, causou decepções. Não foram honrados os episódios de entrega dos interesses do Estado, de subserviência às instituições financeiras e aos oligopólios, e de conformismo com a corrupção endêmica, traço marcante de nossa sociedade e dos equipamentos estatais (parlamentares, executivos e judiciários), inclusive nos governos do PT que ingenuamente esperávamos livres de impurezas. Também não nos orgulhamos do pragmatismo, movido pela necessidade de governar um país desgovernado, que desbota a recente história da defesa da democracia e da emancipação do Brasil e de seu povo.

Esse estado de coisas, que acompanha a história desde os tempos coloniais (se é que terminaram), arrisca as conquistas de todos nós, sobretudo dos trabalhadores brasileiros. Isso tudo acaba por entronizar o falso e renitente discurso de uma elite insensível e colonizada, que cisma em menosprezar a capacidade e o direito do povo de afirmar o seu próprio destino. Essa elite, vale lembrar, é pequena diante da nação, mas cresceu muito graças à ainda tímida distribuição de riqueza que tanto critica sob a pecha do assistencialismo.

Não nos conformamos com essa gente que chama nossas mulheres e filhas de “vacas” e por “vagabundos” os miseráveis que não tiveram sua sorte e sobrevivem humildemente graças às políticas “assistencialistas”; essa gente que vive à base dos boatos se nulifica para, diante de nossos filhos, xingar raivosamente com a pior das palavras a dedicada presidente de nosso país e fazer feio diante do resto do mundo, e bate palmas para demagogos e farsalhões que usam a boa retórica macarthista para dizer que o Brasil será Cuba, como se a cachaça pudesse virar rum.

Pessoalmente tivemos, cada um de nós, cheios de esperanças e utopias, algumas decepções. Nossos pequenos projetos de políticas públicas, nossas contribuições cidadãs nas áreas a que nos dedicamos foram negligenciadas ou postergadas em detrimento do desenvolvimento da nação, graças à ação ainda perniciosa de forças econômicas rentistas que se desdobram nas antessalas brasilienses para desviar a ação pública e atuam nas suas instituições para minimizar o Estado e financeirizar cada partícula da vida dos brasileiros. E elas ainda querem “mudanças”!

Mas, com essas decepções, também testemunhamos a luta para reconstruir o Brasil, para governar e conviver com a autonomia do Judiciário e demais instituições cidadãs diante da descoberta pública da corrupção que, desde o Império e até muito recentemente era jogada para debaixo do tapete. Testemunhamos a luta para fortalecer o mercado interno e reenviar o Brasil para a superação do subdesenvolvimento econômico, social e político, para retirá-lo da dependência dos países centrais e envolve-lo com todo o resto do mundo.

As frustrações pessoais, que cuidamos de ponderar, e os erros, que devem ser reconhecidos, não nos movem a aceitar pretensas mudanças que não passam de demagogia e apontam para a piora do abismo que separa a elite do povo. Não aceitamos que o Estado brasileiro se subtraia! Não aceitamos que os serviços e as funções públicas essenciais sejam privatizados, partilhados em sesmarias, ao sabor das conveniências dos bolsos e dos compadrios. Não aceitamos que se decrete o fim da solidariedade. Não aceitamos que os mercados determinem as condutas e os sentimentos.

Repudiamos, sobretudo, os patifes que agridem, com mãos ou com palavras, as mulheres deste país!

. Por: Ernesto Tzirulnik e Walfrido Jorge Warde Junior, advogados em São Paulo.

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