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25/10/2014 - 07:00

No Dia do Dentista, uma reflexão sobre as dificuldades que os profissionais enfrentam no Brasil


Ser dentista no Brasil não é fácil. Eu sei e posso dizer porque também sou dentista. Quem exerce a profissão neste país não merece apenas receber os parabéns pelo seu dia, precisa receber também o título de herói. Quando digo isso, não me refiro aos que já enfrentaram assaltantes – alguns até dentro de seus próprios consultórios – mas sobre as muitas dificuldades inerentes à profissão, que começam antes mesmo do futuro dentista chegar ao mercado de trabalho.

Em primeiro lugar está a dificuldade de pagar uma faculdade que habilite o estudante a se tornar um profissional apto a atuar no mercado de trabalho. A odontologia é o segundo curso com as mensalidades mais caras do Brasil. Em média, o aluno desembolsa R$ 2.000,00 por mês, fora o gasto com equipamentos, que pode chegar a R$ 5.000,00 para uso nos últimos semestres da graduação.

Ainda assim, o futuro dentista não desiste do seu sonho profissional. A grande maioria dos que desejam ingressar na área arrumam um jeito de concluírem o curso, seja com recursos próprios ou com subsídios oferecidos pelo governo. Prova disso é o grande número de oportunidades oferecidas em faculdades de odontologia.

Segundo dados do banco Mundial, nos EUA, com população estimada em 320 milhões de pessoas, formam-se 4,8 mil dentistas por ano, em 73 faculdades de odontologia distribuídas naquele país. No Brasil, com economia bem menor que a americana, formam-se 12 mil dentistas em 203 instituições de ensino. Em ambas as situações, a diferença entre as duas nações é de quase três vezes, o que mostra a distorção da realidade do mercado que vivemos aqui.

Aqueles que conseguem pagar as mensalidades e concluir o curso começam a encarar a segunda grande dificuldade que a profissão apresenta, que é entrar no mercado de trabalho. O Brasil possui o maior número de dentistas do mundo, com aproximadamente 264,5 mil profissionais, segundo o Conselho Federal de Odontologia. Esse volume representa cerca de 20% de todos os dentistas existentes no planeta.

Essa procura impacta diretamente na média de atendimento por habitante, que no Brasil é de um especialista em saúde bucal para cada 737,2 pessoas, o dobro da sugerida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que entende que o ideal seria em torno de um profissional para cada 1.500 habitantes.

Para quem deseja trabalhar em Estados mais desenvolvidos – São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Rio grande do Sul, por exemplo - a luta é por espaço no mercado de trabalho. A concorrência é bastante acirrada, já que nessas regiões estão mais de 70% de todos os profissionais existentes no Brasil.

Por outro lado, quem vai à busca de trabalho em Estados com menor índice de desenvolvimento, tem um vasto mercado a explorar. Estima-se que existe, em média, um dentista para cada 1,8 mil pacientes em sete Estados do Norte e Nordeste - Acre, Amapá, Pará, Piauí, Bahia, Ceará e Maranhão.

Seria o paraíso, se a falta de recursos – seja para o dentista trabalhar, seja para o cidadão pagar pelo atendimento – não impedisse que a saúde bucal tivesse o tratamento adequado. Por coincidência, são nesses Estados que se concentram os piores índices do segmento no Brasil: apenas 3,8% das crianças com 5 anos estão livres de cáries; três em cada quatro idosos não possuem nenhum dente; e 2,5 milhões de adolescentes nunca foram ao dentista. Em outras palavras, trabalho não falta!

Por tudo isso, desejo um feliz Dia do Dentista para todos que sobreviveram a essas dificuldades e hoje atuam no mercado de trabalho; aos que lutam diariamente para conseguir sua graduação e são o futuro da nossa categoria; e aos que continuam acalentando o sonho de um dia poderem cuidar da saúde bucal de milhões de brasileiros, ainda carentes, apesar de todos os nossos esforços.

. Por: Dr. José Henrique de Oliveira, diretor de Operações e Credenciamento do INPAO Dental – CRO 50.636.

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