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15/01/2008 - 10:30

Resultados das primárias de Iowa: espumas na areia ou tsunami?

Os resultados de Iowa vão pautar a agenda da mídia e do debate eleitoral, pelo menos até as próximas primárias em New Hampshire. Esse fato é extremamente relevante para os dois vitoriosos, porque a exposição nos meios de comunicação, além de trazer visibilidade nacional, contribui significativamente para aumentar arrecadação de verbas para as suas respectivas campanhas. Todavia, não podemos superestima tais resultados.

Cabe ressaltar, no entanto, que a história aponta que nem sempre quem ganha em Iowa leva a indicação do partido ou a eleição presidencial. George Bush, em 1980, e o senador Bob Dole, em 1988, obtiveram grandes vitórias em Iowa, mas viram outros políticos os ultrapassarem na indicação do partido. Ronald Reagan, no primeiro caso, e George W. Bush, no segundo. O candidato Bill Clinton, por sua vez, quando concorreu à indicação do Partido Democrata pela primeira vez, se quer disputou essa primária, mas logo depois deu uma impressionante arrancada que o levou a Casa Branca por dois mandatos. Nunca devemos transformar o passado e a história em uma tabula rasa. Todavia, façamos algumas conjecturas e reflexões sobre Iowa.

A vitória de Mike Huckabee demonstra que o conservadorismo norte-americano não está morto. Pelo contrário, a “América Profunda” vive e no momento certo vai emergir das cinzas. Nesse contexto, o ex-governador do Arkansas e pastor evangélico tem como estratégia principal ocupar o espaço, por enquanto, vazio do eleitorado conservador cujo peso é decisivo nas campanhas presidenciais norte-americanas. Esses eleitores, na maioria das vezes silenciosos, devem estar muito preocupados com as perspectivas de êxito eleitoral dos Democratas, notadamente de um jovem senador negro bem falante e reformador (Obama) ou de uma mulher combativa e corajosa (Hillary) que têm como palavra de ordem a mudança. O candidato Huckabee é contra o aborto, o casamento de homossexuais, favorável a medidas duras contra os imigrantes ilegais e defensor intransigente da família. Posições que sempre polarizam as eleições norte-americanas e agradam à “América Profunda”.

O candidato democrata Barak Obama, por sua vez, tem como objetivo encarnar o desejo de mudança de parte do eleitorado dos Estados Unidos. Amplos segmentos da sociedade não querem ver uma nova gestão republicana. O senador por Illinois ganhou destaque nacional quando votou contra a invasão do Iraque. O político tem posições avançadas, tanto no âmbito da política doméstica como da política externa: apóia a união de casais gays, a universalização do sistema público de saúde e uma ação multilateral dos Estados Unidos na esfera do sistema internacional. Todavia, contraditoriamente, votou a favor do muro na fronteira entre os Estados Unidos e o México. São as idiossincrasias do liberalismo norte-americano.

Não está claro o tamanho do eleitorado conservador e do liberal nas próximas eleições. O tempo político, sempre fugaz e muitas vezes surpreendente, e o andamento da economia estadunidense, que sugere instabilidade e incertezas, serão as variáveis decisivas para determinar o resultado do pleito em novembro. A eleição será extremamente importante, pois, entre outros aspectos, apontará se a maior potência do planeta entrará em um ciclo de reformas e mudanças ou permanecerá na onda conservadora que ascendeu na Casa Branca com a polêmica vitória de George W. Bush sobre Al Gore.

Urge sublinhar que não é correto subestimar o potencial de crescimento da candidata democrata Hillary Clinton e do postulante à presidência dos Estados Unidos pelo Partido Republicano, Rudolph Giuliani, especialmente em grandes Estados como New York e Califórnia. Ambos são conhecidos nacionalmente e receberam pomposas contribuições financeiras em suas campanhas. Deverão crescer nas próximas primárias.

Em suma, os resultados de Iowa, que assinalaram a vitória do democrata Barack Obama e do republicano Mike Huckabee, são muito inconsistentes para apontar tendências e superficiais para indicar quais serão os vencedores ao final do longo processo que designará os candidatos à presidência da República pelos dois maiores partidos dos Estados Unidos. Todavia, pode-se afirmar que os dois políticos em questão representam a radicalização do discurso político: Obama à esquerda e Huckabee à direita. Caso ambos consolidem a liderança nas próximas primárias, poderemos assistir a um interessante debate entre extremos do espectro político-ideológico norte-americano. É muito cedo para tirar conclusões. Estamos, por enquanto, no estimulante campo das conjecturas e reflexões. Nessa senda, Iowa parece estar mais próxima da onda que chega à areia e vira espuma do que para um tsunami surpreendente e devastador.

. Por: Sidney Ferreira Leite é coordenador do curso de Relações Internacionais da Trevisan Escola de Negócios

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