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03/12/2014 - 08:44

Maria Lynch – Roda Viva


Artista carioca, em residência em Nova York, apresentará trabalhos inéditos na Roberto Alban Galeria.

A Ro­berto Alban Galeria apresenta a partir de 11 de dezembro, para convidados, e do dia seguinte para o público a exposição “Maria Lynch – Roda Viva”, com obras inéditas da artista carioca nascida em 1981, um dos nomes de destaque de sua geração. A mostra reúne 12 pinturas em grande formato feitas pela artista entre 2013 e este ano, e uma escultura de parede, em tinta e tecidos, produzida em 2014. Morando em Nova York desde 2013 para uma residência artística na Residence Unlimited, ela também tem exposição agendada na Store Front for Art and Architeture.

Os trabalhos apresentados na Ro­berto Alban Galeria são desenvolvimento de uma série iniciada no ano passado, com “mulheres ausentes, ou projeções de mulheres idealizadas, em meio ou em contradição com um mundo onírico e lúdico”, explica a artista. Ela conta que uma parte das obras foi produzida em Nova York, as pinturas com fundo preto, em que “também procurava essa ambiguidades da representação através das cores, e uma ausência completa de vestígios humanos, como se fosse a cena abandonada por alguém”. A exposição é acompanhada de um catálogo, com texto crítico de Mario Gioia, curador independente, formado pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.

Ele observa que “a produção de Maria Lynch é um corpo estranho na complexa tessitura da arte contemporânea brasileira, nesse começo de século 21, e isso é bom. Para a individual que fica em cartaz na Roberto Alban Galeria, em Salvador, a artista carioca parece desdobrar questões já rascunhadas na história da arte do país. Nessa linha, podemos eleger a percebida em ‘Baile à Fantasia’ (1913), de Rodolfo Chambelland (1879-1967), trabalho-chave da nossa modernidade, quando forma e conteúdo se unem de modo intrincado e salientam esse espírito de tempo (na época, virada do Novecentos para o século 20) que carrega, de modo mais latente ou explícito, a melancolia e o pessimismo. São sentimentos que irão denotar que, sim, o festejo carnavalesco retratado tem data para acabar. Mais o peso de uma Quarta-feira de Cinzas do que a embriaguez dos dias comemorativos. É como se as figuras esvaziadas e em branco das novas pinturas de Lynch fossem reedições contemporâneas desses antigos personagens, só que agora estrelando uma dança desritmada, em ambientes fragmentados, incompletos e não preenchíveis, mesmo que envoltas num colorido sedutor”.

O universo feminino é o tema central da pesquisa da artista, que comenta: “a partir do excesso em torno do feminino e do universo lúdico, extermino qualquer traço do mundo masculino, que é uma maneira de evidenciar sua presença perante tal ausência”. “A angústia e a ansiedade nunca são resolvidas, essas são as áreas onde o meu trabalho são instauradas, há uma repulsa à realidade. Recrio uma ficção, uma alegoria, um excesso junto a fragmentos do imaginário. O apagamento da identidade do feminino é mais que a vontade de não estar presente no mundo, e sim o de escondê-lo. Assim restituo um certo mundo, sublimando o real numa lógica particular. Abstrato e erótico, entre o gozo e a culpa, nesses paradoxos, vou encontrando liberdade para a imanência, para a celebração do delírio, da catarse onírica e a diferença imagética.”

Maria Lynch nasceu no Rio de Janeiro, Brasil, em 1981 onde vive e trabalha. Maria é formada pela Chelsea College of Art and Design, Londres, onde concluiu pós- graduação e mestrado em 2008. Entre suas principais exposições estão “The Jerwood Drawing Prize”, em 2008, com itinerância a partir de Londres para outras cidades da Inglaterra. No mesmo ano participou de “Nova Arte Nova”, no CCBB, Rio e São Paulo. Em 2010, ganhou o Prêmio Funarte de Artes Plásticas Marcantônio Vilaça, participou da exposição “Performance Presente Futuro Vol III”, Oi Futuro, RJ. Em 2011, integrou a 6º Bienal de Curitiba VentoSul, e em 2012 foi convidada para expor no Paço Imperial, Rio, e para a residência artística Bordalo Pinheiro, em Lisboa, Portugal. Foi também convidada para expor durante as Olimpíadas de Londres, 2012, no Barbican Centre. Em 2013 fez exposição individual na Galeria Anita Schwartz e foi convidada pelo Itamaraty a fazer residência em Lima.

Maria está presente em importantes coleções públicas como Museu de Arte Contemporânea de Niterói, Centro Cultural Candido Mendes, no Rio, Brasil, Coleção Gilberto Chateubriand, Brasil/MAM Rio, Ministério das Relações Exteriores, Palácio do Itamaraty, e Committee for Olympic Fine Arts, em Londres.

Ro­berto Alban Galeria - Fundada em 1989 no bairro da Graça em Salvador, a Ro­berto Alban Galeria funciona desde abril de 2013 em sua nova sede, em Ondina, em um espaço de 1.500 metros quadrados especialmente projetado pelo escritório de arquitetura Foguel, Reis e Sá para receber exposições de arte contemporânea, com um salão principal com pé-direito de oito metros de altura e terraço ao ar livre.

A Ro­berto Alban Galeria representa importantes nomes da arte contem­porânea brasileira como Alexandre Mury, Almandrade, Álvaro Seixas, Angelo Venosa, Betina Vaz Guimarães, Elizabeth Jobim, Gabriela Machado, Guilherme Dable, Gustavo Speridião, Josilton Tonm, Lara Viana, Liliane Dardot, Luiz Hermano, Marcelo Gandhi, Marcius Kaoru, Maria Lynch, Paulo Whitaker, Pedro David, Raul Mourão, Rodrigo Sassi, Rosa Bunchaft, Vinicius S.A e Willyams Martins.

Exposição “Maria Lynch – Roda viva” | Exposição: 12 de dezembro a 2014 a 12 de janeiro de 2015, de segunda a sexta, das 10h às 19h. Sábados, das 10h às 13h, na Roberto Alban Galeria de Arte, Rua Senta Pua 01, Ondina, Salvador, Bahia | Telefones: (71) 3243-3982 | 3326-5633 [www.robertoalbangaleria.com.br].

Mário Gioia: A Cor Pungente: “Uma figura em branco, a pontuar uma série de composições pictóricas de cromatismo intenso, demarca o mistério em meio ao exuberante, ao ostensivo. Faz par com a protagonista do vídeo Rastro, em que a personagem, sempre vista de costas, faz uma caminhada de volta para casa e, nesse trajeto, recolhe uma série de cacarecos estranhos, volumosos e coloridos, que vão ser incorporados às suas vestes, num procedimento que embaralha identidade e estranheza, alteridade e intimismo. E a cor preta que escorre pela superfície de outros quadros gera fricções e ruídos na configuração a priori festiva das telas, dando contornos menos otimistas às obras que chegam ao mundo.

A produção de Maria Lynch é um corpo estranho na complexa tessitura da arte contemporânea brasileira, nesse começo de século 21, e isso é bom. Para a individual que fica em cartaz na Roberto Alban Galeria, em Salvador(BA), a artista carioca parece desdobrar questões já rascunhadas na história da arte do país. Nessa linha, podemos eleger a percebida em Baile à Fantasia (1913), de Rodolfo Chambelland (1879-1967), trabalho-chave da nossa modernidade, quando forma e conteúdo se unem de modo intrincado e salientam esse espírito de tempo (na época, virada do Novecentos para o século 20) que carrega, de modo mais latente ou explícito, a melancolia e o pessimismo. São sentimentos que irão denotar que, sim, o festejo carnavalesco retratado tem data para acabar. Mais o peso de uma Quarta-Feira de Cinzas do que a embriaguez dos dias comemorativos.

É como se as figuras esvaziadas e em branco das novas pinturas de Lynch fossem reedições contemporâneas desses antigos personagens, só que agora estrelando uma dança desritmada, em ambientes fragmentados, incompletos e não preenchíveis, mesmo que envoltas num colorido sedutor. Os foliões de Chambelland e as mulheres de telas com títulos evocativos _ Vácuo, Pode Ser e Nem Tanto, por exemplo _ rimam angústia e euforia, isolamento e comunhão, engessamento e volatilidade.

Em termos formais, a pintura da artista carioca traz um dado livre e que não foge do experimental, algo que pode incomodar partidários de uma produção mais preciosista. O trânsito por uma zona movediça entre o figurativo e o abstrato e a destacada versatilidade de meios, já que Lynch assina com o mesmo apuro seus trabalhos pictóricos, tridimensionais, performativos e audiovisuais, ajuda a incluí-la num tipo de pintura expandida, tão vista em circuitos fora do Brasil e que, por aqui, por vezes não é muito compreendida ou analisada.

Assim, ecos de Peter Doig, Cecily Brown e outros nomes contemporâneos da linguagem ressoam na numerosa produção de Lynch, mas ela não deixa de frisar a própria poética em diferentes suportes. É possível relacionar, por exemplo, a grande instalação Ocupação Macia (2012), trabalho que a artista fez para o Paço Imperial, no Rio, e que se destacava pela obsessiva justaposição de brinquedos, bonecos e similares numa única sala, com pinturas recentes nas quais a tinta negra escorre, tal qual um elemento contaminante, mas que também serve de fundo e auxilia na composição final da peça. Essa materialidade dúbia é ressaltada, por exemplo, quando a artista deixa os traços do desenho na configuração final das telas, mesclando procedimentos de desenho e de pintura, no uso simultâneo do denso óleo e da leve acrílica e na escolha de escalas generosas, para que o observador realmente tenha um embate corporal com essas obras.

Lynch gosta de encarar a sua produção como uma grande colagem. Faz sentido, para uma realizadora cuja obra já foi descrita como “surrealismo tropicalista” _ palavras de Ligia Canongia, a respeito das peças tridimensionais da artista. Pois se o Dadá e o surrealismo pregavam a associação livre num momento pontuado pelas inovações sociotecnológicas e de outras ordens, o que reservar ao artista de hoje, num universo tão híbrido, multifacetado e de hipercirculação? O mashup de Maria Lynch nos coloca no centro desse turbilhão. E, nesse instante, estaremos embriagados ou serenos?”.

Mario Gioia é graduado pela ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo), coordena pelo quarto ano o projeto Zip'Up, na Zipper Galeria, destinado à exibição de novos artistas e projetos inéditos de curadoria. Em 2013, assinou por tal projeto as curadorias das individuais de Ivan Grilo, Layla Motta, Vítor Mizael, Myriam Zini e Camila Soato. No mesmo ano, fez as curadorias da coletiva Ao Sul, Paisagens (Bolsa de Arte de Porto Alegre) e das intervenções/ocupações de Rodolpho Parigi e Vanderlei Lopes na praça Victor Civita/Museu da Sustentabilidade, em SP. Foi repórter e redator de artes e arquitetura no caderno Ilustrada, no jornal Folha de S.Paulo, de 2005 a 2009, e atualmente colabora para diversos veículos, como a revista Select. É coautor de Roberto Mícoli (Bei Editora), Memória Virtual - Geraldo Marcolini (Editora Apicuri) e Bettina Vaz Guimarães (Dardo Editorial, ESP). Faz parte do grupo de críticos do Paço das Artes, instituição na qual fez o acompanhamento crítico de Black Market (2012), de Paulo Almeida, e A Riscar (2011), de Daniela Seixas. É crítico convidado do Programa de Fotografia 2012/2013 e do Programa de Exposições 2014 do CCSP (Centro Cultural São Paulo).

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