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24/01/2008 - 12:08

O acervo cultural brasileiro não está seguro

É fato que as duas obras - o retrato de “Suzanne Bloch”, de Picasso e o “Lavrador de Café”, de Portinari, furtadas do Museu de Arte de São Paulo (Masp), no dia 20 de dezembro, após terem sido encontradas na zona leste da cidade, levou a polícia a concluir que o furto foi feito sob encomenda, ou seja, trata-se de um crime mais organizado e, portanto, mais imprevisível e difícil de evitar. Tanto é que só os três bandidos receberiam R$ 5 milhões pelo serviço. Agora, a polícia está atrás do mentor do crime que, segundo o Deic, venderia as telas no exterior por pelos R$100 milhões o par.

O caso todo ainda não foi encerrado, apesar de a polícia já ter dado um bom andamento. No entanto, a estória chama a atenção para uma outra análise: como três assaltantes levaram em menos de três minutos obras tão importantes ao patrimônio e à cultura nacional? A resposta é simples. Falta segurança não apenas no MASP, mas, no geral, nos museus de todo o país. Fica ainda uma dúvida: estaria todo o acervo cultural brasileiro ameaçado por falta de segurança? Temo que a resposta seja sim.

No caso do Masp, de acordo com a cobertura da imprensa, foram as câmeras do circuito interno de TV que registraram o assalto, mas a polícia não confirma se os homens, que estavam encapuzados, utilizavam armas e se o alarme do museu foi disparado ou não. Durante o assalto, havia quatro vigias no edifício, um deles chegou ao local do crime depois de o mesmo já ter sido arrombado. Por fim, em nota à imprensa, o Masp salientou que ao longo de 60 anos de atividade nunca sofreu uma ocorrência como esta.

Deve ser porque muita coisa no mundo moderno mudou no decorrer de 60 anos e por isso uma instituição de tamanha importância deveria rever conceitos em termos de segurança, pois mesmo havendo alguns equipamentos eletrônicos e um grupo de vigias, o processo todo falhou porque, com certeza, haviam outras oportunidades para os bandidos praticarem o delito, as quais não foram reduzidas ou eliminadas somente com a aplicação de sistemas de segurança e vigilantes.

É preciso compreender que antes de qualquer implantação de sistemas de segurança é necessário um especialista fazer uma Análise de Riscos e propor medidas preventivas que englobam segurança física, tecnologia aplicada, procedimentos de segurança, treinamento e integração com pronta resposta e órgãos públicos. O ideal é que todo CFTV a ser instalado no Masp seja composto por câmeras IP e que tenham software de análise de comportamento, que programadas, detectam, por exemplo, a subtração de objetos e alertam, automaticamente, o vigilante, facilitando seu trabalho de monitoramento. Não podemos contar com uma possível falha humana ao observar várias imagens de câmeras em diversos monitores. Todo sistema de CFTV deve ter um back-up de gravação remota em outro local, além de ser integrado com sistema de alarme, incêndio, ar condicionado e controle de acesso.

Agora, não adianta investir em CFTV e não pensar na proteção dos vigilantes, por isso a sala de segurança deve ser controlada e monitorada à distância por uma central externa de alarme e de imagem para haver pronta-resposta da empresa de vigilância e da Polícia Militar.

De todo modo, será muito bom ter todo o caso do furto encerrado com sucesso, o que significa ter além dos quadros de volta intactos, ver os bandidos presos, mas essa será uma solução parcial. Nada mudará sem revisões drásticas em todo o aspecto de segurança do MASP.

O mesmo vale para os museus existentes em todo o país, pois com certeza há patrimônios de valores inestimáveis no Museu de Arte Sacra, no Museu do Ipiranga, mas também no Museu Nacional e de Arte Moderna do Rio de Janeiro, no Museu Antropológico do Rio Grande do Sul, no Museu Paraense Emilio Goeldi e em todo o Brasil.

Enquanto essa medida não deixar o papel para se tornar realidade, todo o acervo cultural brasileiro corre perigo e fica a mercê do crime organizado. O mesmo vale para os novos museus que o Brasil venha inaugurar. Nesses casos, no mínimo, a análise do quesito segurança deve ser feita no desenho, ainda durante o projeto arquitetônico, pois não há investimento que supere o valor da cultura de uma nação.

. Por: David Fernandes, CPP, é diretor da Previne Security, empresa especializada em consultoria em segurança e sistemas integrados. É diretor do 1° Portal do Gestor de Segurança Acadêmico. No Brasil, é o 31º brasileiro a receber o CPP - Certified Protection Professional, maior certificação internacional em segurança e que representa uma medida objetiva do conhecimento e competência de um profissional na área de gestão de segurança empresarial. Em todo o mundo é o maior reconhecimento aos profissionais da área. Também é Diretor de Assuntos de Prevenção do Conseg Água Fria / Mandaqui / Tremembé.

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