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17/03/2015 - 09:17

Política Externa sem rumo

Neste início de março, os esforços empreendidos entre o Estado Colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) em busca de um acordo de paz alcançaram um avanço significativo, pois se chegou a um entendimento pela retirada conjunta das minas terrestres.

Há dois anos, os dois lados negociam a paz em Havana, com sinal verde dos Estados Unidos. Segundo a Central de Inteligência norte-americana (CIA) é impossível qualquer dos lados vencer o conflito havendo, portanto, um empate estratégico que somente poderá ser resolvido com o encerramento da guerra que já dura 50 anos, deixando centenas de milhares de mortos e milhões de pessoas deslocadas de seus lares.

O processo de paz está sendo acompanhado pelo Chile e Noruega, ficando com este último país a responsabilidade de monitorar o acordo para a retirada das minas. O grande ausente nessa negociação é o Brasil, que teoricamente é considerado uma potência regional.

O papel de uma potência regional é fundamentalmente a de manter a paz na região em que exerce influência. É essa expectativa que têm as demais nações e organizações do mundo todo. No entanto o governo brasileiro tem falhado ao não exercer esse papel. O Brasil não exerce qualquer protagonismo no processo de paz colombiano e se mantém distante dos acontecimentos na Venezuela, que se encaminham para um conflito interno de extrema gravidade.

Enquanto o Brasil adota uma posição dúbia em relação aos Estados Unidos, a China tem procurado fortalecer sua presença na América Latina empenhando cerca de US$ 250 bilhões em investimentos na região nos próximos cinco anos.

Não houve manifestação diante da situação dos presos de Guantánamo, como fez o Uruguai num gesto de solidariedade humanitária reconhecido em todo mundo. A Argentina assina um acordo atrás do outro com a China, aumentando sua dependência com o país asiático, ignorando o Brasil e prejudicando vários setores de nossa economia.

O Mercosul, que deveria ter como carro chefe o Brasil, no entanto, não avança e se torna cada vez mais inexpressivo como bloco econômico, com acordos constantemente questionados. Sem mostrar progresso nas áreas política, social e ambiental. A agenda para o Desenvolvimento Sustentável no Mercosul é inexpressiva.

O Itamaraty ao longo de sua história sempre se pautou por defender uma política de Estado, colocando em muitos momentos o nosso país entre os mais ativos em termos de política internacional, com posições que atravessavam vários governos e nos mantinha como árbitros em diversas questões envolvendo os nossos vizinhos. No entanto, o que se vê atualmente é o Itamaraty à sombra do governo, com dificuldades de implementar diretrizes que deveriam ter continuidade nos próximos anos, quaisquer que sejam os governantes.

A atual política externa não é só dúbia, mas omissa, e a participação internacional que se destaca se deve muito mais à atuação de setores e personalidades influentes do que resultado de uma política consequente e planejada.

A posição brasileira (ou a falta dela) nas recentes crises da Líbia, do Egito, da Síria, Iraque, França (Charles Hebdo) são, no mínimo, de omissão, não passam de declarações para o público interno, sem nenhuma repercussão internacional. Ações concretas, quase inexistentes.

O que se espera da política brasileira na América do Sul é a contribuição efetiva nos acontecimentos e nos processos de manutenção da paz nos países vizinhos. Uma atuação que sirva para aumentar o grau de cooperação entre as nações latino-americanas no combate ao crime organizado, ao narcotráfico e adoção de políticas ambientais comuns. Em suma espera-se protagonismo e não meramente o papel de espectador. Isso é ser potencia regional.

. Por: Reinaldo Dias, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas, mestre em Ciência Política e doutor em Ciências Sociais pela Unicamp. | A Universidade Presbiteriana Mackenzie está entre as 100 melhores instituições de ensino da América Latina, segunda a pesquisa QS Quacquarelli Symonds University Rankings, uma organização internacional de pesquisa educacional, que avalia o desempenho de instituições de ensino médio, superior e pós-graduação.

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