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14/04/2015 - 08:16

Os desafios presentes nas práticas contemporâneas de intervenção ao patrimônio urbano

A preservação e as intervenções nos bens culturais, compreendidos como patrimônios situados em centros históricos, têm sido um dos assuntos mais debatidos na atualidade, entre outras razões pelo procedimento insistente em convertê-los em produtos culturais para a atividade turística. O cerne dessa discussão é a desconsideração dos valores histórico e estético do patrimônio edificado frente à primazia da imagem do cenário urbano com o intuito principal de alavancar o número de visitantes e consequentemente aumentar o consumo interno de uma determinada localidade.

Entende-se que o consumo é um fenômeno histórico e cultural e sua prática é favorável e necessária à economia de uma determinada sociedade. No entanto, o que vem sendo alvo de debates no campo da preservação do patrimônio cultural edificado, são os projetos urbanos pautados em um modelo estratégico de intervenção que transforma os bens culturais em produtos mercadológicos. Esse modelo está inserido em uma lógica contemporânea de comercialização dos bens culturais edificados, principalmente dos centros históricos de pequenas cidades, cuja finalidade essencial dos órgãos públicos locais é valer-se desses bens para difundir o turismo local. Dessa maneira, para promover as cidades como destinos turísticos, são cometidos equívocos que resultam em bens culturais uniformizados em favorecimento da construção de uma cenografia estimulante aos olhos dos visitantes desses centros históricos.

Dentro desse contexto, nota-se que cada vez mais se faz necessário recuperar a razão original que conferiu os ideais de preservação do patrimônio histórico, embasados em seus valores histórico e artístico, na medida em que essas ações despersonalizantes do bem edificado têm colocado em risco a função primordial desse patrimônio que transcende a mera preservação material de uma edificação antiga. Os bens culturais edificados devem ser conservados para garantir o respeito por seu significado histórico e artístico, além de manter a memória e a identidade de uma sociedade como legados de reflexão às futuras gerações.

O reconhecimento dos significados e representações dos bens culturais não é tão simples quando se trata de projetos de intervenção em espaços públicos, principalmente em centros que são tidos como históricos, que atualmente apresentam maior complexidade, devido a gama de fatores que interferem na preservação do bem cultural. Como adequar o bem cultural aos novos usos garantindo a manutenção da autenticidade do bem edificado? Como manter a memória e a identidade local sem criar conflitos com os interesses individuais? São questões que, entre outras, levam a uma reflexão crítica sobre o modelo de gestão patrimonial contemporâneo, em que as especificidades culturais locais deixam de ser analisadas e valorizadas.

Esses conflitos, entre os interesses privados e os públicos existem devido ao fato de as decisões e discussões referentes aos bens culturais estarem restritas a um pequeno grupo que, na maioria das vezes, não detêm os fundamentos necessários acerca do patrimônio histórico e que tendem a se acentuar, se não houver maior difusão e aprofundamento acerca dos conceitos e motivos ligados à preservação do patrimônio.

. Por: Angela Arena, coordenadora dos Cursos de Letras e Turismo da Faculdade Anhanguera de São Caetano e mestre em Arquitetura e Urbanismo com ênfase nos estudos sobre a cidade, suas arquiteturas e objetos, em suas representações coletivas e individuais.

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