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24/04/2015 - 08:43

Parábola do swell

Um dia qualquer, em uma semana qualquer, ele ficou sabendo do swell que estava para entrar. Pegou sua prancha, que não era das melhores, até porque, afinal, bons instrumentos não fazem bons instrumentistas, e foi em direção ao mar.

Remou até atravessar a arrebentação e lá ficou somente ele, aquele mar e mais ninguém. A primeira onda chegou e era perfeita em tamanho, velocidade e intensidade, dava inveja a qualquer onda do Havaí. E lá se foi na tentativa de “dropá-la” e começar os trabalhos. Não teve muita sorte, pois no primeiro drop tomou uma “vaca” e como só surfava sem leash, acabou perdendo o que tinha de mais importante: o tempo. Nadou até o raso para poder buscar sua prancha e, como a distância era muito grande, decidiu tentar de novo outro dia.

No dia seguinte a praia estava mais cheia. Tinha surfista de todo tipo, desde os aventureiros, marinheiros de primeira viagem, até os profissionais que faziam daquilo a razão da sua existência. Estes últimos não estavam lá para brincar, isso era mera consequência. Ele observou, jogou sua prancha no mar e mais uma vez cruzou a arrebentação para poder surfar sua onda.

Temperatura ideal, um pouco mais de vento, um pouco mais de gente e um pouco mais difícil também, pois a lua estava mudando e aquelas ondas estariam, talvez, indo para outra praia. A série estava chegando e ele foi remando o mais forte que conseguia e o drop aconteceu, porém, mais uma vez, perdeu a prancha, pois continuava sem leash e, para completar, a prancha quebrou ao meio, o que o obrigou, mais uma vez, a voltar pra casa. Definitivamente aquele dia não foi um dos seus melhores.

Assim foram passando os dias e as semanas, até que aquela praia, deserta até então, apareceu em um programa qualquer de TV e virou a sensação da temporada. Virou um crowd e parecia impossível surfar por lá. Ele chegou pronto, estava de prancha nova “shapeada” pelo melhor designer de pranchas que já havia aparecido, estava com a melhor roupa de neoprene, até um leash ele conseguiu, mas o mar estava cheio demais. Fez o sinal da cruz?—?coisa que nunca havia feito antes?—?e entrou no mar. Remou bastante para cruzar a arrebentação e lá ficou. Chegou de manhã bem cedo, mas parecia que não havia sido o suficiente. Esperou quase o dia todo e pegou poucas ondas, mas muito diferente daquela primeira, quando a praia era só dele, agora tinha que dividir o mesmo mar virado, pela troca de lua, com um monte de hauli que nem sabiam porque estavam por ali.

Assim é o tempo das oportunidades e das ideias novas e, para que sejam aproveitadas, é preciso saber a hora e quando entrar no mar. Um bom surfista sabe das condições das ondas muito antes de sair na previsão do tempo da TV aberta, ele nasceu para isso. As ondas nasceram para ele e não o contrário. Já o surfista que só entra no mar quando a praia está o maior crowd, este surfa ondas gordas ou pura espuma e, ao final do dia, conta vantagem de migalhas, porque para ele o que importa é estar lá. Já para o primeiro, o que importa é todo o processo que acontece muito antes do swell chegar, pois, quando isso acontecer, ele terá domínio pleno do que fazer, independente da ferramenta, porque domina a linguagem da natureza.

Nos negócios acontece o mesmo: você pode ser o melhor empreendedor do mundo, mas, se não entender o que o mercado está te dizendo nas entrelinhas, você perderá a oportunidade única de surfar as melhores ondas sem o perrengue de ter que dividi-las com um surfista “prego”.

. Por: Igor Baliberdin, responsável pela direção da criação de projetos de design multiplataforma e thinking da Kanamobi. Com 15 anos de experiência em design e interatividade, deseja torna-los acessível a todos.

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