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30/04/2015 - 08:25

Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem promoverá 2.500 testes no Brasil em 2015

Brasília (DF)—Os Jogos Rio 2016 já foram responsáveis, muito antes do início da cerimônia de abertura (em 5 de agosto do próximo ano), por enormes avanços no esporte brasileiro. A Bolsa Pódio, instituída pela lei nº 12.395, de 16 de março de 2011; os diversos centros de treinamento que já foram ou estão sendo erguidos em vários estados, todos equipados com aparelhos de última geração; as instalações de primeira linha que abrigarão as competições na capital fluminense e o intercâmbio de atletas – que hoje treinam fora do país em várias modalidades – são alguns exemplos dos efeitos positivos que o maior evento esportivo do planeta já trouxe para o país.

Mas quando o assunto é a luta antidopagem, os Jogos Rio 2016 vão inaugurar, em 2015, uma nova era no Brasil. Na terça-feira (28.04), em audiência pública realizada na Câmara dos Deputados, em Brasília, cujo requerimento foi de iniciativa do deputado Arnaldo Jordy (PPS/PA), o secretário nacional para a Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD), Marco Aurelio Klein, anunciou que, neste ano, 2.500 testes antidopagem estão previstos. O controle será realizado com atletas de todas as modalidades que terão provas nos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016.

O número representa o triplo da quantidade de testes promovidos em todo o país em 2013, quando foram analisadas 857 amostras, excluindo-se do total os testes realizados no futebol, modalidade com maior eficiência no controle antidoping no Brasil. Os números de 2014 ainda não foram revelados, mas a ABCD imagina que deverão ficar no mesmo patamar de 2013.

Esse salto na quantidade se deve a um fator em especial: “Agora existe um plano de distribuição de testes cujo custeio total fica a cargo da ABCD”, resume Marco Aurelio Klein. Historicamente, devido ao alto custo das análises e das etapas envolvidas na cadeia de custódia exigida nos testes antidopagem – pagamento de profissionais qualificados, uso de kits especiais para coleta de material, despesas com passagens e outros –, muitas confederações e federações esportivas no Brasil não têm como arcar com a implantação dos testes de forma sistemática. Assim, o controle antidopagem, em muitos casos, tornou-se a exceção e não a regra.

Essa realidade é comprovada por números. Um censo realizado pela ABCD em 2013 com 4.995 contemplados pelo programa Bolsa-Atleta revelou que, do total, entre 83% e 90% nunca passaram por qualquer controle antidopagem no Brasil.

Entretanto, com a criação da ABCD, em operação desde janeiro de 2014, o custeio dos testes antidopagem no país passa, agora, a contar com recursos do governo federal. E isso representa uma verdadeira quebra de paradigma no esporte brasileiro.

Além disso, as ações antidopagem promovidas pela ABCD contarão, em breve, com um outro aliado importantíssimo: O Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem (LBCD). Antigo Ladetec, o LBCD perdeu sua acreditação junto a Agência Mundial Antidopagem (AMA ou Wada na sigla em inglês) em 2013 e deverá ser reacreditado no dia 13 de maio pela Wada em anúncio a ser feito durante um evento em Montreal, no Canadá.

Com o LBCD – localizado no polo de química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – reacreditado pela Wada, os custos dos testes antidopagem serão menores para a ABCD, que não precisará enviar as amostras para serem analisadas em outros países.

Revolução —Para o português Luis Horta, especialista em assuntos antidopagem e consultor da Unesco para a ABCD, 2015 será um ano histórico para o esporte brasileiro. “Sem dúvida, a realização de 2.500 testes no país neste ano representa uma revolução”, afirma. “Principalmente porque cerca de 50% dos testes serão realizados fora de competição, o que hoje praticamente não acontece no Brasil”, prossegue.

Marco Aurelio Klein vai mais longe: “Não se trata apenas de ampliar os testes e realizá-los fora de competição. Nós vamos seguir o padrão de análise estabelecido pela Wada, que diz como os testes devem ser feitos”, ressalta. Isso significa que as análises serão orientadas para detectar as substâncias específicas que mais são usadas pelos atletas de determinados esportes. Um exemplo é o EPO (hormônio eritropoetina).

Em 2013, apenas 22 testes para detecção de EPO foram realizados no Brasil: dois no atletismo, 16 no ciclismo e quatro no futebol. Esse número, segundo a ABCD, deveria ser superior a 300. “Agora, para o ciclismo de estrada e maratona, por exemplo, 60% dos testes que vamos realizar serão voltados para identificação de EPO”, destaca Marco Aurelio Klein.

“Muitos dos testes serão feitos para identificação de hormônio de crescimento, o que também é raro no Brasil. Além disso, vamos fazer análises sanguíneas, para implantar o passaporte biológico, o que nunca foi feito no país”, complementa Luis Horta.

Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem —Professor emérito do Instituto de Química da UFRJ e responsável pelo LBCD, Francisco Radler de Aquino Neto também compareceu à audiência pública na Câmara dos Deputados.

Segundo ele, o LBCD, ao contrário do que ocorreu após os Jogos de Londres 2012 – quando o laboratório montado para fazer as análises durante o evento na Inglaterra foi completamente desmontado após o evento –, haverá um enorme legado para a ciência brasileira após os Jogos Rio 2016.

Radler explicou que, em geral, os 32 laboratórios atualmente acreditados pela Wada no mundo têm 10 dias para entregar os resultados das análises de amostras colhidas em testes antidopagem. Nos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos esse prazo é reduzido para 24 horas. Assim, devido ao volume de trabalho (serão cerca de cinco mil testes durante os Jogos Olímpicos), a necessidade de equipamentos aumenta em cerca de 10 vezes durante os Jogos.

“Para as Olimpíadas e as Paraolimpíadas, 95% dos equipamentos já foram adquiridos e estão em fase de montagem”, explica. “Após os Jogos, o excedente, ou seja, o que não for necessário para a operação normal do LBCD, passará por um processo de distribuição e esses equipamentos irão para universidades e centros de pesquisa brasileiros. Haverá um aproveitamento de 100% do legado”, ressalta.

O especialista explicou, ainda, que além do avanço tecnológico, os Jogos Rio 2016 trarão uma enorme contribuição por meio das parcerias que foram fechadas com seis laboratórios – Londres, Colônia, Sydney, Moscou, Seibersdorf e Ghent –, que ajudarão no treinamento dos profissionais brasileiros.

Corridas de rua e anabolizantes—Durante a audiência pública, a ABCD ressaltou que a luta antidopagem no Brasil não se restringirá aos esportes olímpicos e paraolímpicos que terão disputas nos Jogos Rio 2016. Para Marco Aurelio Klein, é preciso combater outro problema muito sério e que ainda é muito pouco discutido no país: o uso indiscriminado de anabolizantes nas academias.

Para o secretário da ABCD, essa é uma questão que extrapola a esfera esportiva. “Trata-se de um assunto de saúde pública. O perigo do uso indevido dessas substâncias é enorme”, alerta.

Klein também atentou que é preciso intensificar a fiscalização nas corridas de rua, cuja popularidade explodiu no país nos últimos anos. Segundo o representante da ABCD, muitas dessas provas – realizadas praticamente todos os fins de semana em alguma grande cidade brasileira – contam com patrocínio de empresas públicas e distribuem premiações em dinheiro. Assim, costumam atrair corredores africanos, que competem em busca desses prêmios. Assim, em 2015 a ABCD promoverá testes em eventos dessa natureza com os atletas de elite.

Movimentação no Congresso—Após as apresentações realizadas por Marco Aurelio Klein e Francisco Radler na audiência pública, os deputados Arnaldo Jordy e João Derly (PCdoB/RS) ressaltaram que é preciso que o assunto antidopagem seja discutido de forma mais eficiente pelo Congresso Nacional.

Segundo os dois, a audiência pública foi importante para balizar algumas ações que podem ser adotadas. Entre elas está a discussão sobre a possibilidade de fazer com que a dopagem possa ter reflexos, além do campo esportivo, no ordenamento penal. Além disso, segundo os parlamentares, é preciso criar mecanismos para que as federações e confederações possam ampliar a cultura de testes antidopagem do país e discutir meios de frear o uso indiscriminado de anabolizantes nas academias. | Luiz Roberto Magalhes.

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