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30/05/2015 - 08:08

A Mulher, a Saúde e a Medicina Nuclear

“Conhece-te a ti mesmo”, Sócrates.

Joana veio do Acre visitar os parentes. Queixou-se de um caroço no seio. Consultou um médico e em pouco tempo descobriu que teria que fazer uma cirurgia para tratar um câncer. Maria mora desde que nasceu em Santa Teresa, Rio de Janeiro, começou a ter dores no peito como se fosse um aperto quando sobe as escadarias para a sua casa. Júlia vive em Niterói, também Rio de Janeiro, e tem se queixado de emagrecimento, tremores nas mãos e de muito calor, mesmo descontando o verão. O que estas mulheres têm em comum? Qual é o ponto de união nas suas histórias? Todas vão realizar exames e tratamentos de medicina nuclear que serão decisivos para o restabelecimento da sua saúde.

A Medicina Nuclear é uma especialidade médica que utiliza pequenas doses de substâncias radioativas para realizar exames diagnósticos, as cintilografias e exames de tomografia por emissão pósitrons, ou para tratamentos.

No Brasil existem 434 serviços de medicina nuclear espalhados por todos os estados que realizam mais de dois milhões de procedimentos a cada ano. A formação de um médico nuclear normalmente requer uma residência com duração de três anos e após esta formação o profissional realiza uma prova para obtenção do título de especialista em medicina nuclear.

A medicina nuclear é muito segura e é empregada desde recém-nascidos até idosos. Homens e mulheres diariamente adentram os serviços de medicina nuclear de todo o Brasil para realizar os mais de 140 tipos diferentes de procedimentos que são oferecidos à nossa população. Vamos entender como a medicina nuclear pode ajudar cada uma das mulheres que falamos acima.

Joana tem câncer de mama e seu médico pode solicitar uma avaliação do seus ossos por meio da cintilografia óssea, que é um exame muito sensível para detecção precoce de alterações ósseas em pacientes com câncer.

A cada dia centenas de pessoas em todo o Brasil fazem cintilografias ósseas sendo que o DATASUS aponta que mais de 100 mil pessoas realizaram este exame pelo SUS em 2014. Uma das mais importantes aplicações da medicina nuclear para as pacientes com câncer de mama é para ofertar a possibilidade de uma cirurgia menos agressiva através da pesquisa do linfonodo sentinela. A injeção de uma pequena dose de material radioativo antes da cirurgia permite a localização dos gânglios que drenam a linfa da mama em primeiro lugar e com a análise microscópica deste gânglio o cirurgião pode optar por uma cirurgia mais conservadora reduzindo as complicações pós-operatórias. Este procedimento é indicado para os casos menos avançados do câncer e sempre devemos destacar a importância da detecção precoce através do exame das mamas e das mamografias. Finalmente, nos casos em que a paciente foi operada do câncer e em que haja dúvidas de uma recidiva ou em uma lesão suspeita de metástase um dos exames que o médico pode lançar mão é a tomografia por emissão de pósitrons (PET CT).

Neste caso o uso da molécula de glicose marcada com um átomo de flúor radioativo permite uma detecção de áreas de aumento do consumo de glicose que podem corresponder ao tecido tumoral. Este é um procedimento chave para muitos tipos de cânceres devido à sensibilidade elevada do exame em relação aos outros exames convencionais como tomografia computadorizada e ressonância magnética. Hoje no Brasil mais de 100 equipamentos de PET CT estão em atividade, sendo esta uma das áreas da Medicina Nuclear que mais se desenvolve com vários centros de pesquisa no Brasil pesquisando novas aplicações e novos isótopos radioativos para auxiliar no diagnóstico das mais diversas condições clínicas.

Maria tem uma condição chamada de angina de peito. A palavra angina deriva de um termo grego que significa estrangular, apertar, e é isso mesmo que muitas pessoas se queixam para os seus médicos. Este aperto na região do peito associado a esforços ou emoções é pode corresponder à redução na circulação de sangue nas artérias do coração, um fenômeno conhecido isquemia do coração, que na sua forma mais grave é a causadora do infarto do miocárdio. As doenças do aparelho circulatório são a principal causa de morte no Brasil, responsáveis por uma em cada três mortes, atingindo pessoas em todas as camadas socioeconômicas e, especialmente, aqueles pertencentes a grupos vulneráveis, como os idosos e os de baixa escolaridade e renda.

As mulheres também têm como principal causa de morte as doenças do coração, sendo que o infarto é uma das mais frequentes. Estatísticas apontam que o risco de uma mulher morrer de câncer de mama é de 2% enquanto que o risco de morrer de infarto é de 30%., sendo que a mortalidade do infarto é maior que nos homens. No caso de Maria, o seu médico pode solicitar uma cintilografia miocárdica. Este exame é utilizado para a detecção de problemas na circulação de sangue no coração que predispõem ao infarto, avaliando o fluxo de sangue. Este exame é realizado especialmente para pessoas que não têm como realizar um teste de esforço simples ou que tenham uma probabilidade de ter doença cardíaca elevada que requerem avaliações mais minuciosas do coração. Em muitos casos a cintilografia do miocárdio é realizada para decidir sobre a necessidade de procedimentos invasivos como cirurgias de ponte de safena e desobstruções das artérias do coração com cateteres, as angioplastias. Este é o de medicina nuclear mais realizado no Brasil, sendo que em 2014 foram realizadas mais de 200 mil cintilografias pelo SUS, sendo que um número considerável em mulheres. Estatísticas internacionais apontam que o uso desta técnica é favorável para a saúde da população e auxilia o uso racional dos recursos da saúde. Não devemos esquecer que as medidas mais importantes para a prevenção das doenças cardiovasculares são controlar a pressão arterial, tratar o diabetes, evitar excesso de sal e gordura, não fumar, evitar a obesidade, realizar atividades físicas regulares e, na medida do possível, evitar o estresse emocional intenso.

Finalmente o caso de Júlia é ilustrativo de uma condição de funcionamento exagerado da glândula tireoide, o hipertoreoidismo, em que há produção exagerada dos hormônios que controlam o metabolismo do corpo. As doenças da tireoide são três a oito vezes mais comuns nas mulheres do que nos homens. Ministério da Saúde e a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) têm dados de que cerca de 10% das mulheres acima de 40 anos e 20% das que têm mais de 60 manifestam algum problema da tireóide no Brasil.

A Medicina Nuclear é essencial na diferenciação de uma doença que afeta a tireóide difusamente de uma doença localizada que leve a produção do excesso de hormônios. A cintilografia de tireoide é realizada com iodo radioativo, produzido no Brasil pela Comissão Nacional de Energia Nuclear, este material permite avaliar detalhadamente o funcionamento da glândula. Uma das grandes aplicações da medicina nuclear é quando o tratamento medicamentoso se revela ineficaz ou com efeitos colaterais, ou mesmo quando o médico opta inicialmente por uma abordagem mais definitiva, em que empregamos um tipo de iodo radioativo que emite radiações betas (de alta energia) capazes de destruir especificamente as células tireoidianas hiperfuncionantes, evitando a necessidade de uma cirurgia e conduzindo ao controle dos níveis dos hormônios da tireóide. Outra importante aplicação da terapia com iodo radioativo é no tratamento do câncer da tireoide, também condição muito mais frequente nas mulheres que nos homens.

A Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear atua há mais de 50 anos qualificando profissionais para trabalharem na área, integrando-se nas diversas linhas de atenção definidas pelo Ministério da Saúde, para beneficiar homens e mulheres com exames e tratamentos individualizados para as mais diversas condições. Através da difusão destes conhecimentos poderemos ampliar o espectro de pessoas beneficiadas e contribuir para uma sociedade mais equânime e com mais saúde.

. Por: Prof. Dr. Claudio Tinoco Mesquita, Médico Nuclear e Presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN), Coordenador da Pós-graduação em Ciências Cardiovasculares da Universidade Federal Fluminense.

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