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18/06/2015 - 09:09

Facadas vêm de cima

A sequência de assaltos com o uso de facas no Rio de Janeiro despertou a indignação de todos, afinal, o crime com arma branca nos parecia algo do passado. Pois não é. Esses delitos não só sempre existiram, sendo até bastante comum (em 2014 foram mais de dois mil casos de mortes ou ferimentos causados por arma branca no Estado), como também, numa análise mais sociológica, têm um simbolismo maior, que é a violência que vem de cima para baixo. Os golpes cortantes que mais dilaceram a nossa sociedade são os da indiferença e total desequilíbrio social.

Deixando a hipocrisia de lado, o Brasil, que há pelo menos 40 anos se dizia o país do futuro, pouco avançou no que diz respeito à distribuição de renda, ao combate à pobreza e à miséria. A mentalidade daqueles que estão no comando, com maior poder aquisitivo, também pouco evoluiu. A visão capitalista e o culto ao consumo são maiores do que a tal chamada consciência e responsabilidade social. O desprezo pelos pobres ainda é uma realidade.

Cada escândalo de corrupção nas mais variadas autarquias, órgãos públicos ou estatais, cada conchavo entre poder público e iniciativa privada, tudo isso representa uma facada cruel no povo brasileiro. A classe trabalhadora, que é a camada mais representativa dessa nação, se sente como uma peneira, ou seja, toda furada pelas falcatruas e desvio do dinheiro público que lhe tiram a possibilidade de viver com dignidade.

Cada real desviado, a compra superfaturada, a propina negociada e tantas outras fraudes impactam na falta de estrutura na educação e na saúde de qualidade. Causam sofrimento exposto na fila de um hospital, no índice de desemprego, no déficit habitacional. Em cada segmento desses, o golpe, literalmente, corta do povo a esperança e a autoestima.

O desarquivamento do projeto de Lei 2.967, que prevê a mudança na Lei do Desarmamento para incluir como ilegal o porte de arma branca em via pública, se apresenta como a solução para frear essa “onda” de violência, mas não resolverá o problema. Uma coisa é o estatuto do desarmamento que, em verdade, deixou vulnerável o cidadão de bem. Mas outra coisa é a estrutura social caótica do nosso país.

E todos sabem disso. O acesso à informação é ilimitado e mesmo os que vivem à margem da sociedade percebem não só o quanto são agredidos, mas também as brechas que o próprio Poder Público cria para o infrator, mostrando que as facadas, às vezes, também saem pela culatra.

Enfim, as facas desse país só não cortam a ganância dos que estão no poder.

. Por: Marcos Espínola, advogado criminalista.

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