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23/06/2015 - 05:31

Riscos à saúde pela exposição ocupacional crônica ao benzeno

Pesquisa do Departamento de Química do CTC/PUC-Rio, em parceria com o Laboratório de Toxicologia da UFRGS, aponta riscos à saúde pela exposição ocupacional crônica ao benzeno. A substância tóxica e cancerígena, encontrada na gasolina e no cigarro, afeta diretamente o sistema imunológico.

Uma pesquisa inédita, resultante da cooperação entre o Departamento de Química do Centro Técnico Científico da PUC-Rio (CTC/PUC-Rio) e o Laboratório de Toxicologia (LATOX) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), analisou os efeitos da exposição ao benzeno, substância encontrada na gasolina e no cigarro. Resultado da destilação do carvão e do petróleo, o benzeno pode ser encontrado ainda em processos industriais de petroquímicas e siderúrgicas, comprometendo a segurança e a saúde de muitos trabalhadores. As cientistas Profª Drª Adriana Gioda, do CTC/PUC-Rio, e Profª Drª Solange Garcia, do LATOX/UFRGS, coletaram amostras do ar e biológicas de frentistas de postos de gasolina do Rio Grande do Sul para esta análise. Os resultados confirmaram que, mesmo os níveis de benzeno sendo considerados baixos e em ambiente aberto, alterações moleculares e imunológicas foram encontradas como resultantes do contato crônico com o composto.

Sabe-se que o benzeno é classificado pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer como cancerígeno Grupo 1, o nível mais elevado. Sendo uma substância reconhecidamente cancerígena, significa que não há limite seguro para sua exposição. Entretanto, os dados inéditos da pesquisa de cooperação demonstram resultados que merecem atenção.

Para a análise, foram coletadas amostras de 88 homens, sendo 60 frentistas de postos de combustíveis, organizados em fumantes (44) e não fumantes (16) e outras de 28 homens (não frentistas), identificados como "Grupo de Controle": sem qualquer histórico de exposição ocupacional ao benzeno e/ou ao cigarro.

Cada participante respondeu a um questionário com dados genéricos sobre saúde e estilo de vida. Nos frentistas, foram colocados amostradores próximos à região do nariz para estimar a concentração de benzeno respirado durante as oito horas de trabalho. Todos os participantes disponibilizaram suas amostras biológicas: urina, células da mucosa bucal e sangue, que foram armazenadas e analisadas.

"Após a etapa de coleta, iniciamos um processo comparativo de resultados. O objetivo era observar as atividades de enzimas, inibição ou produção de proteínas e alterações no DNA decorrentes do contato crônico e ocupacional com o benzeno", afirmam as pesquisadoras. Uma análise de variância, seguida de testes de comparações múltiplas, apontou níveis mais elevados de exposição dos frentistas em relação ao Grupo de Controle, enquanto os trabalhadores fumantes apresentaram um índice ligeiramente maior do que os não fumantes. Os resultados demonstraram, entre os frentistas, diminuição de leucócitos (células brancas), especialmente dos neutrófilos, responsáveis pela defesa do organismo.

A concentração média do biomarcador de exposição urinária encontrava-se dentro do limite preconizado. Porém, os riscos à saúde ainda foram evidenciados pelas modificações imunológicas dos participantes. Além disso, foram confirmados danos em proteínas, lipídios e de DNA. A redução dos glóbulos brancos do sangue, afetando diretamente o sistema imunológico, são problemas comuns causados pelo contato com o benzeno. Este contato pode também gerar o benzenismo, intoxicação crônica que atinge o sistema nervoso central e a medula óssea. Os resultados deste estudo foram publicados em fevereiro deste ano na revista científica “Enviromental Research”.

Desde o início deste ano, o Rio de Janeiro segue o exemplo de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, mas muita gente desconhece que já é proibido por lei encher o tanque do carro até a boca. A campanha #Parenoautomático — realizada no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, no Paraná, aqui no Rio de Janeiro e que precisa ser replicada no restante do país — orienta e conscientiza frentistas e consumidores a não exporem os trabalhadores ao benzeno existente na gasolina. "Para os frentistas, é preciso não encher o tanque ao máximo, seguindo a trava de segurança para evitar que seja liberado um vapor com alta concentração de benzeno", afirmam as cientistas.

CSN ainda é motivo de preocupação —Em 2005, a Profª Drª Adriana Gioda, do CTC/PUC-Rio, produziu o trabalho intitulado "Exposição ao alto nível de benzeno", publicado no “Fresenius Environmental Bulletin”, confirmando que os níveis de benzeno encontrados no município de Volta Redonda em 1995 chegaram a atingir 1650 ?g/m³, com uma média de 70 ?g/m³. De acordo com relato da Secretaria de Saúde de Volta Redonda, RJ, de 1984 a 1999, surgiram na região 688 casos de benzenismo.

Em 1999, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) tomou medidas para minimizar a emissão de poluentes e reduziu a média para 23 ?g/m³. "Ainda assim, é um nível muito elevado. Não é possível atingir uma condição em que a concentração de benzeno seja zero, assim, o limite adotado pela Organização Mundial de Saúde é de 1 ?g/m³. No caso de Volta Redonda, o valor é consideravelmente mais alto do que o aceitável", afirma Gioda.

"Se uma população de 1 milhão de pessoas estiver exposta diariamente a 1 ?g/m³ de benzeno, o esperado é que se obtenha seis casos de câncer a mais do que haveria normalmente. Utilizando as concentrações máximas obtidas para Volta Redonda, o valor seria ainda mais alto, com 2.500 casos extras de leucemia", reforça a professora. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), são registrados anualmente cerca de 11 mil novos casos de leucemia no Brasil. No Termo de Ajustamento de Conduta da CSN, assinado em 2013 com a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e o INEA, a siderúrgica se comprometeu a investir R$ 35 milhões em quatro ações para eliminar a exposição ao benzeno na coqueria e no alto forno.

Embora os níveis encontrados em Porto Alegre sejam muito inferiores comparados a Volta Redonda, a pesquisa demonstra resultados preocupantes quanto ao grau de exposição ocupacional e as potenciais alterações biológicas nos indivíduos cronicamente expostos. Mesmo com os crescentes estudos sobre os riscos à saúde em pessoas, o composto continua a ser utilizado na fabricação de tintas, detergentes, cigarros, borrachas, produtos farmacêuticos, solventes e pesticidas. As professoras alertam que, para minimizar o impacto do contato direto com o benzeno, é necessário o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) por funcionários de indústrias que envolvam processos com carvão ou petróleo.

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