O Brasil padrão FIFA

Recentemente o mundo assistiu a “explosão” de mais um escândalo: a corrupção na FIFA. Essa revelação deu início a uma série de debates sobre a integridade do órgão e finalmente abriu espaço para necessárias críticas ao seu modelo de atuação em nível internacional. O tal padrão FIFA foi colocado em cheque.

Durante as manifestações de junho em 2013, a população brasileira foi às ruas e o grito de "Não vai ter Copa" predominou, pois a reivindicação era para que se utilizassem recursos financeiros na busca por melhorias de fato para o Brasil. Investimentos estruturais para além de projetos focados no evento. Nos grandes centros de todo o país pedia-se "padrão FIFA" para os hospitais, escolas, transporte, entre outros. Hoje, porém, devemos questionar esse padrão, tido como exemplo e tão almejado.

Começando pela construção dos estádios, o modelo da FIFA gerou oito mortes por acidente de trabalho em todo o Brasil. No Catar, onde será realizada a Copa de 2022, já são 1200 mortes de trabalhadores envolvidos na construção de estádios e obras de infraestrutura para o megaevento.

Ainda no âmbito dos estádios, muito se falou à época de como o evento tornava o futebol, importante elemento da cultura popular brasileira, num espetáculo da elite. Não é difícil perceber esse entendimento se observarmos os valores cobrados pelos ingressos. Na final, o ingresso chegou a R$ 1.980 pelas vias oficiais, sendo o de menor valor nada menos que R$ 330. O avanço do futebol brasileiro como legado do mundial seria um fenômeno para poucos verem.

Outro legado que chegou a poucos foram as mudanças no transporte público das grandes cidades que abrigaram os jogos. O que vimos (e ainda vemos no Rio por conta das Olimpíadas) foi o desenvolvimento de projetos voltados para os locais turísticos ou de acesso a eles, pensados mais a partir da urgência do que da eficiência em benefício da sociedade.

Definitivamente, educação, saúde, transporte público e moradia padrão FIFA são aqueles que buscam o melhor interesse de empresas e patrocinadores, impondo a repressão dos divergentes, preços que impossibilitam o acesso da população pobre e projetos voltados para os pontos nobres, excluindo as favelas com o recurso das remoções indiscriminadas. Tudo isso acompanhado pela corrupção.

Que o Brasil não seja "padrão FIFA", mas adote o padrão respeito à dignidade humana e padrão garantia de direitos à população.

Que sejamos um país que grite pela liberdade dos 23 presos políticos que ousaram lutar por melhores legados e maiores sonhos para o povo brasileiro.

. Por: João Tancredo, advogado especializado em Responsabilidade Civil e Maria Isabel Tancredo, acadêmica em Direito.