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Especial Energia e Crescimento: As Usinas do Madeira e a Sustentabilidade - Parte 3

Sem nenhuma dúvida a maior preocupação de toda a sociedade rondoniense é quanto às condições de sustentabilidade do crescimento e desenvolvimento econômicos provenientes dos investimentos nas usinas do Rio Madeira. Essa preocupação provavelmente nos faz perder a noção da importância dessas obras para a sustentação do crescimento da economia do próprio país.

Rondônia mais uma vez participa da história da formação econômica do Brasil. O exemplo da construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, que permitiria aos vizinhos bolivianos o acesso a uma saída para o atlântico; dos soldados da borracha, abastecendo com o látex necessário ao desenvolvimento da indústria; dos garimpeiros, que num sub-ciclo do ouro, revelaram a riqueza dessa região; dos agricultores que desbravaram a nova fronteira agrícola da união, já ao final da década de 70; dos madeireiros que sedimentaram sua principal atividade industrial durante as últimas duas décadas, dos pecuaristas que formaram um rebanho com cerca de 12 milhões de cabeças, que abastecem hoje uma das suas mais fortes cadeias produtivas com carne, leite e couro.

Esse breve histórico nos mostra que os nossos vários modelos de desenvolvimento estiveram sempre fundamentados no modelo exportador agrosilvopastoril, característico do subdesenvolvimento. Hoje, esse modelo sofre a sua maior evolução, com a consolidação da sua indústria, forjada por empresários pioneiros e visionários, sabedores de que a única forma de gerar riqueza e sustentabilidade econômica é agregar valor aos seus recursos naturais, através da sua transformação/industrialização.

A maior participação dos setores secundário e terciário da nossa economia na formação do PIB do Estado reforça a nossa condição de desenvolvimento e o fenômeno de consolidação da nossa indústria, com 29% do PIB, serviços, com 53% (incluindo 25% de atividades de governo), contra 18% do setor primário. A força desse desenvolvimento industrial que gera emprego e renda, agregando valor ao conjunto da sociedade rondoniense, eleva o IDH ao 14º do país, com a segunda melhor distribuição de renda do Brasil.

A implantação de uma matriz energética limpa e abundante abrirá um leque de oportunidades de investimentos jamais vista na história desse estado. A geração de empregos diretos e indiretos originados no empreendimento será, sem dúvida, muitas vezes inferior aos empregos gerados pelo efeito multiplicador dos recursos aqui investidos. A pergunta a ser respondida é: após o final das obras, a economia do estado continuará crescendo, ou irá se retrair, causando desemprego? Essa pergunta começa a ser respondida a partir da análise das potencialidades de crescimento e posicionamento estratégico da economia do estado e do conjunto dos seus empreendedores.

Rondônia está estrategicamente posicionado como um portal de entrada para a região amazônica, num modal de transporte rodoviário/fluvial que permite o escoamento de produtos de um mercado denominado Mercoeste, que envolve os estados de Mato Grosso, Goiás e Tocantins. Como exemplo disso, a soja mato-grossense é embarcada no porto graneleiro em Porto Velho. Assim, possibilita acesso aos demais estados da região através da hidrovia do Madeira, bem como permitirá acesso à saída do pacífico, pelo Estado do Acre e Peru.

Sua sustentabilidade começa na expansão do mercado intra-regional, ou seja, maior comercialização de produtos oriundos dos estados da região norte. Com o aquecimento da atividade econômica no estado proveniente dos investimentos nas obras das usinas, os empreendimentos crescem em quantidade, volume de produção (escala), qualidade, e, consequentemente, em competitividade via preço. Essa competitividade nos leva a abastecer estados vizinhos, concorrendo com produtos vindos do centro sul do país. Vale observar que Rondônia é hoje o maior comprador de produtos desse mercado regional. Desenvolver o mercado intra-regional significa reduzir as desigualdades regionais observadas, pois a parcela dos recursos antes destinados ao pagamento de importações de outros estados do Brasil permanecerá na região promovendo a expansão do poder de compra de sua população, que consome mais, dando maior retorno aos investidores, gerando um círculo virtuoso de crescimento.

Esse mercado intra-regional envolve 17,5 milhões de habitantes (consumidores), compreendendo os Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins (região norte), acrescido do Mato Grosso (centro-oeste). Seu desenvolvimento é função do nível de interação entre Federações de Indústria, empresários do setor industrial e do comércio, além dos Governos Estaduais, responsáveis pelo provimento da infra-estrutura econômica necessária ao desenvolvimento da produção e aproveitamento dos recursos específicos de cada estado.

Sistematicamente, novos mercados poderão ser abertos, com o atendimento das demandas dos países vizinhos, notadamente o grupo andino, como Chile, Bolívia, Peru, e Equador, e da Amazônia sul americana, como Colômbia, Venezuela, Guianas e Suriname.

. População e PIB dos países em 2005, considerando País | População (x 1.000) e, | PIB (milhões US$): Bolívia: 8.989 | 9.333,6 . Chile: 16.134 | 115.250,0 . Colômbia: 43.593 122.308,6 . Equador: 13.548 | 36.244,0. Guianas: 967 | 783,2. Peru:28.303 | 78.430,8. Suriname : 465 | 1.342,1. Venezuela: 25.730 | 138.857,0. Totais: 137.729 | 502.549,0

Esse mercado potencial a que nos referimos possui população de 137,7 milhões de habitantes e um PIB de US$ 502,5 bilhões em 2005. A título de comparação, o PIB do Brasil foi de US$ 794,1 bilhões (52,8% do PIB sul americano) em 2005. Somando essa população à dos estados da região norte e Mato Grosso, 17,5 milhões de habitantes, chegamos a 155,2 milhões de habitantes (consumidores). Esses países permitirão grande expansão do comércio exterior da região, ampliando as exportações de empresas rondonienses e dos demais Estados. São grandes produtores de matérias-primas e compradores tradicionais de produtos industrializados.

A consolidação do Mercosul como bloco comercial liderado pelo Brasil passará, impreterivelmente, pela estruturação do Mercoeste brasileiro, com o estabelecimento de relações comerciais consistentes com esse grupo de países. A chegada aos portos de Ilo e Matarani, no Peru e Arica, no Chile, permitindo-nos o acesso ao Pacífico bem como à rodovia Pan-americana, possibilitará a distribuição dos nossos produtos e fortalecerá o intercâmbio comercial com o grupo.

Finda a construção das usinas do Madeira, estará consolidado esse mercado, se desenvolvido com seriedade e responsabilidade, gerando um conjunto de oportunidades sólidas para os empreendedores do Estado, em cujo sucesso reside a manutenção de investimentos, emprego e renda para a população e a conseqüente sustentabilidade da nossa economia.

Diante dessa premissa, cabe-nos alertar a empreendedores e Governos que iniciem urgentemente os estudos e projetos para novas usinas hidrelétricas na região e, principalmente, para a estruturação das hidrovias do Madeira, com a construção das eclusas que darão navegabilidade até as bacias do mamoré/guaporé, em Rondônia, e Beni e Madre de Dios, na Bolívia; e do Amazonas, ligando a Iquitos, no Peru, importante centro produtor naquele país.

O acesso às hidrovias pelos países vizinhos permitirá o escoamento de suas riquezas naturais que abastecerão nosso setor produtivo, ativando o crescimento dessas economias. Estrategicamente, o transporte ferroviário interligando as cidades de Cuiabá e Porto Velho selaria definitivamente o processo de integração dessas economias com ganhos de escala e redução de custos para todos.

. Por: Valdemar Camata Junior, economista, Conselheiro do Cofecon pelo Estado de Rondônia, Superintendente do Instituto Euvaldo Lodi - IEL/RO e do SESI / RO /Cofecon

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