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08/02/2008 - 10:42

Da linha de produção à passarela internacional

Não há novidade em se afirmar que o processo de internacionalização das empresas brasileiras é algo relativamente novo. Se olharmos para trás, veremos que este processo começou equivocado no início da década de 1990 com uma abertura necessária, mas irresponsável. Grande parte dos setores empresariais estava despreparada para a competição internacional.

Com a agravante da turbulência política da época, a abertura econômica acabou sendo protelada para meados da última década do Século XX. Entenda-se por abertura econômica, além do arrefecimento de fronteiras, a formulação e implantação de políticas governamentais que contemplem a necessidade de ganharmos mercado externo e respondam ao imperativo de criar condições para que o empresariado nacional consiga expertise internacional.

Abertura econômica é criar vetores mais amplos que façam desse termo um processo rico de construção da ação internacional. Um país não se torna globalizado simplesmente abrindo suas fronteiras da noite para o dia. Por isso, o aprendizado nesse processo permite-nos estimar que o Brasil esteja efetivamente com menos de 15 anos no caminho rumo ao exterior. O setor têxtil é um exemplo disso. Sua cadeia produtiva — desde as milhares de confecções, fiações e tecelagens, até as grandes marcas e estilistas famosos, passando por distribuidores e varejo — é um caso clássico de transformação em virtude do mercado externo.

Na década de 1990, a base produtiva do setor passou apertada por um ciclo de reestruturação. Foram inúmeras as confecções fechadas, sobretudo com o impacto da entrada de produtos têxteis asiáticos. Antigas empresas baseadas em um mercado pouco competitivo, sem uma política clara de custos e preços e, principalmente, sem a visão de longo prazo para a modernização do parque industrial e elevação do padrão de qualidade de seus produtos, acabaram fechando. Pólos têxteis tradicionais adernaram sob esta nova onda do capitalismo. Sobreviveram os que conseguiram ver na abertura econômica a chance de ajustar seus projetos e modelos de negócios a padrões mais avançados de concorrência, tecnologia e qualidade, ou seja, as novas exigências competitivas internacionais. O efeito foi em cascata, chegando à pequena confecção e à cooperativa têxtil.

Se a cadeia produtiva têxtil teve de se adaptar ao século XXI, isto também se deu no topo da pirâmide, no segmento que agrega valor a produtos básicos, como tecidos, botões e linhas: o setor de moda e design. Este fenômeno mais recente de aquisições de grandes marcas, por exemplo, tem mostrado sinais claros de que o setor tem agido com profissionalismo e competência.

Esta nova configuração no setor de moda, alicerçada pelas transformações anteriormente citadas, pode trazer benefícios para toda a cadeia têxtil, que emprega parcela substancial da mão-de-obra brasileira. Vale lembrar que o recente fluxo de investimentos em grifes conhecidas vai dando musculatura a projetos mais audaciosos. O benefício mais evidente não é a abertura de capital ou a eventual venda destas grifes para um tradicional conglomerado de moda. Estes movimentos, abertura de capital ou aquisições por grupos estrangeiros, ocorrem e continuaram a ocorrer não apenas neste setor. E, portanto, devem manter os investidores atentos.

O que chama mais a atenção é que se estão criando condições para que grandes marcas restritas ao ambiente doméstico, com operações parciais no mercado externo, possam deslanchar além dos magazines ou pontos de venda em algum bairro famoso da Europa, Estados Unidos e até Japão. O aporte de capital que essas grifes recebem permite que seus criadores focalizem seus esforços no que realmente lhes interessa, ou seja, o processo de criação. Desenvolvimento de marca, estratégias de marketing, gestão empresarial e captação de novos mercados ficam agora nas mãos de executivos que provavelmente não sabem alinhavar uma barra, mas que têm uma visão clara sobre os complexos e embaraçados mercados globais.

Grifes como Zoomp, Ellus, Alexandre Herchcovitch e Fause Hauten estão no caminho para se tornarem marcas do porte da Dior, Chanel ou Armani? Seria uma comparação equivocada. Primeiramente, as brasileiras com algum sucesso no exterior não tornam o Brasil um país tradicional no mercado de moda. Isto faz parte da cultura de um povo. Ademais, essas empresas européias têm experiência de longuíssima data em um mercado como o europeu, berço e passarela da moda, uma vantagem sem precedentes.

No entanto, se não podemos almejar chegar ao Olimpo da moda, nada impede que desejemos vôos mais altos. Talvez até fugindo do exotismo brasileiro que, apesar de vantajoso ao garantir um nicho de mercado lá fora, nos perpetua neste caminho. Certo é que criatividade, investimentos e expansão nunca estiveram tão convergentes na moda. O resultado pode ser um aclive sem precedentes para a moda brasileira no exterior, uma guinada com impacto em todo o setor têxtil.

. Por: Olavo Henrique Furtado é consultor do Núcleo de Negócios Internacionais da Trevisan Consultoria e professor da Trevisan Escola de Negócios.

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