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23/07/2015 - 07:45

Posto Avançado da GM atende brasileiros e estrangeiros no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro


Entre as diversas atividades operacionais e de patrulhamento em geral no município, garantindo o bem estar da população, a Guarda Municipal do Rio de Janeiro mantém um serviço diferenciado, mas que em cinco anos já ajudou mais de 200 pessoas. É o Posto Avançado de Atendimento Humanizado ao Migrante no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro/Galeão— Antônio Carlos Jobim, na Ilha do Governador.

Localizado no setor de desembarque internacional do Terminal 1, o posto funciona 24 horas, sete dias por semana, e conta com sete guardas municipais capacitados para fazer a recepção a brasileiros não admitidos ou deportados do exterior e estrangeiros com problemas de entrada no Brasil. No local também são identificadas possíveis vítimas do tráfico de pessoas, que são encaminhadas para acolhimento através de uma rede local. Além disso, o efetivo ainda atende o público externo em apoio a diversas situações, como pessoas desaparecidas, viajantes que perdem voo ou sem recurso para viajar e se instalam no aeroporto.

—O nosso posto é o único em todo o Brasil que conta com a atuação de guardas municipais. E o nosso trabalho é muito importante, pois muitas situações são resolvidas ali e acabam dando alegria novamente para quem passou por sofrimento e constrangimento. A maioria das pessoas que saem ou chegam ao Brasil na situação de deportados, expulsos ou inadmitidos são muito sofridas, foram enganadas, escravizadas, prostituídas, sofreram maus tratos, tiveram seus documentos retidos e se veem perdidas. A função dos nossos guardas é servir de interlocutores e mediadores junto à rede local, além de fazer um intercâmbio com os núcleos do Brasil, já que o Rio de Janeiro é a porta de entrada e aqui chegam brasileiros das mais diversas regiões do país— explicou a Inspetora Regional Tatiana Rodrigues, responsável pelo posto.

A implantação do posto faz parte de um convênio celebrado entre o Ministério da Justiça e a Prefeitura do Rio de Janeiro. Ele mantém parcerias com os órgãos federais, municipais e estaduais, consulados e empresas privadas instaladas no aeroporto.

De 2010 a 2015, 79,2% dos atendimentos foram a deportados (incluindo vítimas de tráfico de pessoas), 16% de situações diversas, 2,8% de inadmitidos e 1,8% de brasileiros que foram expulsos de outros países.

Ao longo desses anos, alguns casos chamaram bastante a atenção dos guardas. Em uma das situações, uma brasileira, natural de Roraima, foi expulsa da Espanha. Ela já morava lá há cinco anos e pretendia conseguir a cidadania. Conheceu um espanhol que lhe prometeu um "casamento arranjado" por 20 mil euros. Ela arrumou um emprego, trabalhou duro e conseguiu juntar a quantia. Mas teve a ingenuidade de pagar o homem antes de assinar os papéis do matrimônio e ele sumiu com todo o seu dinheiro. Sem um tostão, a mulher foi pega na rua por policiais, que a mandaram para o Brasil somente com a roupa do corpo. Ela chegou aqui desesperada porque havia perdido todo o dinheiro e a documentação. Os guardas do Posto Avançado conseguiram contato com sua família, que era muito humilde e não tinha condições de bancar sua passagem aérea. Descobriram que ela tinha uma filha que estava presa na Colômbia por ter transportado drogas por causa de um namorado. A filha, mesmo da cadeia, conseguiu com o pai arrumar dinheiro para mandar para a mãe que, só assim, conseguiu voltar para Roraima.

— Ouvimos relatos que parecem coisa de filme. Atendemos muitos brasileiros que vêm, principalmente, da Europa. A Espanha vem em primeiro lugar, seguida da Itália, Suíça, França, Portugal e Holanda. Quando essas pessoas chegam aqui, na maioria mulheres, estão sem nada. Já das que saem daqui em busca de uma vida melhor lá fora, a maioria é de Governador Valadares, em Minas Gerais, e de Goiás. As pessoas têm muita vergonha de contar suas histórias aqui e, por isso, temos dificuldade para identificar, mas conseguimos. Há muito constrangimento e sempre nos contam uma outra versão. Nosso serviço aqui é conseguir os contatos. Não arrumamos passagem para ninguém, apenas fazemos a ponte para ajudar a pessoa a encontrar alguém da sua família ou encaminhamos para um abrigo da prefeitura — contou a GM Cristina da Silva Cunha.

Outro caso marcante é o de um brasileiro casado, pai de cinco filhos, que foi viver com toda a família na Arábia Saudita. Ele era homossexual e não podia falar sobre isso abertamente no Oriente Médio, lugar que criminaliza as relações sexuais entre pessoas do mesmo gênero e, inclusive, aplica pena de morte em alguns países. Resolveu voltar para o Brasil, se arrependeu, mas não conseguiu retornar para a Arábia. Vagando pelo aeroporto, foi atendido, então, pelos guardas que o encaminharam para um abrigo da prefeitura, onde conheceu uma pessoa e sumiu com ela pelo mundo.

Além desses serviços, o Posto Avançado mantém uma parceria com o Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do Rio de Janeiro, que acompanha e oferece atendimento jurídico e social a pessoas com este perfil identificadas pelos guardas municipais. O efetivo ainda participa das reuniões mensais do Comitê de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, de campanhas de mobilização nacional, como a "Coração Azul", em 2014, e da divulgação diária de material informativo e preventivo que é fornecido pelo Ministério da Justiça.

Entre as histórias mais antigas de casos de tráfico de pessoas, está a de uma marroquina que deu entrada no posto alegando que veio ao Brasil por conta de promessa de casamento com brasileiro que havia conhecido através da internet. Na ocasião lhe foi prometida também moradia, trabalho bem remunerado e alimentação, sendo-lhe exigidas apenas fotografias de rosto e de corpo inteiro, e que ela viesse sozinha. No momento do desembarque, ela deixou o terminal conversando com uma mulher que havia conhecido no avião, e por esse motivo não encontrou a pessoa que havia lhe prometido casamento. Conseguiu falar com o suposto namorado, que informou que a viu desembarcar, mas como não estava sozinha todo o trato havia sido desfeito. Ela tinha passagem de ida e volta, mas seu retorno estava marcado para um mês depois. Os agentes do posto intermediaram a antecipação da passagem com a companhia aérea, que não queria fazê-lo inicialmente. A turista permaneceu durante alguns dias em abrigo da Prefeitura do Rio enquanto aguardava o seu regresso, que foi feito alguns dias depois.

— Os europeus têm uma visão muito ruim de brasileiros. E agora com a crise econômica, quem eles estão achando por lá, estão mandando de volta. Nos sensibilizamos muito com cada caso porque são histórias quase sempre tristes. Já teve um colega que hospedou uma família com criança na própria casa até que o caso se resolvesse. Outra guarda trouxe roupas para uma deportada. Nosso trabalho é muito gratificante e bem diferente das outras atividades da GM. Vamos até o fim para conseguir ajuda para as pessoas, mas quase sempre não ficamos sabendo o desfecho da história, o que é uma pena — disse o guarda Luis Paulo Duarte. | Juliana Romar.

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