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24/07/2015 - 07:16

Sem “decoreba”, menos evasão escolar


Imagine ficar sentado de cinco a seis horas ouvindo o professor falar e escrever no quadro, para apenas quinze dias depois se lembrar de no máximo 50% de tudo o que ele expôs. Por incrível que pareça, esta é a realidade frustrante na maioria das nossas escolas, onde ainda se privilegia a aprendizagem passiva com foco no conteúdo, em detrimento da solução de problemas.

Ao desenvolver o cone of learning (cone do aprendizado), em 1969, Edgar Dale já demonstrava claramente que, após duas semanas, o cérebro humano retém 10% do que se lê; 20% do que se ouve e 50% do que se vê passivamente. Esse índice sobe para 70% em se tratando de uma conversa ou debate e chega a 90% quando os ensinamentos se vivenciam na prática.

De lá para cá houve uma ampla mudança em vários aspectos do cenário educacional, mas as nossas salas de aula continuam basicamente as mesmas.

Em maio de 2010, Nicholas C. Swenson, Rosalind W. Picard e Ming-Zher Poh divulgaram no periódico Transactions on Biomedical Engineering um estudo sobre atividade eletroneural e relataram que, ao assistir TV, o nível de atividade cerebral das pessoas é baixíssimo, menor até mesmo do que o registrado enquanto elas dormem.

Expostas ao ensino passivo numa sala de aula, o grau de aproveitamento por parte dos alunos é muito semelhante, sobretudo para a Geração Y, habituada com informação abundante em seus smartphones e tablets, das quais se privam para decorar conteúdos cuja utilização na vida profissional é no mínimo questionável.

Não é de se estranhar, portanto, que fiquem precocemente desestimuladas com o ensino e, ao se darem conta de que o mercado de trabalho exige profissionais pró-ativos e solucionadores de problemas, muitos acabem abandonando a escola.

Afinal, por que exigimos a memorização de teorias e fórmulas se hoje existe uma infinidade de recursos à disposição da aprendizagem? Certamente no mercado de trabalho os estudantes atuais farão uso desses e tantos outros recursos que surgirão até lá.

Se já em 1969 Dale comprovou que a aprendizagem ativa é mais produtiva e assertiva, então tomemos como exemplo algumas abordagens que já vêm sendo utilizadas em renomadas universidades, inclusive brasileiras.

Uma dessas técnicas é a peer instruction, ou aprendizagem em pares, por meio da qual o professor discute o conteúdo previamente com os alunos e depois dá um problema do dia a dia para eles discutirem e solucionar em conjunto. Encerrada essa etapa, é proposto aos grupos que convençam uns aos outros de que o seu resultado é o correto.

Outro método para favorecer a aprendizagem utilizada atualmente, e que deve ser igualmente estimulada, é a do ensino adaptativo (adaptative learning), cuja proposta é colocar o aluno para discutir o problema, enquanto o professor acompanha o ritmo da turma, ou seja, utiliza vídeos, intermedia conhecimento e invoca questões do dia a dia. Tudo isso contribui para que todos cheguem ao final da aula no mesmo nível.

Não faltam, de fato, recursos para aumentar a taxa de aprendizagem, mas é preciso estimular e dar condições para o professor utilizá-los. Vale ressaltar que tais expedientes não são caros, porém dependem da capacitação oferecida aos educadores para praticá-los, a fim de estimular os alunos a pensar e debater, mesmo diante das disciplinas mais teóricas.

Em dia de prova, por exemplo, peço a todos que tragam papéis com as letras A, B, C, D e E e divido a classe em grupos. Ao projetar cada questão, solicito que levantem o papel correspondente à resposta certa, considerando sempre aquela que a maioria escolheu.

Contudo, desde pequenas atitudes como esta até as maiores e mais abrangentes relacionadas ao ato de aprender devem ser bilaterais, se expandindo para o ambiente familiar, onde cabe aos pais fazer sua parte e apoiar seus filhos na substituição da mera “decoreba” pelo saudável hábito de resolver problemas.

. Por: Ronan Delfim Machado, terapeuta ocupacional, especialista em psicologia da educação (PUCMG) e em desenvolvimento infantil (UFMG).

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