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04/08/2015 - 09:46

Tempos das Vacas Magras

Ok... Eu já sei. A situação econômica do Brasil vai de mal à pior. Os especialistas nos lembram todos os dias que, não importa a profissão ou estado civil, a economia em queda e as altas taxas de inflação vão atingir em cheio o bolso dos brasileiros.

Tempos de crise? Certamente, esta será apenas mais uma entre tantas outras que já vimos atingir e causar fortes solavancos na economia brasileira. Por aqui, não há processo contínuo de crescimento. Somente, um eterno movimento cíclico de altos e baixos, tempestades e bonanças que deixam qualquer chefe de família de cabelos em pé diante do orçamento familiar. Enfim, em tempos difíceis, é chegada a hora de apertar os cintos. Não tem jeito.

E aí? Como passaremos de um modelo econômico focado no estímulo ao aumento do consumo das famílias para o momento atual em que o mandamento é segurar a onda? Pararemos todos de comprar? Afinal, segundo os economistas, até a segunda ordem, a regra é comprar só aquilo que se precisa. Grande dilema. É nesse momento que a distinção clássica entre o necessário e o supérfluo volta a acompanhar todos os consumidores durante seu processo de compra, seja numa loja na 25 de março, seja num corredor de um shopping de luxo.

Mas, afinal, como definimos o que é supérfluo e o que é necessário? Questão difícil e com muitas possibilidades de resposta. Não é preciso grande esforço para perceber que os produtos e serviços que abrimos mão, ou não, variam de pessoa para pessoa. O que é essencial para mim, poder ser uma besteira para minha mulher e, vice-versa. Esse fato não se resume ao gosto individual ou ao conjunto de preferências pessoais de cada um. Classe, idade, gênero, trajetória e posição sociais são variantes determinantes na nossa escala de desejos de consumo e na hierarquização do que é necessário ou supérfluo.

Nossas escolhas estão imbricadas no jogo social do qual participamos. Inclusive, a construção da escala de valores que atribuímos a qualquer produto ou serviço. O que é essencial ou supérfluo em nosso mundo é fruto de uma intensa negociação das nossas vontades com o grupo no qual fazemos parte. Afinal, necessário é tudo aquilo que não precisamos de justificativa social para consumir. Já supérfluos, são aqueles itens que nos cobram sempre uma explicação. Água é necessário ou supérfluo? E água Perrier?

Não faz muito tempo, em uma pesquisa que realizei com os ricos de São Paulo, ouvi, por diversas vezes, que a crise hídrica enfrentada pela cidade lhes obrigou mudar alguns hábitos. Para eles, foi se o tempo que a preocupação básica dos consumidores estava em descobrir se a água era potável ou não. Agora, a elite paulista queria mais. Só bebia água com sobrenome. Para os adultos e crianças, água Perrier; para os animais domésticos, água Prata – com PH alcalino e ótima para o organismo.

Diante do meu espanto, escutei a seguinte afirmação: “Ué, meu filho. Isso é o básico, disso a gente aqui em casa não abre mão. É o mínimo”. Os amigos presentes, todos da mesma classe social, concordaram com a minha interlocutora de pesquisa. Aquilo, era só o mínimo.

A régua que seu consumidor usa pode ser muito diferente da sua. Cuidado!

. Por: Michel Alcoforado, antropólogo e sócio fundador da Consumoteca, uma boutique de conhecimento especializada no consumo e nas tendências de comportamento do brasileiro.

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