A forma certa de cortar custos

Imagine a seguinte situação: você resolve fazer uma dieta e começa a cortar o consumo de calorias. Porém, ao invés de adotar uma alimentação mais saudável você simplesmente resolve substituir seu almoço por um pacote de bolachas de chocolate.

Em um primeiro momento certamente você vai perder peso, afinal, um único pacote de bolachas tem menos calorias que o prato que você estava acostumado a comer no almoço. Mas não é preciso ser um nutricionista para perceber que o “regime” vai trazer muito mais problemas do que benefícios.

Uma empresa que faz um grande corte de funcionários em um momento de crise pode estar adotando o mesmo tipo de solução que essa dieta maluca. Não há dúvidas que no mês seguinte as despesas da companhia serão reduzidas. Mas o custo será a saúde da companhia a médio e longo prazo.

Qualquer empresa seja pequena, média ou grande, que precise se adaptar a uma nova situação de mercado imposta por uma crise econômica tem pela frente um desafio muito maior do que simplesmente reduzir sua folha de pagamento.

Se adaptar a uma nova realidade implica em uma mudança profunda na sua forma de trabalhar para conseguir manter-se competitivo nesse novo cenário. E ninguém melhor para ajuda-lo nessa transformação do que quem melhor conhece a empresa: seus funcionários.

Ao realizar um corte na equipe, a empresa está mandando embora quem melhor conhece seus problemas e teria como sugerir mudanças que poderiam torná-la mais eficiente e competitiva. A medida pode até reduzir momentaneamente os custos, mas todas as ineficiências internas que levaram a empresa a sofrer com a crise serão mantidas, com o agravante que a turma que restou estará desmotivada, assustada e sobrecarregada.

Aproveitar o conhecimento que os colaboradores possuem da empresa e de seus processos é um dos fundamentos do método de redução de custos baseado na Análise de Valor. A ferramenta revisa todos os processos da companhia com a ajuda de seus funcionários gerando projetos de cortes de custos.

Comecei a utilizar essa técnica quando ainda era Diretor de Recursos Humanos da American Express e me impressionei com os resultados. Na época, conseguimos implantar uma série de mudanças que geraram economias de milhões de reais e mudaram complemente o resultado da empresa.

A adoção da Análise de Valor não significa que a empresa não fará demissões. Isso pode até acontecer em casos pontuais. Mas a real economia gerada não vem dessa medida. Através desse método, os funcionários da companhia são convidados a ter participação ativa para transformar completamente a empresa, desde que atendam a expectativa de produzir um corte drástico nas despesas.

A equipe é incentivada a inovar e eliminar serviços não essenciais. Cada atividade executada é analisada a partir de perguntas como ‘Por que fazemos isso? Por que fazemos dessa maneira? Como podemos fazer mais barato? Podemos combinar com outra coisa? Substituir? Automatizar? Podemos utilizar novos recursos de TI?’.

Além da própria economia gerada, o resultado acaba sempre tendo um ótimo efeito colateral. As pessoas passam a vestir a camisa do programa, assumindo com orgulho seu papel nessa transformação. O surgimento de novas lideranças e o crescimento profissional das pessoas envolvidas é outra consequência natural.

Ouvir seus funcionários é uma atividade que as empresas deveriam realizar muito mais. Eles têm coisas muito interessantes a dizer.

. Por: José Luiz Panzeri, sócio da Panzeri Consultores, membro da ABRH, da ABEAV, conselheiro do Grupo G3RH e foi Vice-Presidente e Diretor de empresas nacionais e multinacionais.