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18/08/2015 - 09:13

O governo Dilma e as manifestações de 16 de agosto

No dia 16 (domingo), a sociedade brasileira corroborou os índices de rejeição ao governo Dilma Rousseff e, novamente, saiu às ruas para protestar. Os tempos da política do governo - daquele desenvolvido entre os políticos, no Planalto, no Senado e na Câmara dos Deputados – são distintos do tempo dos movimentos que fazem o chamamento para a ida às ruas. Vejamos.

Nas últimas semanas, o governo reagiu e buscou, incansavelmente, trazer uma agenda positiva para o país. Agiu, contudo, não a partir de suas próprias forças, quadros políticos e inteligência. Continuou, em maior ou menor grau, dependente de sua “base aliada”, isto é, do PMDB e, especificamente neste caso, do Presidente do Senado, Renan Calheiros. Esforço significativo foi realizado objetivando isolar e, também, solapar o poder de Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, após o histriônico rompimento deste com o Planalto. O movimento em voga crê ter obtido fôlego pois a partir do fortalecimento de Renan veio à tona um documento com propostas para estimular a economia do país e, com isso, superar o atual quadro de crise. Dias depois, uma foto – sem a presença de Dilma – foi estampada nos jornais: Lula, Renan, Temer e Sarney, principalmente. O recado foi claro: estão, juntos, trabalhando pela governabilidade. Será? Marco Aurélio Nogueira, cientista político, em entrevista, afirmou que Cunha e Renan parecem retomar a história dos policiais num interrogatório: o policial mau, linha dura, e o bonzinho. Ambos, contudo, são policiais e intentam intimidar para melhor interrogar o “bandido”. Essa história toda acabou por ser chamada de “acordão”, cujos principais resultados foram a já aludida proposta de Renan para estimular a economia e, sobretudo, o adiamento do julgamento, pelo TCU, das contas da Presidente Dilma. Não se pode esperar que o governo só apanhe. Tentou e parece ter conseguido um alívio, ainda que imediato. Penso que isolar Cunha e fortalecer Renan possa ser um tiro no pé, pois, o governo continua apresentando falta de liderança, de rumo, de objetividade.

Já em relação às manifestações, que tomaram muitas capitais, cidades médias e pequenas e o Distrito Federal, o que se viu foi, ao final, a mesma guerra de números e versões: quantitativamente, há os números de manifestantes aferidos pelos institutos de pesquisa, pela Polícia Militar e pelos organizadores. Independente dos números reais, da quantidade, vale ressaltar o aspecto qualitativo: o foco, na grande maioria dos casos, foi a figura de Dilma e Lula; a primeira, com pedidos de impeachment ou renúncia, o segundo, com pedidos de investigação e até de prisão. Dilma, sabidamente, ostenta péssimo índice de aprovação e Lula, o mítico líder sindical, carismático e intocável, parece humano (com perdão do chavão): demasiado humano. Afora essa concentração de indignação em relação à Dilma e Lula, foram valorizadas as investigações da Polícia Federal e o trabalho do juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava-Jato. Temos, ainda, em nossa cultura política, o anseio de hipervalorizar a visão personalista: odeia-se Dilma e Lula e glorifica-se Moro ou, antes, Joaquim Barbosa. Infelizmente, essa postura acaba por apequenar o debate político, assumindo ares passionais e não de racionalidade, de responsabilização e de visão dos processos históricos e das instituições.

No limite, os tempos desencontrados da Política e das ruas é característico de nossa sociedade. Há, quase sempre, dificuldade de se interpretar os símbolos advindos do mundo político e das posições dos manifestantes. O que se viu, ontem, foram insatisfação, críticas, bom humor e até grupos minoritários pedindo “intervenção constitucional”. Houve clima de ódio? Sim, até houve, mas, no geral, os manifestantes foram pacíficos e sem registros de incidentes. Seja uma grande ou uma manifestação menor, as pessoas estão insatisfeitas. Aos poucos, vamos, democraticamente, aprendendo a conviver com a opinião contrária. Chamar os manifestantes de golpistas e coxinhas é bobagem, bem como tolo nominar os petistas e simpatizantes de “petralhas”. Isso pouco contribui. O bom e velho Weber já asseverou acerca das éticas da responsabilidade e da convicção. Precisamos melhor compreender o quadro em tela e buscar, dentro de limites democráticos e republicanos, superar essa situação. Dilma ainda é refém da crise, parte dela fruto de sua inabilidade política mesclada à arrogância do PT e ao mundo fantasioso do marketing político. Por outro lado, a saída de líderes da oposição – Aécio a frente – parece não ter mudado em nada o teor das manifestações anteriores. Quem ganha, é certo, é a sociedade brasileira que, por exemplo, em São Paulo: levou milhares à Avenida Paulista e algumas centenas ao Instituto Lula, sem nenhum tipo de confronto, a não ser o das ideias. O saldo, para o governo, continua ruim e, para a sociedade, positivo. O encontro dos tempos da Política, da sociedade e da Justiça podem ser sincronizados e, aí, tudo pode mudar ou tudo pode mudar para permanecer como está.

. Por: Rodrigo Augusto Prando, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, licenciado e bacharel em Ciências Sociais, mestre e doutor em Sociologia, pela Unesp, Araraquara. | Perfil—A Universidade Presbiteriana Mackenzie está entre as 100 melhores instituições de ensino da América Latina, segunda a pesquisa QS Quacquarelli Symonds University Rankings, uma organização internacional de pesquisa educacional, que avalia o desempenho de instituições de ensino médio, superior e pós-graduação.

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