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25/09/2015 - 07:59

Mais um passo à frente

No primeiro semestre deste ano, o ministro Armando Monteiro travou uma árdua batalha para melhorar as condições do comércio exterior brasileiro com o objetivo de incorporar nossa economia ao mercado global e impulsionar o desenvolvimento interno. A principal bandeira desse movimento foi a aprovação, em junho, do tão aguardado Plano Nacional de Exportações. Por longo tempo adiado, a despeito da necessidade do país e da demanda do setor empresarial, sua entrada em vigor significa um primeiro passo para sairmos da estagnação.

Temos consciência de que a demora no andamento do plano foi fruto de reveses e interesses políticos com os quais já estamos - infelizmente - acostumados. Assusta, contudo, perceber que as propostas do documento recém-lançado, essencialmente direcionadas à simplificação e à desburocratização, são apenas medidas básicas para que se estabeleça um ambiente saudável de negócios.

Em outras palavras: reduzir prazos de entradas e saídas dos produtos do país, facilitar a abertura e fechamento de empresas, trabalhar com taxas de exportação equivalentes às do mercado internacional são mudanças tão óbvias que fazem parte do conjunto mínimo de ações necessárias para que um país seja bem sucedido em suas metas de importação/exportação em uma cadeia de valor global. Lembremos que, apesar de nosso tamanho, o Brasil ocupa apenas o 25º lugar no ranking da Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre os 30 maiores países exportadores do mundo, ficando atrás de países como Tailândia e Malásia.

Se os passos mais simples para que a 7ª maior economia do mundo dê o pontapé inicial rumo à eficiência e à competitividade demoram anos, talvez não seja possível medir quanto tempo e quanta burocracia serão consumidos para que consigamos tirar do papel mudanças estruturais, que demandam construções profundas e negociações extensas. São essas transformações que - efetivamente - farão a diferença ao resultar na consolidação de acordos de comércio bilaterais estratégicos, em especial com os Estados Unidos.

Na recente marcha de reaproximação com o Tio Sam, o governo brasileiro apresentou os primeiros sinais de despertar da inércia. É um pequeno avanço. Ao contrário do que muito se prega no meio intelectual brasileiro, a celebração de acordos comerciais com os Estados Unidos não é sinônimo de subserviência e exploração. Pelo contrário, significa ganhos comerciais, científicos, políticos e tecnológicos. Temos bons negociadores em casa para atuar na defesa dos interesses nacionais e manter o retorno sempre maior que as perdas. E temos múltiplas áreas de interesse mútuo para cooperação.

Os Estados Unidos são hoje o único país com o qual temos uma pauta de exportação de manufaturados importantes, uma alternativa complementar ao mercado volátil de commodities. Some-se a isso a produção comum de etanol - de um lado pelo milho, do outro pela cana -, as pujantes indústrias aeronáuticas, o setor de óleo e gás, a área de defesa, e a lista vai crescendo.

Ter relações fortes de comércio com o país chefiado por Obama é decisivo para impulsionar qualquer economia no mundo e o Brasil não é imune a essa máxima. Existe um grande abismo entre os benefícios alcançados com uma negociação com os americanos e o retorno de um acordo com qualquer outro país do mundo. Essa realidade é tão latente que mesmo a China, que ocupa o segundo lugar no ranking do comércio mundial, não despreza tamanho relacionamento, ao contrário: o protege com unhas e dentes, pois tem visão estratégica de mercado e de política. Os dois gigantes têm entre si uma grande e lucrativa relação que não aceita interferência de terceiros. Nesse sentido, é um exemplo a observar.

Em uma atuação sempre tímida, o Brasil celebrou poucos acordos bilaterais nas últimas décadas ficando atrás, inclusive, de colegas sulamericanos com muito menos potencial, como Colombia, Chile e Peru. Muito chão ainda há pela frente para que sejamos inseridos no mercado global e nós mesmos teremos que criar as bases internas para esse caminho. Vencer a burocracia é somente mais um passo. Precisamos rever a política interna de subsídios ampliando o compliance com as regras da OMC; avançar na criação de um Ex-Imbank; ampliar nossa abertura para incentivar a competição entre as empresas e extinguir o protecionismo. A hora ideal de agir passou, mas sempre podemos correr atrás do prejuízo.

. Por: Henrique Rzezinski, diretor e ex-presidente da Câmara de Comércio Americana do Rio de Janeiro (AmCham Rio).

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