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01/10/2015 - 08:54

Rio de contradições

No Brasil, um quarto da população apresenta algum tipo de deficiência, segundo o IBGE. E ao mesmo tempo em que o Rio de Janeiro ostenta o título de Cidade Maravilhosa, tendo alto potencial turístico, incluindo o corporativo e sediando megas eventos, não está preparada para acolher pessoas com deficiência para mobilidade, uma infraestrutura básica para uma metrópole com projeção internacional. Aliás, há um projeto que visa enquadrar o Rio no conceito de Cidade Inteligente, muito embora estejamos distantes de tal inteligência, demonstrando que não somos somente o Rio de belezas mil, mas o de muitas contradições também.

A pouco mais de um ano de sediarmos uma Paralimpíada, temos o desafio de tornar a cidade acessível para os mais de quatro mil para-atletas, de mais de 170 países. Um desatino impossível de acontecer, pois, notoriamente, a prioridade dos organizadores são as construções de grandes ginásios que pós Jogos, provavelmente ficarão subutilizados.

Em nenhum momento se priorizou algo relevante para o público com deficiência. Não há quartos adaptados em hotéis três estrelas, que são os mais em conta. Estamos desprovidos de meios para mobilidade urbana de um modo geral, seja na calçada, numa travessia de rua, no ingresso ao transporte coletivo, acessibilidade aos pontos turísticos, praias etc. Até a abertura dos Jogos paraolímpicos está ameaçada, tendo em vista as dificuldades de acesso ao Maracanã, palco das cerimônias.

No caso da deficiência visual e auditiva, por exemplo, são quase nulas as adaptações tanto para a mobilidade quanto nas instalações. Mesmo estando em vigor no país a lei de inclusão da pessoa com deficiência, na qual prevê 10% da capacidade hoteleira para esse público, essa não é a realidade da Cidade. O mesmo acontece com os restaurantes, onde poucos contam com algum tipo de adaptação dessa ordem. É uma cidade partida.

Vale ressaltar que a Cidade não se limita a bela orla de Copacabana e Zona Sul. Os cariocas com dificuldades de locomoção também estão no subúrbio e na Baixada, aonde a mobilidade urbana para pessoas com deficiência é inexistente. Os eventos passam, mas o sofrimento desse público permanecerá.

Há mais de 30 anos, Milton Nascimento, em “notícias do Brasil”, cantou que “...Ficar de frente para o mar, de costas pro Brasil, não vai fazer desse lugar um bom país”. Letra antiga, mas que ainda retrata nossas desigualdades.

. Por: João Tancredo, Advogado especializado em Responsabilidade Civil.

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