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20/10/2015 - 08:21

Câncer de mama metastático: todas as marias precisam saber

Outubro é conhecido como o mês do combate ao câncer de mama. Felizmente fala-se muito em prevenção e diagnóstico precoce da doença nessa época do ano, então provavelmente a essa altura você já saiba que quando descoberto no início, o câncer de mama tem 95% de chance de cura. Uma informação menos discutida, no entanto, é que cerca de metade das pacientes diagnosticadas no Sistema Único de Saúde descobre a doença já nos estágios mais avançados, o que torna a batalha contra este tipo de câncer muito mais difícil. Soma-se a isso o fato de que a maioria dos casos de câncer de mama metastático, o último estágio da doença, não são descobertos no primeiro diagnóstico. Estimativas globais apontam que cerca de 30% das mulheres diagnosticadas com câncer de mama inicial devem eventualmente progredir para o estágio metastático.

Foi pensando nesta questão que a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), instituição que trouxe o Outubro Rosa para o Brasil de forma organizada e articulada em diferentes estados do país em 2008, propôs para a 8ª edição do movimento a campanha “Para Todas as Marias” (www.paratodasasmarias.com.br), que visa conscientizar a sociedade em geral sobre o câncer de mama metastático, mas principalmente sobre os direitos das pacientes, sobre a necessidade de acesso pelo Sistema Único de Saúde (SUS) aos tratamentos mais eficientes para enfrentar a doença neste estágio. Isso porque, apesar dos avanços da medicina, há mais de uma década nenhum tratamento novo para o câncer de mama metastático é inserido na rede pública.

Essa fase do câncer de mama se caracteriza pelo aparecimento de tumores em outros órgãos do corpo, mais frequentemente os ossos, os pulmões, o fígado ou o cérebro e o foco de seu tratamento passa a ser o controle da doença, com o objetivo de oferecer o máximo de tempo e qualidade de vida para a paciente. No entanto, mesmo que por definição o tratamento nesse estágio passe a ser guiado pela redução dos sintomas e pelo aumento da sobrevida da paciente, a maioria das mulheres não consegue acessar os medicamentos mais eficientes para esse fim, pois eles não são distribuídos pela rede pública de saúde. Há tratamento para elas no SUS, mas a oferta não está atualizada e medicações que revolucionaram o tratamento do câncer de mama metastático permanecem fora do seu alcance.

Quando essas mulheres têm a informação de que existem tratamentos já comercializados no Brasil – porém não disponíveis para elas – que podem postergar a quimioterapia e a internação hospitalar, reduzir efeitos colaterais, entre os quais muitas vezes a emblemática queda do cabelo, e até lhes proporcionar mais tempo de vida, a alternativa que resta para muitas é a judicialização.

Do ponto de vista do sistema público de saúde, entrar na justiça para garantir o fornecimento de um tratamento representa uma forma de desequilíbrio, pela qual o Estado realiza um investimento alto para sanar a necessidade individual de um único paciente. Do ponto de vista da paciente, o fato de precisar entrar na justiça para obter o tratamento é um desgaste absurdo para se conseguir algo que é um direito constitucional e deveria ser garantido para todos, especialmente para aqueles cujo tratamento se traduz na esperança de viver um pouco mais. Os problemas de gestão da saúde pública no Brasil fazem com que, atualmente, cerca de 400 mil processos corram nos tribunais solicitando procedimentos médicos variados não oferecidos pelo SUS. O governo (Federal ou Estadual) gasta altos valores para cumprir as demandas decorrentes de ações judiciais, adquirindo medicamentos com preço muito alto e arcando com os custos da máquina judiciária, quando o Ministério da Saúde poderia ser mais ágil na incorporação de medicações de eficácia cientificamente comprovada ao SUS. Assim os tratamentos poderiam ser adquiridos pelo governo por valores negociados e com descontos previstos, e oferecidos a mais pacientes que deles precisam por indicação médica. Isso sem falar em outros ajustes na gestão de encaminhamentos para tratamento rápido que precisam ser resolvidos com urgência. Como confrontar a dificuldade de acesso a tratamentos com a denúncia feita pelo Conselho Federal de Medicina de que nos últimos 12 anos o governo deixou de usar R$171 bilhões que estavam disponíveis no orçamento?

Pacientes fragilizadas pela doença precisam ter acesso aos tratamentos de forma mais ágil e menos desgastante. O país precisa olhar para elas e assumir uma postura responsável, tanto em relação à gestão de seus recursos, quanto em relação à vida de tantas mulheres. O direito à saúde e à vida deve ser Para Todas as Marias.

. Por: Dra. Maira Caleffi, médica mastologista e presidente voluntária da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama – Femama 

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