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22/10/2015 - 08:56

O futuro da agricultura irrigada no Brasil


A demanda de alimentos no mundo não para de crescer. Estudos da FAO estimam uma população de cerca de nove bilhões de habitantes para 2050 e uma necessidade de expandir a produção de alimentos entre 60% e 70%, sendo que 90% desse valor deverão vir do aumento de produtividade e apenas 10% do aumento da área plantada. Neste contexto, existe o consenso de que a expansão da agricultura irrigada brasileira e mundial é a base para que estas demandas sejam atendidas.

A evolução da agricultura irrigada brasileira permitiu avançar do total de 1,5 milhões de hectares em meados de 1980 até os 5,1 milhões de hectares atuais. Tão importante quanto multiplicar por 3,4 a área irrigada foi a evolução de uso de sistemas com maior eficiência no uso de água, energia, mão de obra e operacionalidade de maneira geral. Sistemas pressurizados de irrigação por aspersão convencional e mecanizados e de irrigação localizada por gotejamento e microaspersão ocupavam 10% do total no mesmo período e hoje evoluíram para cerca de 70% do total irrigado, com destaque para o sistema pivot central.

Diferentemente da situação atual, o crescimento do passado que ampliou a área irrigada brasileira se deu em um cenário de pouca disponibilidade técnica, operacional, industrial e de recursos financeiros. Em 1986, quando do lançamento dos planos nacional e do nordeste de irrigação no evento anual da ABID (Associação Brasileira de Irrigação e Drenagem) em Brasília, a análise crítica dos envolvidos no setor era a seguinte: como seria possível atingir aquela meta ambiciosa, em apenas cinco anos, se o país apresentava tantas limitações, associadas aos elevados custos dos sistemas de irrigação na época? Se, por um lado, todas estas dificuldades foram empecilho para um desenvolvimento mais rápido da agricultura irrigada brasileira, por outro, foram sendo pouco a pouco superadas, implicando em um grande ganho de qualificação dos setores de conhecimento, serviços e produtos relacionados à irrigação e à agricultura irrigada.

Hoje a situação do Brasil é totalmente diferente de 30 anos atrás. Ampliamos nossa capacidade de implantar de forma sustentável novas áreas irrigadas, multiplicaram-se os grandes projetos em diversas regiões, e a eficiência do sistema de produção irrigada tornou-se rotina no agronegócio brasileiro. A partir de 1990, ampliamos nossa capacidade industrial e de importação nas áreas dos sistemas de irrigação convencionais, mecanizados e localizados. A área comercial e de serviços vem a cada dia se profissionalizando, relacionado ao planejamento, implantação e operação de áreas irrigadas nas mais diferentes condições edafoclimáticas do Brasil. Por fim, evoluímos muito no conhecimento e formação técnica dos profissionais de nível superior, técnico e operacional.

É importante lembrar que todo esse desenvolvimento da agricultura irrigada, nos últimos 15 anos, se deu dentro da nova política nacional de recursos hídricos, criada com a lei federal n 9.433 de 08/01/1997, uma das mais modernas do mundo e condizente com o novo status da água, que traz, em resumo: “A água é um bem de domínio público, um recurso natural limitado e dotado de valor econômico, sendo seu uso prioritário, em condições de escassez, para consumo humano e dessedentação de animais”.

Um questionamento que necessitamos fazer com vistas à expansão da agricultura irrigada brasileira nas próximas décadas: se, nos últimos 30-35 anos, com sérias limitações conseguimos ampliar nossa área irrigada em 3,4 vezes, incorporando de mais de 3,5 milhões de hectares, quanto podemos planejar para o futuro? O que é necessário entender e promover para ampliar o crescimento de áreas irrigadas nos próximos 30 anos e atingir o crescimento da produção de alimentos, fibras e bioenergia?

A resposta para tudo isso passa inexoravelmente por três vertentes, a primeira pelo entendimento profundo, por parte da sociedade, da importância da irrigação para o aumento da produção agrícola no Brasil e no mundo. Segundo, que o poder público crie condições e programas de incentivo, controle e ofereça melhorias em infraestrutura e logística, que beneficiarão a agricultura em geral. A terceira, e não menos importante, é que todos os envolvidos no sistema, sejam eles produtores, funcionários, empresários, industriais, técnicos, professores ou pesquisadores, tenham consciência que o único caminho é uma agricultura irrigada sustentável, com uso eficiente da água, energia e outros insumos.

Assim, sou da opinião de que podemos multiplicar no mínimo por três nossa área irrigada até 2050, chegando a 15 ou 18 milhões de hectares irrigados. Tenho esperança de poder viver até os 90 anos e ser testemunha ocular desse futuro e mais uma vez comprovar a capacidade do agronegócio brasileiro de se reinventar para continuar sustentando o Brasil.

. Por: Everardo Mantovani, prof. Titular da Universidade Federal de Viçosa e consultor da Irriger.

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