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22/02/2008 - 12:34

Os Trópicos – Visões a Partir do Centro do Globo


O Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro apresenta ao público a exposição Os Trópicos – Visões a Partir do Centro do Globo, que traz para o Brasil 130 obras de arte antiga de países na faixa tropical do planeta (África, Ásia, Américas e Oceania), vindas do acervo do Museu Etnológico de Berlim, considerado um dos mais importantes do mundo, e 87 trabalhos de 23 artistas contemporâneos de vários países, dentre pinturas, desenhos, fotografias, esculturas, vídeos e instalações. A exposição propiciará um rico e inédito diálogo entre a produção de arte antiga e a atual. A exposição terá ainda peças de arte plumária vindas do acervo do Museu do Índio, do Rio de Janeiro.

Os Trópicos tem curadoria de Alfons Hug, diretor do Instituto Goethe Rio de Janeiro, Viola König, diretora do Museu Etnológico de Berlim, e Peter Junge, curador do Museu Etnológico de Berlim.

A grande mostra percorre os mais de cinco mil quilômetros de extensão existentes entre o Trópico de Capricórnio e o Trópico de Câncer, localizados no grau de latitude 23 dos hemisférios Norte e Sul, e Alfons Hug ressalta no texto do catálogo que “a arte antiga nos mostra os trópicos antes de perderem a sua inocência e se transformarem no chamado Terceiro Mundo”. “É fascinante a sua irresistível linguagem de formas, a sua riqueza plástica, o seu conteúdo espiritual e a sua capacidade de interpelar o observador. Por menor que possa ser a escala física, o seu efeito estético é gigantesco”, aponta. Já a força da arte contemporânea está no seu elevado grau de reflexão e no seu potencial crítico. Outra coisa que fica evidenciada na mostra é que quando a arte é verdadeira ela permanece, não importando se foi produzida hoje ou há 200 anos.

A região entre o Trópico de Capricórnio e o Trópico de Câncer é o local de origem do homo sapiens (mais exatamente do leste africano equatorial), e da projeção de sonhos exóticos, desejos irrealizáveis e medos de artistas, escritores, pesquisadores e viajantes, como o mais recente romance de Mario Vargas Llosa, “Paraíso na outra esquina”, ou, em outro extremo, “Coração das trevas”, de Joseph Conrad. Ou ainda os tristes trópicos, dos estudos de Claude Lévi-Strauss no início do século XX e que Gilberto Gil cantou em “Marginália 2”, como “melancolia tropical”. “Interpretações e leituras dos trópicos assemelham-se a uma biblioteca imaginária e a um museu inventado, nos quais são conservados nossos sonhos e nossos desejos secretos. Até hoje os artistas marcam a idéia que fazemos dos trópicos”, resume Alfons Hug.

Essa região, que aparece de início como uma linha de separação puramente geográfica e cartográfica, que não pode ser vivenciada fisicamente pelo ser humano, é um limite incisivo, em que o sentimento da vida, a contemplação da natureza e a concepção de arte se transformam radicalmente.

Os Trópicos – Visões a Partir do Centro do Globo é uma exposição de arte, em que mesmo as obras antigas foram escolhidas segundo critérios estéticos e não científicos. O projeto também tem o intuito de incentivar o diálogo Sul-Sul, como, por exemplo, entre a África e a Oceania, ou entre a Ásia Tropical e a América do Sul.

Os artistas contemporâneos que participam da mostra são Guy Tillim (África do Sul), Thomas Struth, Candida Höfer, Marcel Odenbach, Hans-Christian Schink (Alemanha), Caio Reisewitz, Walmor Corrêa, Maurício Dias & Walter Riedweg, Paulo Nenflídio, Lucia Laguna, Marcos Chaves, Marcone Moreira, Milton Marques (Brasil), Sherman Ong (Cingapura), Pilar Albarracín (Espanha), Theo Eshetu (Etiópia), Fiona Tan (Inglaterra), Sandra Gamarra, Fernando Bryce, David Zink Yi (Peru), e Gerda Steiner & Jörg Lenzlinger (Suíça).

A montagem de Os Trópicos irá ressaltar grandes temas que atravessam os tempos, misturando obras contemporâneas e peças antigas no espaço expositivo, em um permanente diálogo: Natureza, Antepassados e Imagens Humanas, Poder e Conflito, Cores, e Instrumentos Musicais. Esses grupos temáticos foram livremente inspirados pelas “Mitológicas” de Claude Lévi-Strauss, em especial as obras “Do mel às cinzas” e “O cru e o cozido”. Uma instalação de grande porte da dupla suíça Gerda Steiniger & Jörg Lenzlinger será apresentada na rotunda do CCBB.

Completa a exposição um catálogo que pretende dar continuidade à discussão das questões levantadas pela exposição. Além de imagens das obras, a publicação reúne seis textos inéditos, de Alfons Hug, Viola König (Diretora do Museu Etnológico de Berlim), Peter Junge (curador do Museu Etnológico de Berlim), Fernando Cocchiarale (crítico de arte), Roberto Cabot (artista plástico), e Ticio Escobar (crítico de arte, Asunción/Paraguai).

A exposição esteve de 15 de outubro de 2007 a 10 de fevereiro de 2008 no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília e irá para o Museu Martin-Gropius-Bau, em Berlim, de 11 de setembro de 2008 a 5 de janeiro de 2009.

Palestras - Nos dias 4 e 5 de março, às 19h, no auditório do 4º andar do CCBB Rio, serão realizadas palestras gratuitas com temas ligados à exposição. A entrada é franca e haverá distribuição de senhas meia hora antes. No dia 4, os palestrantes serão Alfons Hug, Viola König, Peter Junge, e no dia 5, Maurício Dias e Walter Riedweg.

Obras contemporâneas.: As obras contemporâneas que estão na mostra são convites a diferentes olhares sobre os trópicos: Caio Reisewitz devolve na foto de um porteiro negro sua dignidade ameaçada pela luta diária pela sobrevivência, e no segmento “Natureza” mostra a floresta tropical na estufa de um parque em Frankfurt. Candida Höfer contempla os trópicos domesticados na Europa, em sua série de fotografias intitulada “Jardins zoológicos”. Em sua série “De coleções etnográficas”, ela aborda o papel que os museus etnológicos têm hoje no mundo da arte contemporânea.

David Zink Yi mostra uma vídeo-instalação “Abakuá”, secreta confraria cubana de homens.

Fernando Bryce revela um distanciamento irônico em relação ao passado em uma série de desenhos sobre a história da colonização alemã na Nova Guiné, reconstruída por ele a partir de antigas fotos e recortes de jornal.

Fiona Tan ilustrou os extremos do clima tropical no vídeo “Rain”, realizado durante uma tempestade de chuva e trovoadas em Jacarta, em que através de um balde d’água transbordante se confere ao dilúvio uma dimensão cotidiana.

Gerda Steiner e Jörg Lenzlinger fazem, na rotunda do Centro Cultural Banco do Brasil, a espetacular instalação “Planta Monstro do Escritório”, em que um simples vaso sobre uma mesa de escritório origina uma vasta folhagem que alcançará 30 metros de altura e 12 de largura. Eles usarão cerca de 200 plantas artificiais, que se misturarão a mangueiras coloridas e tecidos, e folhagens naturais, como folhas de palmeira, cipós, galhos, e mais 600 folhas de diversas árvores.

Guy Tillim persegue os rastros da devastação na África Central, desde os garimpeiros da Província de Catanga até as ruínas dos palácios de Mobutu, o antigo ditador do Zaire.

Hans-Christian Schink identificou a simbologia de uma paisagem arquetípica e conciliou o belo natural de Kant com o belo artístico nas cataratas do rio Iguaçu, na tríplice fronteira entre Argentina, Brasil e Paraguai. Em suas imagens, a natureza resplandece como no primeiro dia da Criação, um espetáculo que mostra toda a água do planeta despencando num estrondo ensurdecedor.

Lúcia Laguna tira as cores luminosas de sua paleta quando pinta o seu ateliê ou uma planta bastante abstrata de seu bairro, a Mangueira, lembrando que a luz ofuscante é inimiga da perspectiva. As cores desbotadas revelam algo de incerteza. A equilibrada visão de mundo dos antigos mestres esvaeceu-se, consumida pela dúvida; habitações e cidade tornaram-se espaços ameaçados.

Marcel Odenbach mostra a vídeo-instalação “Em lagoas calmas espreitam crocodilos”, que usa uma linguagem visual curiosamente arcaica, feita em Ruanda, em que vemos poéticas paisagens da chamada Suíça Africana sutilmente se transformando em alusões ao genocídio que ali teve lugar.

Marcos Chaves faz o vídeo-instalação “Máscara”, Sherman Ong leva seu vídeo de dança “Novo Começo”, Paulo Nenflidio cria instalações sonoras [que parece buscar na floresta virgem o instrumento musical mais antigo do mundo, como o personagem pesquisador do romance de Alejo Carpentier, “Los pasos perdidos”], todos eles se apropriando de elementos de culturas antigas, trabalhando em suas obras com o conhecimento produzido pela antropologia ou etnologia.

Maurício Dias & Walter Riedweg penetraram no mundo oculto do candomblé brasileiro.

Milton Marques fez uma vídeo-instalação em que segue as pegadas do naturalista alemão Baron von Langsdorff, que viajou pelo interior do Brasil ainda não explorado nos idos de 1825.

Pilar Albarracín criou o vídeo “Furor latino”, uma ardente cúmbia colombiana, repleta de feminilidade e sensualidade. Sandra Gamarra contribui para a exposição com uma visão explicitamente retrospectiva ao copiar, em telas de grande formato, antigas esculturas africanas e asiáticas. No choque entre estética pré-moderna e contemporânea, os planos temporais são engenhosamente cruzados. De repente, o antigo parece novo, e o novo, antigo.

Theo Eshetu mostra o vídeo “Viagem à Montanha Zuqualla”, uma colorida procissão religiosa em direção ao vulcão sagrado na Etiópia. A trilha sonora intercala “Ó, fronte ensangüentada”, de J. S. Bach, com antiga percussão etíope e ritmos de hip-hop, destacando o caráter sincrético da cultura etíope.

Thomas Struth se embrenhou na impenetrável selva peruana, em diversas viagens, e fez fotografias que mostram a floresta virgem, tropical, como uma antítese da floresta alemã, toda arrumada, cuja formação de gigantescas árvores bem ordenadas pode lembrar um exército. Nas imagens de Struth há trepadeiras crescendo em todas as direções, é uma massa caótica, que anula qualquer sentimento de ordem.

Walmor Corrêa reinventa conhecidas figuras mitológicas da Amazônia em suas pinturas, que mais fazem lembrar mapas de anatomia.

Os Trópicos – Visões a partir do centro do globo, 4 de março a 4 de maio 2008, de terça a domingo das 10h às 21h, no CCBB Rio de Janeiro, Rua Primeiro de Março, 66 – Centro – Rio de Janeiro (RJ). Telefone: (21) 3808-2020. Entrada franca. Palestras: Auditório 4º andar | Entrada franca com distribuição de senha meia hora antes | Capacidade: 84 lugares | Dia 4 de março, às 19h - Alfons Hug, Viola König, Peter Junge | Dia 5 de março, às 19h - Maurício Dias e Walter Riedweg .

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