Página Inicial
PORTAL MÍDIA KIT BOLETIM TV FATOR BRASIL PageRank
Busca: OK
CANAIS

28/01/2016 - 08:06

O vilão do continente

Como presidente da Confederação Latino-Americana da Indústria Gráfica (Conlatingraf), fico muito preocupado ao analisar os dados que a Organização Internacional do Trabalho (OIT) acaba de divulgar: a taxa de desocupação na América Latina e no Caribe chegou a 6,7% em 2015, ante 6,2% em 2014. Trata-se do índice mais alto registrado em cinco anos. Isso significa que cerca de 1,7 milhão de trabalhadores perderam o emprego este ano. O número total de latino-americanos e caribenhos desempregados chegou a 19 milhões.

Se os números continentais assustam-me como dirigente da Conlatingraf, os dados específicos sobre o nosso país estarrecem-me como cidadão brasileiro e presidente do Sindicato das Indústrias Gráficas no Estado de São Paulo (Sindigraf): no Brasil, segundo a OIT, o desemprego aumentou 1,5%. E, o que é pior, o nosso indicador, considerado o tamanho de nossa economia e volume demográfico, teve fortes reflexos nas médias regionais.

É triste verificar a conclusão da análise da OIT: apesar da taxa geral indicar uma deterioração dos mercados de trabalho da região, nem todos os países apresentaram aumentos tão expressivos em suas médias quanto o Brasil. Estima-se que o desemprego no País tenha passado de 6,9% para 8,4%, entre 2014 e 2015. Na América Central e no México, porém, observou-se uma queda do desemprego, de 5,2% para 4,8%, no mesmo período. No Caribe, a taxa aumentou apenas 0,3%, de 8,2% para 8,5%.

A influência negativa de nossa economia é ainda mais acentuada na América do Sul, onde o desempenho do Brasil teve direto impacto no aumento da média regional da perda de postos de trabalho, de 6,8% para 7,6%. Para se constatar o peso de nosso país e o quanto a crise nacional é danosa, basta observar o seguinte: ao ponderar os índices dos países do Cone Sul (Argentina, Chile e Uruguai), sem incluir o Brasil, a OIT registrou uma queda de 0,3% no desemprego.

Por outro lado, a OIT identificou que também está ocorrendo maior precariedade dos postos de trabalho na América Latina e Caribe. A informalidade já atinge cerca de 130 milhões de trabalhadores na região. Há, ainda, uma elevação da taxa regional de desocupação entre os mais jovens. O índice aumentou de 14,5% para 15,3%, entre 2014 e 2015. No tocante a essa tendência, contudo, o Brasil não é o principal influenciador.

É constrangedor assistir à deterioração dos fundamentos da economia brasileira e constatar o crescente desgaste internacional da imagem de um país que tinha tudo para figurar entre os campões do desenvolvimento e da compliance. Somos os responsáveis pelas estatísticas continentais negativas do desemprego e do desempenho econômico e temos nossas notas seguidamente rebaixadas pelas agências de risco. Como se não bastasse, a comédia diária de nossos poderes Executivo e Legislativo e as intermináveis denúncias de improbidade são manchetes diárias na mídia internacional e motivos de chacotas e ironias dos comentaristas. Somos os novos vilões do continente!

O mais grave é a inércia das autoridades na busca da retomada do crescimento econômico e solução dos problemas políticos que assolam o País. Nada fazem a não ser um esforço ferrenho para manter seus empregos em Brasília. Enquanto brigam pelo poder efêmero, milhares de trabalhadores são demitidos, engrossando a dívida social e agravando o círculo vicioso da recessão.

. Por: Fabio Arruda Mortara, presidente do Sindicato das Indústrias Gráficas no Estado de São Paulo e da Confederação Latino-americana da Indústria Gráfica; coordenador do Comitê da Cadeia Produtiva do Papel, Gráfica e Embalagem (Copagrem) da Fiesp e country manager da Two Sides Brasil.

Enviar Imprimir


© Copyright 2006 - 2024 Fator Brasil. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Tribeira