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15/03/2016 - 07:29

A ameaça do Aedes Aegypti não está nos lixos das cidades

Pesquisadores revelam que a maioria dos focos se encontra em áreas particulares e de difícil acesso.

O Aedes aegypti se tornou uma das principais ameaças ao bem-estar das pessoas nos últimos tempos, sendo transmissor de doenças como Zika, Chikungunya, Dengue e Febre Amarela. Extremamente adaptado às áreas urbanas, onde a fêmea consegue facilmente se alimentar, o mosquito encontra muitos criadouros para depositar seus ovos justamente nessas localidades.

Após uma intensa campanha de extermínio, que objetivava reduzir os casos de Febre Amarela, o mosquito foi totalmente erradicado do Brasil no final da década de 1950. Entretanto, por conta do descaso e do fluxo de trânsito global, o Aedes foi reintroduzido no país, estando, atualmente, presente em todos os Estados - também pela grande capacidade de adaptação e facilidade de reprodução.

As principais doenças transmitidas pelo mosquito têm, em geral, manifestações clínicas muito semelhantes: o paciente apresenta febre, mal-estar, dores musculares e nas articulações e manchas vermelhas pelo corpo. Alguns sintomas podem ser mais marcantes em determinado vírus, como a dor articular e, até mesmo, a artrite (com edema, calor e eritema), no caso da Chikungunya, ou a suspeita de microcefalia associada à Zika, no primeiro trimestre da gestação. Porém, exatamente pela semelhança de seus sinais e sintomas, na maioria das vezes, não é possível fazer diagnósticos sem exames laboratoriais específicos.

Esse diagnóstico confirmatório não é essencial para definir o tratamento inicial, que é basicamente o mesmo para essas doenças: hidratação e medicamentos sintomáticos, como analgésicos e antitérmicos. No entanto, uma avaliação médica é fundamental para detectar precocemente sinais de gravidade e evitar ou minimizar possíveis complicações.

Os vírus Zika e Chykungunya têm apenas um sorotipo identificado até o momento, o que não permitiria a uma pessoa adoecer mais de uma vez. O vírus da Dengue, contudo, tem quatro sorotipos, o que significa que uma pessoa pode ter mais de um episódio.

O Ministério da Saúde busca esclarecer de maneira efetiva as principais dúvidas sobre as doenças, em seu site. O quadro abaixo é elaborado a partir das informações da Pasta.: Dengue: a infecção por dengue pode ser assintomática, leve ou causar doença grave, levando à morte.

Normalmente, a primeira manifestação da dengue é a febre alta (39° a 40°C), de início abrupto, que geralmente dura de 2 a 7 dias, acompanhada de dor de cabeça, dores no corpo e articulações, prostração, fraqueza, dor atrás dos olhos, erupção e coceira na pele.

Perda de peso, náuseas e vômitos são comuns. Na fase febril inicial da doença pode ser difícil diferenciá-la.

A forma grave da doença inclui dor abdominal intensa e contínua, vômitos persistentes, sangramento de mucosas, entre outros sintomas.

Zika: cerca de 80% das pessoas infectadas pelo vírus Zika não desenvolvem manifestações clínicas. Os principais sintomas são dor de cabeça, febre baixa, dores leves nas articulações, manchas vermelhas na pele, coceira e vermelhidão nos olhos.

Outros sintomas menos frequentes são inchaço no corpo, dor de garganta, tosse e vômitos. No geral, a evolução da doença é benigna e os sintomas desaparecem espontaneamente após 3 a 7 dias. No entanto, a dor nas articulações pode persistir por aproximadamente um mês.

Formas graves e atípicas são raras, mas quando ocorrem podem, excepcionalmente, evoluir para óbito, como identificado no mês de novembro de 2015, pela primeira vez na história.

Chikungunya: os principais sintomas são febre alta de início rápido, dores intensas nas articulações dos pés e mãos, além de dedos, tornozelos e pulsos. Pode ocorrer ainda dor de cabeça, dores nos músculos e manchas vermelhas na pele.

Os sintomas iniciam entre dois e doze dias após a picada do mosquito. O mosquito adquire o vírus CHIKV ao picar uma pessoa infectada, durante o período em que o vírus está presente no organismo infectado.

Cerca de 30% dos casos não apresentam sintomas. *Fonte: http://combateaedes.saude.gov.br.

Estamos vivenciando uma época de muitas dúvidas e poucas certezas. Como se não bastasse, boatos infundados se espalham, desviando o foco do que realmente importa e que está ao alcance de todos: a prevenção.

Todos nós já sabemos dos perigos de se deixar água acumulada. Qualquer objeto com água parada, ainda que inusitado, seja uma tampinha de garrafa ou uma folha caída no quintal, é um possível criadouro.

Outro tema é relativo ao acúmulo de lixo. Resíduos descartados de maneira inadequada são veículos de contaminação do ambiente e quando acumulam água podem servir de criadouro para o mosquito transmissor da Dengue. Isso ocorre, principalmente, nos chamados pontos viciados, locais onde as pessoas utilizam muros, esquinas e terrenos desocupados para colocar o lixo.

No que diz respeito ao lixo domiciliar, sua coleta na capital paulista tem frequência diária ou em dias alternados. Segundo o Instituto Oswaldo Cruz e a Secretaria de Saúde do Município de São Paulo, o ciclo de desenvolvimento do mosquito até a sua forma adulta ocorre em 10 dias. Assim, considerando a frequência da coleta e o ciclo reprodutivo do Aedes aegypti, a associação do descarte de lixo com a sua proliferação não é direta.

Como cidadãos, devemos cuidar do lixo para reduzir o impacto ambiental, separando o que é passível de reciclagem. No descarte, o material deve ser acondicionado em sacolas próprias, fechadas, e disposto no horário correto.

Na outra ponta, estão a coleta e a destinação. É imperativa uma ação eficiente do poder público na gestão desses dois serviços e da limpeza pública. Também é essencial que a prefeitura agilize a limpeza dos pontos viciados, com frequências similares às da coleta domiciliar, realizados diariamente ou a cada dois dias; um dos maiores problemas está em áreas particulares onde a coleta de lixo não pode entrar normalmente para pegar o material descartado.

No campo da prevenção, o uso de repelentes, independentemente da substância ativa (Icaridina, DEET ou IR3535), é eficaz e seguro, inclusive para gestantes e crianças acima de seis meses de idade, se respeitadas as orientações do fabricante quanto à faixa etária indicada e tempo de ação/ necessidade de reaplicação. É importante ressaltar que os doentes também devem usar repelentes. Em primeiro lugar, existe a possibilidade de a pessoa ser infectada por outro vírus. Além disso, esses indivíduos são os reservatórios para novos mosquitos, pois quando o Aedes pica um doente, suga o sangue e também os vírus que ali estão, infectando-se e, após alguns dias, tornando-se transmissor daquele vírus.

A Organização Mundial de Saúde e a Organização Pan-Americana de Saúde reconhecem a eliminação de criadouros do mosquito como a mais importante providência a ser tomada. E não adianta esperar que ações isoladas do governo ou do vizinho resolvam o problema. Todos temos de estar engajados nessa luta.

. Por: Gabrielle de Souza Mury, Médica Infectologista da Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto. . Jan Carlo Delorenzi, PhD - Farmacêutico, Mestre e Doutor em Ciência Biológicas (Biofísica). Professor de Imunologia e Saúde Pública – Universidade Presbiteriana Mackenzie. Investigador Sênior em Pesquisa Clínica. Líder do Grupo de Pesquisas em Saúde Pública da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Conferencista na área de Doenças Tropicais Negligenciadas

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