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18/03/2016 - 06:32

O direito de errar

A transparência da informação, bem comodo processo que a origina e a propaga, é um dos preceitos básicos de todoveículo de imprensa que se pauta pelo respeito à ética e, especialmente, ao seupúblico. Não há outro caminho para conquistar um patamar de credibilidade capazde situá-lo no horizonte jornalístico para onde a opinião pública dirige seucampo de visão.

Pois bem, é ingênuo acreditar que,nesse complexo universo onde se constrói a informação, o processo sejaimpecavelmente pontuado com exclusividade por acertos e decisões corretas dosresponsáveis por sua elaboração. Os obstáculos, os passos em falso eeventualmente os tropeços tornam-se naturais e, pode-se dizer, aceitáveis nestaépoca em que a velocidade da notícia é ditada pela própria exigência de umpúblico cada vez mais ávido pela instantaneidade acessada por meio das mídiasdigitais.

Portais de notícias, emissoras de rádioe televisão e também os jornais impressos permitem-se corrigir erros cometidossob a tensão ou, até mesmo, sob o ímpeto de um cotidiano de constantesturbulências ocasionadas pela apuração das diferentes versões que geralmenteconstituem um determinado objeto de informação. É bastante comum o leitordeparar-se com o famoso ?erramos? na página de opinião, ou o telespectador ououvinte ser alertado pelo apresentador com o indefectível ?ao contrário do quedissemos há pouco...?.

O público habituou-se a esse percalçono dia a dia dos jornalistas. E de certo modo passou a encará-lo comocircunstância compreensível de um trabalho sujeito a dificuldades como qualqueroutro. Porque, afinal de contas, todos nós cometemos erros. Poucos ou muitos,simples ou graves, os erros estão aí para nos lembrar dessa característica tãolatente em nossa condição humana: somos falhos.

No entanto, ao contrário do públicoconsumidor de informação, o jornalismo parece não ter ainda se habituado àcompreensão que também se exige dele próprio em sua relação diária com agentesparticipativos, e efetivos, na produção da notícia. Talvez a principal vítimadessa arrogância sem sentido esteja personificada na figura do assessor deimprensa, primo em primeiro grau daquele que desenvolve sua atividade naredação, mas que geralmente é tratado como um daqueles parentes indesejados comos quais é necessário manter ao menos uma relação de cínica cortesia.

Ao assessor de imprensa, ainda não épermito errar. Uma resposta solicitada pelo veículo de comunicação não pode sercorrigida. Enviar uma segunda versão assemelha-se a um crime imperdoável, comdireito a execração pública. Está se tornando comum, por exemplo,apresentadores de telejornais questionarem no ar correções enviadas pelosassessores de imprensa. Mesmo que a atualização colabore para que a informaçãochegue ao público mais precisa ou mais rica em detalhes ou mais próxima daquiloque chamamos de verdade.

O fato é que, além de humano, errartambém é profissional. Enfrentar o erro com transparência e honestidade é umsaudável exercício de humildade. E a humildade, essa postura de cujasfronteiras o jornalismo costuma esquivar-se constantemente, é um dos princípiosfundamentais para mantermos em dia a consciência de que somos infinitamentemenos importantes do que aquilo que produzimos: a informação. O pior erro dejornalistas e assessores de imprensa é permitir o erro na informação levada aopúblico por receio de admitir seu legítimo direito de errar.

. Por: Carlos Alberto Silva, 57, é jornalistae assessor de imprensa.

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