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27/04/2016 - 09:07

Porque não amamos a democracia

Nós não amamos a democracia representativa. E o desencanto com ela é, hoje, fato evidente. Mesmo aqueles que a defendem, quando o fazem, não têm sido capazes de ir além de repisar velhos chavões, tal como a mais célebre vulgata forjada por Curchill de que a democracia é o pior regime, à exceção de todos os outros que foram experimentados ao longo da história. Nada dizem dos seus efeitos positivos. Quando muito, esporadicamente, ouvem-se expressões que se parecem ocas, como amor ao país e espírito republicano. Contextualizadas, mais do que que ocas, elas se mostram impregnadas de rasteiro oportunismo político.

A que, afinal, nos remete hoje a palavra democracia? Para muitos insignificância, corrupção, traição, desilusão, decepção, discurso vazio e prolixo.

A democracia representativa é um sistema estruturalmente problemático, cujas incompletudes inatas agravaram-se dramaticamente face à universalização dos sistemas públicos de educação, a ampliação do acesso ao desenvolvimento tecnológico e à mudança nas expectativas da sociedade. A ideia de maioria e de mandato, dois de seus princípios fundadores, tornaram-se ficções irremediavelmente incontornáveis nos tempos atuais. A já precária ideia de que a maioria expressa a vontade de todos se desmorona por completo ao supor a estabilidade dos grupos sociais. A ideia de mandato estrutura-se no insustentável pressuposto de que a vontade expressa pelo cidadão no instante do voto permanecerá por quatro anos, o tempo de mandato dos parlamentares e dos cargos majoritários, exceto o de Senadores, de oito anos - uma eternidade para esses tempos líquidos.

Além disso, o Parlamento, em sua origem considerado a mais pura expressão do governo representativo, perdeu a sua centralidade. E essa instituição, que sintetizaria a vontade da nação, o local onde o interesse geral seria publicamente debatido em voz alta, degradou-se por completo, convertendo-se em um sistema de mercadores, dominados por políticos profissionais, que instrumentalizam seus mandatos em lucrativos empreendimentos particulares e familiares. O sentimento de ser malgovernado e mal representado, é, desse modo, consequência direta da perversão do sistema de representação.

O mal-estar com a democracia representativa e com todas as instituições a ela relacionadas, direta ou indiretamente, mostra de maneira insofismável que a realização de eleições periódicas, embora central, não é mais suficiente para legitimar a autoridade dos governantes. A democracia representativa, nascida dos escombros da democracia direta, será cada vez mais pressionada por uma reaproximação às suas origens, por intermédio do restabelecimento de um regime a serviço da vontade geral, submetido a novos mecanismos de accountability e legitimada em outros valores além do procedimento técnico eleitoral, entre os quais a participação, a transparência, a imparcialidade, a reflexividade e a compaixão.

. Por: Jésus de Lisboa Gomes, Mestre em Administração de Empresas e Doutor em Ciências Sociais. É professor e membro do Conselho Universitário do Centro Universitário FECAP e do Conselho de Curadores da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado. | FECAP —Com mais de 110 anos de tradição no ensino superior, a FECAP (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado) foca seus cursos nas áreas de Negócios, incluindo as áreas de Economia, Administração, Ciências Contábeis, Comunicação, Relações Internacionais e Secretariado. Nota máxima no ENADE (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) e eleita duas vezes consecutivas o melhor Centro Universitário do País pelo Guia do Estudante Abril, a FECAP possui corpo docente composto por profissionais doutores e mestres formados nas melhores instituições do país e do exterior, além de oferecer ensino na graduação, pós-graduação, mestrado e ensino médio. | www.fecap.br.

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