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28/02/2008 - 13:35

Cinema na escola e formação

A tela do cinema mostrava uma Liv Ullman em seu esplendor, bela e talentosa, cantando lindas canções e vivenciando a famosa história de Shangri-lá, do clássico livro de James Hilton, "Horizonte Perdido". Estávamos em 1974, eu tinha pouco mais de 6 anos, mas as imagens ficaram gravadas em minha memória. Imaginar que existisse um lugar como aquela cidade perdida, no meio das montanhas do Himalaia, sem que ninguém nem ao menos sonhasse isso... Vilarejo maravilhoso, onde as pessoas não adoeciam, viviam em harmonia, se respeitavam, gostavam legitimamente uma das outras (independentemente de qualquer condição ou circunstância) e que, para completar, garantia a todos a juventude eterna. Os personagens eram ainda jovens na aparência, mas tinham idades bem avançadas, muito além daquilo que sabíamos ser possível.

Foram talvez as primeiras lições que tive numa sala de projeção. Jamais as esqueci. E olhe quantas coisas pude aprender: respeito, saúde, convivência harmoniosa, respeito pelo semelhante, tolerância em relação às evidentes diferenças e particularidades de cada ser humano, a busca (ou o sonho) dos homens pela eterna juventude.

Encantado com uma história maravilhosa, transposta de um livro (que anos depois tive a curiosidade de ler, motivado pelo encontro anterior com as imagens de Shangri-lá no cinema), sentia o pulsar da Sétima Arte, seu impressionante vigor - impulsionado pelos diálogos, músicas, efeitos visuais, figurinos, efeitos especiais, interpretações do elenco, efeitos sonoros, fotografia, iluminação. E isso tudo do alto de meus seis anos de idade!

Nem imaginava que um dia iria me tornar educador. Menos ainda que as imagens guardadas na memória por tão longo período iriam orientar um dos projetos primordiais de minha carreira em educação, o Cinema na Escola.

O cinema seduz com a beleza de suas imagens, de suas locações, das luzes que iluminam as seqüências projetadas na tela. Comunica idéias, gera debates acalorados, motiva mudança de opiniões, promove o surgimento de novos sentimentos e sensações em relação aos outros e ao mundo em que vivemos. E com todo esse poder de sedução, comunicação, beleza, arte, entretenimento e graça, o cinema também pode educar, ajudar na aprendizagem, promover um ensino mais interessante e lúdico, enriquecer alunos e mestres com visões de mundos que eles jamais conheceram até o encontro com os filmes.

Eu aprendi assim. Por que outras pessoas também não poderiam? O que as impedia de também desfrutar do imenso prazer proveniente dessas produções e ao mesmo tempo crescer, melhorar, conhecer, saber mais?

O projeto Cinema na Escola, que desenvolvo em conjunto com outros professores e através do Portal Planeta Educação, é, principalmente, uma declaração de amor à Sétima Arte. Se não fosse educador, profissão que escolhi de forma consciente, pela qual tenho enorme afeição e com a qual tenho envolvimento profundo até a última gota de sangue de meu corpo, seria certamente cineasta (quem sabe um dia ainda chegue lá e realize mais esse sonho).

E não advogo o uso do Cinema na Escola apenas com base em argumentos teóricos (respaldado por livros e teses de outros estudiosos) que constam no trabalho acadêmico que venho desenvolvendo e também nos artigos do Planeta Educação. Tenho usado de forma perene, consciente, planejada e, acredito, inteligente R11; com resultados comprovados e evidentes da eficiência e produtividade que é possível atingir - o recurso fílmico em sala de aula há mais de 20 anos.

Quando falo de Cinema na Escola não estou inventando fórmulas desconectadas da realidade, mas colocando no papel experiências provenientes de projetos, trabalhos, encontros e inúmeras experiências desenvolvidas em sala de aula com os alunos com os quais tive o prazer de conviver ao longo de minha carreira como professor.

E quantas não foram as vezes em que, ao encontrá-los, anos depois de já terem saído das escolas onde havíamos estado juntos, pude ouvi-los dizer o quão memorável foram várias das aulas que tivemos e que, em especial, muitas delas foram aquelas em que trabalhamos com filmes.

"Aprendi muito sobre processo industrial com "Tempos Modernos";"As aulas sobre a 2ª Guerra Mundial ficaram muito mais claras com "A lista de Schindler"; "O resgate do soldado Ryan"; e "Pearl Harbor"; "Quantas não foram as lições tiradas de "Patch Adams"; e "Jamais me esquecerei de "Matrix"e de suas pílulas azuis e vermelhas, grandes lições de filosofia" foram algumas das considerações desses alunos.

Para alguns deles, como puderam declarar, nos tornávamos personagens dos filmes que utilizávamos e com os quais interagíamos com a história, a filosofia, a arte, a música, a linguagem, as ciências e todo o conhecimento e fatos que nos eram apresentados. A relação com os filmes era tão intensa que eles gostavam de identificar o professor com alguns dos personagens. Fui gladiador (mas disse a eles que estava mais para rei-filósofo), doutor da alegria, arqueólogo famoso, agente secreto, soldado em plena guerra, compositor. E, desde sempre, o professor inesquecível de tantos e tantos filmes, em especial, John Keating, R16;Oh captain, my captainR17;, o irresistível personagem de Robin Williams em Sociedade dos Poetas Mortos.

Por que Cinema na Escola? Se pudesse simplificar, diria apenas que é porque amo tanto o cinema e a escola que quis conceber um encontro definitivo entre essas duas paixões de minha vida. E também pelo fato de que acredito, sinceramente, que a arte e a educação precisam tanto uma da outra quanto nós precisamos de oxigênio ou de água.

. Por: João Luís Almeida Machado é editor do Portal Planeta Educação (www.planetaeducacao.com.br); mestre em Educação, Arte e História da Cultura

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