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29/02/2008 - 11:11

Energia necessita de cuidados em 2008

O ano de 2008 exigirá esforços do Estado brasileiro para amainar a difícil situação energética. O uso de outros insumos que não a hidroeletricidade serão analisados e usados em parte, mas isso não contribuirá para a resolução real do problema.

As análises sobre a situação da energia elétrica no Brasil indicam que o drama do racionamento poderá existir em 2008. Apenas para efeito de compreensão histórica, se houver possibilidade de indicar a partir de quando o País passou a ter problemas no fornecimento de energia, a data deverá se localizar nos anos de 1995 e 1996, vindo a se desdobrar em 2001, ano máximo da crise energética, que ficou conhecido como “apagão”.

Há elementos para se afirmar que o fantasma do “apagão” deverá continuar em 2008. A geração de energia elétrica, via hidrelétrica, está no gargalo. A alternativa energética fornecida por termelétricas pode apresentar alguma conveniência se seu uso for a curto prazo. Contudo, há inconveniências importantes para o médio e longo prazos. De início, se o insumo utilizado for o óleo combustível poderá aumentar os contratempos ambientais, ainda mais em uma época de forte atenção aos problemas do “aquecimento global”, cuja gênese se deve, em grande parte, à queima de energéticos de origem fóssil, conforme a crença de parte da comunidade cientifica, integrada às Nações Unidas e defensora de fontes alternativas.

Ainda no campo dos combustíveis fósseis, se o carburante for o gás natural, o drama do racionamento continuará a existir, não tanto por causa de questões ambientais, visto que o gás natural tem menos poder de impacto ambiental do que seu primo oleoso. A questão em si ganha corpo em virtude da quantidade inferior às necessidades brasileiras. O Brasil consome 45 milhões de m³ de gás natural por dia; a indústria se encarrega de gastar 55% e a outra parte vai para uso doméstico, transportes e outros fins.

Assim, para que as termelétricas tivessem franca utilização, haveria a necessidade de o País ter mais de 80 milhões de m³ de gás natural. Eis a grande questão. Da Bolívia o Brasil adquire 30 milhões de m³ ao dia; os outros 15 milhões são proveniente de várias jazidas, como as de Campos, no Norte do Estado do Rio de Janeiro. Sob um cálculo para relativa estabilidade, o Brasil deveria produzir, ou importar, 50 milhões de m³ de gás natural somente para fins elétricos. Não há produção interna suficiente.

Com relação à Bolívia, o Brasil não pode esperar importar mais gás. A situação política boliviana, a partir de 2006, é elemento de alerta para quem importa insumos energéticos, caso do Brasil com o gás, que pode sofrer vulnerabilidades por causa de problemas alheios. Além do aspecto político, há também os limites operacionais no vizinho, que não consegue aumentar a produção. Mesmo assim, Brasília promete continuar com investimentos na Bolívia.

Por isso, há como dizer que a situação atual parece ser mais delicada do que a vivida há sete anos. Isto porque, em 2001, havia a atmosfera de mediocridade, em que nada parecia valer a pena se esforçar porque o Brasil não correspondia aos esforços depreendidos. Não correspondia em virtude de impasses político-econômicos domésticos e internacionais, por exemplo, a crise do 11 de setembro.

Agora, mesmo com advertências para amainar ânimos, a atmosfera interna é permeada de um certo otimismo, dando a entender que se não houver “infantilidades” políticas, a sorte econômica brasileira poderá ser muito boa, expressando crescimento à casa de 6% até dezembro. Por isso, contratempos provocados por falta de energia colaborariam muito para dar a idéia de que o destino nacional deve ser mesmo o de ser País a reboque das outras potências.

O ano de 2008 deverá ser o ano da energia. Se houver preocupação estratégica no Estado brasileiro, ela deverá se debruçar no trabalho de novas jazidas de gás natural, como a de Santos, na evolução em tempo hábil, e com responsabilidade política e econômica, dos superpoços de Tupi.

E, por fim, mas não menos importante, o País deverá também direcionar esforços para a energia hidrelétrica. Com o esgotamento hidrelétrico do Sul e do Sudeste, o Estado deverá procurar novas fontes, algumas situadas na área amazônica. Não há, necessariamente, fortes obstáculos técnicos e sociais para a construção de hidrelétricas na região Norte. Há sim prudência e atenção redobrada para que não se cometa erros históricos, como os encontrados em Balbina na primeira parte dos anos 1980. Não há por que reproduzir tais erros.

As jazidas de gás natural de petróleo de Santos são uma grande promessa e um bálsamo para um país em vias de entrar no limite energético. Mas isso não significa facilidade, ao contrário. Mesmo o litoral paulista sendo rico em hidrocarbonetos, o tempo que deverá ser empregado na exploração das matérias-primas, bem como o investimento, será bastante alto.

O dilema energético brasileiro é uma realidade, assim como os cuidados ambientais também o são. O Brasil tem que superar a “dialética perversa” em que o País não cresce economicamente porque não tem energia de reserva; e não entra definitivamente em novo apagão porque a economia não cresce.

Se atentar para as possibilidades energéticas inauguradas pelo rio Madeira é um grande passo. Assim como é grande passo conceber novas fontes energéticas que escapem dos modelos mais convencionais. Aqui se abre campo que brindará idéias e pensamentos originais a favor do Brasil.

. Por: José Alexandre Altahyde Hage, doutor em Ciência Política, consultor do núcleo de Negócios Internacionais da Trevisan Consultoria e professor do curso de Relações Internacionais da Trevisan Escola de Negócios – SP. E-mail: [email protected]

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