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Perspectivas 2007: Caminhos para viabilizar a prioridade do crescimento


Empresários, dirigentes de entidades de classe e economistas diagnosticam muitos problemas, mas acreditam que o Brasil possa ingressar num ciclo duradouro de crescimento sustentado a partir de mudanças concretas na política econômica.

A preocupação com a pífia performance da economia nacional nos dois últimos exercícios, o ceticismo quanto às perspectivas imediatas e o anseio pelo crescimento sustentado estão presentes nas análises de empresários, economistas e dirigentes de entidades de classe. Seus depoimentos permitem fazer um diagnóstico aprofundado e realista das perspectivas e prioridades do Brasil no novo ano.

Luiz Guilherme Piva, diretor de Finanças da Trevisan e professor da Trevisan Escola de Negócios, pondera que a herança deixada por 2006 é positiva: inflação baixa, desemprego em queda, confiança dos consumidores em alta, apoio popular recorde ao presidente e resoluções (é praxe nestas datas) de incremento da atividade econômica. Mas, a lista de problemas legados pelo velho ano é extensa e complexa. A começar pelo baixo crescimento econômico. “A trava dos juros altos e do câmbio valorizado tem causado impactos negativos nos investimentos e no dinamismo das cadeias produtivas. Por mais que se repita que há espaço para manejar melhor essas duas variáveis, o Banco Central mantém sua enorme dose de antibiótico na veia do paciente, prostrado em leito esplêndido. E exibe (eureca!) a febre baixa como vitória — como se ninguém soubesse que juro alto contém inflação. O segredo, como nos antibióticos, é saber a dosagem que evita a febre, mas retira o paciente da cama. É o que se espera de gestores públicos e médicos”.

Mário César de Camargo, presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf Nacional), cita dados novíssimos da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), para evidenciar a necessidade premente de o País crescer: a expansão da economia nacional deverá ser de 3,8% em 2007. “Ou seja, a política monetarista de controle da inflação, implantada há 12 anos, já cumpriu sua missão e se esgotou como modelo de gestão econômica; e a irresponsabilidade fiscal do governo já não pode ser disfarçada pelas estatísticas ufanistas relativas à conquista de superávit primário”, pondera.

Dimas de Melo Pimenta II, presidente da Dimep, lembra que há outra projeção muito preocupante, esta do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea): mesmo promovendo melhorias no cenário econômico, o Brasil somente poderá ingressar num ciclo de crescimento sustentado anual de 5% a partir de 2017. “Não podemos condenar a acreditada instituição pelo amargo prognóstico, pois seus técnicos baseiam as análises nas estatísticas e na política econômica. Aliás, nem seria necessário grande esforço de raciocínio para concluir não estar apto à prosperidade um país com os juros mais altos do mundo, dívida pública elevadíssima, impostos equivalentes a 37% do PIB, burocracia exagerada, câmbio inimigo das exportações e deficiente infra-estrutura”.

O fator limitante da infra-estrutura também é enfatizado por João Guilherme Sabino Ometto, vice-presidente da Fiesp e membro do Conselho Universitário da Universidade de São Paulo. Como exemplo da precariedade no setor, ele aponta o grande desperdício de alimentos no País. “A maior parte desse problema registra-se no processo entre a colheita e o armazenamento. Há direta interface com a carência de infra-estrutura, incluindo transportes e qualidade/disponibilidade da estocagem. A debilidade do sistema de transporte de cargas acarreta significativa perda econômica”, ressalta, evocando a premência da implementação prática das PPPs (Parcerias Público-Privadas).

Antônio Leopoldo Curi, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Formulários, Documentos e Gerenciamento de Informações (Abraform), foca sua análise na questão dos impostos: “Primoroso estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário demonstra que, nos primeiros nove meses de 2006, o setor público nacional arrecadou a bagatela de R$ 596,66 bilhões, contra R$ 539,45 bilhões em igual período de 2005. São R$ 2,17 bilhões de impostos por dia ou R$ 25 mil por segundo. Cada brasileiro, em média, pagou exatos R$ 3.223,17 ao Estado, de janeiro a setembro de 2006. A arrecadação per capita teve aumento real de 5,96% em relação a 2005”, frisa o empresário, reiterando a necessidade da reforma tributária.

Dieter Brandt, presidente da Heidelberg para a América do Sul, faz reflexões sobre o contexto macro do Brasil. “Os juros reais mais altos do Planeta, carga de impostos de 37% do PIB, excesso de burocracia, dificuldade de se fazerem cumprir os marcos legais, gargalos na infra-estrutura, precariedade do ensino público (numa era em que educação é sinônimo de desenvolvimento!) e outros problemas enfrentados pelos setores produtivos, embora sobejamente conhecidos, continuam conspirando contra a economia nacional. A imutabilidade de algumas políticas públicas ao longo das últimas duas décadas constitui-se em extraordinário desafio para os setores produtivos, explicando, em grande parte, o porquê de, no âmbito do chamado BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), o País ser o que tem crescido menos nos últimos exercícios”.

Alfried Plöger, presidente da Abigraf Regional São Paulo e da Abrasca (Associação Brasileira das Companhias Abertas), avalia os impactos do baixo crescimento na segunda década do Século XXI: “Segundo projeções do IBGE, em 2020 o número de habitantes do Brasil será de aproximadamente 220 milhões. Ou seja, em relação a 2006, teremos quase 30 milhões de pessoas a mais (o equivalente a toda a população do Peru) para alimentar, vestir, oferecer residência digna, educar, empregar e incluir nos benefícios da economia. Não se deve desconsiderar, nessa análise, a necessidade de resgatar um grande contingente demográfico dos bolsões de miséria, lembrando que, no Relatório Anual sobre Desigualdade do Banco Mundial (BIRD), o País ocupa a 125ª posição, incluindo-se entre as cinco nações com as maiores assimetrias socioeconômicas. Esses dados deixam claro o quanto é fundamental mudar já a política econômica; caso contrário, o Programa de Aceleração do Crescimento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderá constituir-se em mais uma peça meramente retórica da política brasileira”, observa Plöger.

A boa notícia é que os empresários mantêm firme convicção no potencial e na capacidade do Brasil de vencer os desafios já a partir de 2007, desde que se inicie um processo efetivo e consistente de mudanças. E este está expresso em estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que indica dois cenários possíveis para 2007: no primeiro, sob o contexto de redução dos gastos públicos, queda dos juros e desvalorização cambial, contempla-se crescimento superior a 4%, expansão industrial de 5,2% e investimentos equivalentes a 22% do PIB; no segundo, projetado com base na manutenção da estratégia de juros altos, câmbio sobrevalorizado e aumento das despesas públicas, o crescimento seria inferior a 3%, a indústria teria expansão abaixo de 4% e os investimentos ficariam aquém de 20% do PIB. Os dois cenários evidenciam que o País está numa encruzilhada entre a mesmice e as transformações positivas, mas fica claro haver alternativas concretas para o crescimento sustentado, opinam unanimemente os empresários. | Por: Ricardo Viveiros/Oficina de Comunicação

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