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01/03/2008 - 12:31

A Inquisição no Brasil e as Freiras Emparedadas


O período da inquisição, um dos mais negros da humanidade, que teve seu início no século XVI e término por volta de 1820 — portanto somente dois anos antes da chegada da família real ao Brasil —, manchou a história da Igreja Católica para sempre.

Com a abertura recente dos arquivos daquela época, o Vaticano tenta mostrar, de certa forma, que a igreja hoje é mais liberal, assumindo com isso os erros do passado, o que é uma atitude muito louvável.

Com a divulgação esta semana da descoberta de duas múmias de freiras em um Mosteiro de São Paulo — múmias estas em uma posição, digamos, muito suspeita, pois as duas estavam abraçadas, uma com a aparência de resignação e a outra, com a boca aberta, denotando sufocação pela falta de ar, o que indica que podem ter sido sepultadas vivas —, leva-me a imaginar o que sofreram estas mulheres e o que aconteceu para estarem juntas na morte, permanecendo seus corpos mumificados, como querendo denunciar uma atrocidade contra as mesmas, provavelmente por estarem vivendo um amor nefando, ou melhor, como dizia o grande escritor inglês Oscar Wilde, “um amor que não ousava dizer seu nome”.

Sei da ousadia desta conjetura, sei que alguns poderão até me acusar de leviandade contra as duas “santinhas”, como a Igreja Católica gostaria que elas fossem consideradas. Sei também que a mulher no passado, subjugada pelos pais, irmãos e pela sociedade, eram obrigadas a obedecer e a se sujeitar à vontade masculina sem questionamento nenhum. Qualquer pessoa, com uma orientação sexual não muito ortodoxa, teria de se submeter ao que era considerado normal em termos de sexualidade, arriscar a assumir os seus reais desejos sendo que muitos foram mortos pela própria Inquisição, outros buscaram como refúgio seguro da sociedade ou de si próprios uma carreira religiosa em conventos e monastérios, onde o celibato seria o porto seguro dos seus mais profundos desejos carnais e comuns.

Acho que estas moças deveriam ser santificadas por o que passaram, acho também que o episódio deveria ser mais estudado, pois, pelo que li nos jornais, existem registros no mosteiro sobre tudo que ocorria dentro daquelas paredes. Só escrevi sobre este polêmico assunto, por conhecer várias histórias de internatos religiosos tanto femininos quanto masculinos, como também por ter várias amigas homossexuais que ainda hoje sofrem em uma sociedade que continua preconceituosa mesmo havendo leis que proíbam qualquer tipo de discriminação. Continuo católica e, como os “gays” masculinos já têm São Sebastião como seu protetor, estas duas freirinhas poderiam muito bem ser adotadas pela comunidade lésbica como suas santas de devoção.

. Por: Sylvia Romano é advogada trabalhista, responsável pelo Sylvia Romano Consultores Associados, em São Paulo. E-mail: [email protected] .

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