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01/03/2008 - 12:35

Novas disputas, novo capitalismo e um modelo de disputa territorial antiquado

No domingo, dia 17 de fevereiro de 2008, a República de Kosovo, ex-província da Sérvia, após longa fase de luta e sofrimento, declarou-se independente, dando um importante passo para se consolidar como um novo Estado. Grandes potências já manifestaram seu apoio ao Estado nascente. Cabe mencionar a Alemanha, a Grã-Bretanha, a França, a Itália e os EUA.

Surpreendentemente, ou talvez não, o Afeganistão foi o primeiro país a manifestar apoio ao Kosovo no seu nascimento. Não com surpresas, países com características territorialistas e países que têm problemas com grupos separatistas não aceitaram de bom grado a declaração de independência kosovar. Alguns destes países afirmam que é necessário um período de observação da comunidade internacional, mas em momento algum retiram seu apoio e sua aceitação à declaração de independência.

O novo Estado que surge não tem condições atuais favoráveis e deverá esforçar-se bastante para se reerguer. O número de desempregados é elevado, uma porcentagem substancial da sua população está abaixo da linha de pobreza (37%) e sua economia encontra-se em recuperação do conflito de anos atrás. Entretanto, cabe observar que seu território possui algumas riquezas, como reservas de zinco, níquel e ouro.

Obviamente a Sérvia, a grande afetada pela declaração, apesar de sua promessa de não retaliar e reagir pacificamente, tem dado mostras da sua insatisfação a respeito da atitude kosovar. Outros países, como a Espanha (por sofrer com protestos separatistas) e a Rússia (histórica aliada da Sérvia), ainda não reconheceram a declaração de independência do Kosovo.

O Brasil, em sua posição confortável, mas sem agredir sua proposta estratégica de equilibrar seus anseios como global player e como possível média potência global, também avaliou a situação e posicionou-se favorável ao movimento do Kosovo.

O que realmente me intriga é que, a despeito da evolução do capitalismo e da evolução das contribuições teóricas e das experiências recentes, alguns países permanecem posicionando-se de forma favorável a uma dominação territorial quando o capitalismo, como sistema, demonstra quão errônea é esta estratégia.

Já estamos em um nível diferenciado de aprendizagem para identificar que o grande ganho obtido atualmente por países capitalistas desenvolvidos tem origem em posses que em nenhum momento remetem a posse territorial. Giovanni Arrighi, em seu livro “O Longo Século XX” já comprovou, com todos os argumentos e teorias disponíveis, que o processo de expansão deve-se dar através de outras vias, como controles comerciais, de capitais ou de outros recursos, exceto a posse territorial.

A posse de território determina que se incorra em um volume de gastos na obtenção ou de manutenção que até mesmo os estudos da geografia econômica desprezam ou questionam. Mesmo sendo possuidor de reservas de minerais que podem ser valorizados no mercado, um sistema de trocas internacionais eficientes é comprovadamente mais vantajoso do que a posse do território. Estabeleço dois motivos claros para esta afirmação: (1) a completa desconsideração para com as peculiaridades da formação social e cultural das pessoas que compõem o novo estado e (2) a relação custo/benefício tende a ser negativa.

Por fim, a esperança que fica é que o novo Estado esteja, devido sua história, disposto a cooperar com um ambiente pacífico na região. Resta também a esperança de um bom senso por parte dos demais países para que estes não confundam suas particularidades com as dos outros.

. Por: Alexandre César Cunha Leite, Economista, Mestre em Economia Política pela PUC-SP. Diretor da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas do Centro Universitário uma | Cofecon

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