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02/07/2016 - 08:35

Cenários Econômicos

A economia brasileira se encontra em um momento delicado em que diferentes cenários podem se materializar. Percebo que, atualmente, há duas forças que são fundamentais para determinar a trajetória futura da nossa economia. A primeira delas é o cenário político e as reformas que são necessárias, enquanto a outra depende da recuperação da economia internacional de forma mais sustentável, resultando em quatro cenários hipotéticos.

Enquanto a primeira depende dos políticos e da sociedade brasileira, a segunda é uma variável que está fora do nosso controle. O ponto positivo é que a nossa trajetória depende muito mais da primeira do que da segunda, ou seja, está em nossas próprias decisões.

No primeiro cenário, as reformas como a previdenciária, tributária e de maior integração internacional seriam implementadas, assim como de redução do tamanho setor público, propiciando uma melhora dos fundamentos da economia, animando os empresários e, dessa forma, os investimentos produtivos e a produtividade. A melhora dos fundamentos ajudaria a manter os juros em patamares "civilizados", facilitando investimentos produtivos e o controle da dívida pública. A economia internacional experimentaria recuperação sólida, com efeitos positivos na nossa economia tanto em termos de exportação quanto de investimentos estrangeiros diretos. Neste cenário, a recessão ocorreria, em grande medida, em 2015 e 2016, com boa recuperação da economia a partir de 2017. No período 2016-2032, o crescimento médio do PIB seria próximo a 4% e do PIB per capita de 3,5%, o que faria o brasileiro médio experimentar uma melhora no padrão de vida em torno de 80%.

No segundo cenário, o governo faria o ajuste das contas públicas, com a aprovação de reformas importantes que melhorariam os fundamentos da economia, animando os investidores e afetando positivamente os investimentos. No entanto, as dificuldades da economia internacional trariam incertezas, com efeitos negativos no processo de integração da economia brasileira em relação ao resto do mundo, reduzindo o avanço da produtividade. Os investimentos não aumentariam tanto quanto no primeiro cenário devido à fraca demanda externa e à apreciação do real. Dessa forma, o cenário ainda é benigno, mas os investimentos e a produtividade crescem a taxas mais modestas em relação aos "anos dourados". A taxa média de crescimento do PIB, entre 2016 e 2032, seria em torno de 2,8%, enquanto que do PIB per capita seria de 2,3%. Apesar do crescimento modesto a melhora no padrão de vida média seria em torno de 50%.

No terceiro cenário a falta de ajuste e de reformas importantes levaria a uma piora dos fundamentos, com elevação da incerteza, aprofundando a crise atual. Devido ao cenário interno debilitado, o crescimento da economia internacional não teria grandes impactos sobre o seu desempenho, mesmo com uma melhora do preço das commodities. Nesse cenário, a economia brasileira voltaria a apresentar crescimento positivo apenas em 2021, após forte retração econômica. A fuga de capitais levaria a uma depreciação do real, que não é tão acentuada pelo desempenho da balança comercial. A inflação ficaria sistematicamente acima da meta devido aos problemas fiscais, e os investimentos em educação também seriam reduzidos, afetando o processo de acumulação de capital humano e a produtividade. O período 2016-2032 seria de quase estagnação.

No quarto cenário, a estagnação na economia internacional que explicita ainda mais os problemas internos. Devido aos fracos fundamentos da economia brasileira e o baixo crescimento externo, ocorreria um forte processo de fuga de capitais e grande depreciação da taxa de câmbio, o que leva a problemas inflacionários devidos aos problemas fiscais e da taxa de câmbio. A inflação começa a fugir do controle, ameançando chegar a casa de três dígitos anuais. A economia brasileira entraria em um processo de longa retração, levando a uma perda do poder de compra de 9,21% da população, entre 2016 e 2032. A produtividade sofreria devido aos baixos investimentos em capital humano, infraestrutura, e em investimentos estrangeiros diretos, além da retração no processo de integração internacional.

Qual cenário irá se materializar depende da consciência e da capacidade do atual governo em implementar reformas relevantes e, em prazos mais longos, da conscientização da população em relação à importância de reformas que são cruciais, apesar de exigirem sacrifícios, sobretudo no curto prazo.

. Por: Luciano Nakabashi, doutor em economia, professor da FEA-RP/USP e pesquisador do CEPER/Fundace.

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