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11/08/2016 - 09:42

Por que alguns “santos não batem”?

A verdade é que somos atraídos não só pela qualidade física de uma pessoa – buscamos, rapidamente, saber o que vai no repertório afetivo dela. E quando somos bem sucedidos, gostamos do que sentimos. Sentimos o prazer da familiaridade. Se não, a sensação é de que os “santos não batem”.

A história é comum. Pode acontecer de chegarmos ao novo local de trabalho, conhecer a equipe e, em alguns dias, perceber que o relacionamento com determinado colega não flui. O pior é quando isso acontece com o superior hierárquico. Dizemos que é porque “os santos não batem”.

Não “harmonizar santos” é tarefa habitual de uma estrutura cerebral denominada amígdala, gestora das emoções (especialmente as mais fortes). Área do tamanho de uma ervilha, temos um par delas localizado na intimidade do lobo temporal de cada hemisfério. Dali ela dispara para neurônios para todos os cantos do cérebro. O objetivo é reduzir a atividade dos setores lógicos e exasperar as reações de enfrentamento verbal. A especialidade dela chama-se antipatia.

Por outro lado, parece termos encontrado uma contrapartida, uma forma de harmonia interindividual que vai na direção oposta.

Pesquisa publicada na Proceedings of The National Academy of Sciences, em abril de 2016, explora a sensação de familiaridade que decorre do fato de sermos atraídos por pessoas cujas emoções essenciais parecemos compreender. Imagens do encéfalo mostram que este grau de compreensão é assinado pela parte que cuida da sensação de prazer – uma conexão entre o estriado e o córtex prefrontal medial.

Trata-se de uma descoberta fascinante, porque ela indica que uma das razões pela quais somos atraídos a alguém tem a ver com nossa capacidade de decodificar as emoções alheias. Para decodificarmos uma emoção no outro, precisamos, em primeiro lugar, abrigá-la dentro de nós. Neste aspecto, o cérebro age como se fosse um espelho. Essa capacidade pode estar desenvolvida para mais ou para menos, mas quando presente, o link é imediato, mediado pela mistura entre palavras, linguagem do corpo e (principalmente) a linguagem da face.

Isso não significa que o inverso seja verdadeiro – o fato de acharmos alguém atraente não quer dizer que entendemos suas emoções. Estudos anteriores já haviam demonstrado que a atração ativa o sistema de prazer, mas estes estudos concentraram-se no aspecto físico, não no emocional.

O cientista Silke Andrews e colaboradores da Universidade de Lübeck, na Alemanha, mostraram que compreender o conteúdo emocional de alguém exige vocabulário emocional comum. Precisamos ser capazes de encontrar em nossa biblioteca interna aquilo que o outro está tentando expressar (ou esconder).

Os pesquisadores testaram homens e mulheres que assistiram a um vídeo com imagens emotivas enquanto seus cérebros eram escaneados pelo equipamento de ressonância magnética funcional. Os vídeos incluíam imagens de uma mulher com expressões faciais de medo ou de tristeza. Os voluntários deveriam especificar que tipo de emoção se tratava e o grau de confiança percebido ao tentar identificar a emoção.

Aos que participavam do experimento, era solicitado que aumentassem a resolução da imagem da pessoa no vídeo para que se encaixasse em um tamanho confortável no caso de ambos conversarem pessoalmente – uma indicação do grau de prazer envolvido.

Os participantes foram, em geral, bem sucedidos em identificar o tipo de emoção. Além disso, o grau de confiança demonstrado correlacionava-se diretamente com o grau de ativação da conexão entre o estriado e o córtex prefrontal medial, a região cerebral envolvida no sistema de recompensa responsável pela sensação de prazer. Os achados eram específicos para duplas – os autores conseguiram estabelecer não se tratar de uma atratividade genérica percebida pelos participantes.

A conclusão do estudo é que somos atraídos não só pela qualidade física de uma pessoa – buscamos, rapidamente, saber o que vai no repertório afetivo dela. E quando somos bem sucedidos, bem, parece que gostamos do que sentimos. Sentimos o prazer da familiaridade. Se não, a sensação é de que os “santos não batem”.

Pelo sim e pelo não, identificar a emoção em curso em si próprio deverá ser a primeira etapa para tentar conquistar um novo aliado no local de trabalho ou na vida.

. Por: Martin Portner, Neurologista e Mestre em Neurociência pela Universidade de Oxford e especialista em Mindfulness. Há mais de 30 anos divide suas habilidades entre atendimentos clínicos e palestras, treinamentos e workshops sobre sabedoria, criatividade e mindfulness.

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