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30/08/2016 - 08:09

Renato Borghi encena “Fim de jogo”, de Samuel Beckett, no Cassino da Urca

Lendário teatro fechado há décadas será reaberto ao público com obra-prima do Nobel de Literatura, em curta temporada durante a Paralimpíada.

O lendário teatro do Cassino da Urca, fechado há décadas, irá reabrir para o público de 31 de agosto a 17 de setembro de 2016 com a montagem da peça “Fim de jogo”, de Samuel Beckett, que em janeiro deste ano teve grande sucesso de público e crítica em São Paulo, onde foi encenada no apartamento do ator Renato Borghi. A montagem carioca será no foyer do teatro do Cassino, de onde o público poderá ver o palco onde Carmem Miranda e tantas outras estrelas se apresentaram, de 1933 a 1946, quando o jogo foi proibido no Brasil. O IED já retirou quatro caminhões de entulhos e limpou o local, que depois passará por obras de restauro e modernização. Ocupado pela TV Tupi de 1951 a 1980, o prédio foi desativado, e usado esparsamente como locação, a última vez em 1990, para a gravação da minissérie “AEIOUrca”, da TV Globo.

Na obra-prima “Fim de jogo”, Renato Borghi – um dos mais importantes atores do teatro brasileiro – estará todo o tempo sobre cadeira de rodas, enquanto que Elcio Nogueira Seixas, que divide a cena com ele, permanecerá sempre em pé. A direção é de Isabel Teixeira. A curta temporada terá doze apresentações.

Ao imaginar trazer a peça para o Rio, Borghi imediatamente pensou no Cassino da Urca, “um pedaço da minha vida”. Sua família – pais e tios – frequentava o lugar. “Eu tinha nove anos quando ele fechou, e fiquei com muita pena por saber que então nunca poderia ir ali e ver os artistas e políticos das histórias que ouvia”, lembra. Ao escrever “A estrela Dalva”, sobre Dalva de Oliveira, vivida por Marília Pera com enorme sucesso em 1987, Renato Borghi imaginava a cantora no palco do Cassino, onde se apresentou tantas vezes. “Este lugar habita o meu inconsciente há muito tempo. Meu pai me trazia a esta praia quando eu era pequeno. Estou muito feliz de ter tido esta ideia maluca. Aqui é um lugar lindo, e turisticamente não tem nada mais bonito do que a Urca, com a Baía da Guanabara a sua frente”, diz empolgado.

A ideia de montar “Fim de jogo” surgiu da situação vivida por Renato Borghi, que sofreu quatro cirurgias de coluna, tendo corrido o risco de perder todos os seus movimentos, e por vários meses em 2014 esteve em uma cadeira de rodas. Aos 79 anos, em um exemplo de superação, ele hoje tem a coluna sustentada por uma placa e pinos de titânio, e consegue se locomover, obedecendo a uma rotina diária de exercícios pesados. Ele quis trazer a peça para o Rio justamente no período da Paralimpíada, por se sentir “um ator emendado, um ator de titânio”. “Quero convidar os atletas, as pessoas com necessidades especiais, pois eu mesmo sou um ator paralímpico”, diz. No dia 7 de setembro a apresentação terá tradução em LIBRAS, e, no dia 14 de setembro, audiodescrição.

Obra-prima —Renato Borghi também conta ser “um prazer fazer uma obra-prima como esta”. “Os autores que considero maiores são Shakespeare, Tchecov, Brecht e Beckett, que tocam diretamente na parte mais sensível, mais humana. E Beckett, dentro da economia dele, toca mais fundo do que qualquer outro. Tive insights muito dolorosos, que me exigiram muito controle, mas que foram importantes no exercício de ator”. Ele acrescenta que esta montagem de “Fim de jogo” traz Beckett “um pouco desparamentado daquela coisa que se viu sempre, de fim de mundo, meio estranha para o público”. “Desta vez o público tanto se emociona como ri, é surpreendente o quanto o público se diverte”, afirma.

Trajetória pessoal - Na peça, Renato Borghi revisita seus quase 60 anos de trajetória profissional, iniciada em 1958 na peça “Chá e Simpatia”, de Robert Anderson, dirigida por Sergio Cardoso. Nascido no Rio de Janeiro em 1937, Borghi se mudou para São Paulo aos 18 anos, e em 1967 fundou, junto com Zé Celso Martinez Corrêa, o Teatro Oficina, um espaço de experimentação e um marco no tropicalismo, onde realizou trabalhos marcantes como “Pequenos Burgueses” (1963), “O Rei da Vela” (1967), “Galileu Galilei” (1968) e “Na selva das cidades” (1969). As peças sempre eram encenadas também no Rio de Janeiro, “onde ganhavam um impacto nacional muito grande”. “Era sempre muito bom fazer temporada aqui, na ‘chiquésima’ Maison de France, e no João Caetano, a preços populares”, conta. “’O Rei da Vela’ também foi filmado na cidade, ao mesmo tempo a uma dessas temporadas no teatro”, lembra Borghi.

Nos anos 1970, Renato Borghi fundou o Teatro Vivo com Ester Góes, em que produziram espetáculos de forte impacto, e, durante a década de 1980, iniciou seu trabalho como dramaturgo, e escreveu peças de enorme sucesso como “A Estrela Dalva” (com Marília Pêra) e “Lobo de Ray Ban” (com Raul Cortez e Christiane Torloni). Em 1993, fundou o Teatro Promíscuo com o ator Elcio Nogueira Seixas. A companhia obteve grande êxito alternando montagens de clássicos e dramaturgos contemporâneos, como “Édipo de Tabas”, “Tio Vânia”, “Jardim das Cerejeiras”, “Cadela de Vison”, “O Beijo no Asfalto”, “Azul Resplendor”, entre muitos outros espetáculos. Renato Borghi e Elcio Nogueira Seixas receberam os Prêmios Shell e APCA pela Mostra de Dramaturgia Contemporânea, em 2002. Em 2010, receberam o prestigiado Prêmio Villanueva, em Cuba, por suas performances em "Três cigarros e a última lasanha" de Fernando Bonassi e Vitor Navas, e "Dentro", de Newton Moreno.

Sinopse —O velho Hamm (Renato Borghi) está cego e paralítico. Seu parceiro Clov (Elcio Nogueira Seixas) tem uma estranha enfermidade que o impede de sentar-se. Junto deles, habitam outros dois mutilados, Nagg (Adriano Borghi, “in memoriam”) e Nell (Maria de Castro Borghi, “in memoriam”), pais de Hamm, presentes em fotografias dos pais de Borghi. Os quatro personagens dividem um abrigo, refugiados de uma terra devastada. Clov espia este mundo destruído com uma luneta através de pequenas janelas. Não há pistas sobre que espécie de apocalipse criou tamanha desolação. No jogo da sobrevivência, Hamm dá as ordens, enquanto Clov cuida da cozinha e outras questões de ordem prática. A peça começa quando o jogo se aproxima do fim.

No cenário minimalista, radiografias de Renato Borghi converteram-se em painéis de iluminação, e os sons produzidos pelo entorno são incorporados à trilha sonora.

. Peça “Fim de Jogo”, de 31 de agosto a 17 de setembro de 2016, quarta, quinta e sexta, às 20h30, e sábado às 20h Palco do Teatro Cassino da Urca, Av. João Luís Alves, 13, Urca, Rio de Janeiro. Entrada gratuita. Retirada de senha uma hora antes. Capacidade: 50 pessoas. Classificação: 16 anos. Duração: 90 minutos. Acessibilidade ao público. Atores: Renato Borghi e Elcio Nogueira Seixas | Direção: Isabel Teixeira. Tradução em Libras: 7 de. setembro de 2016, às 20h30. Audiodescrição: 14 de setembro de 2016, às 20h30. Recomenda-se o uso de transporte público. Telefone: (21) 3683-3786.

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