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08/03/2008 - 10:30

Gestão do conhecimento nas políticas públicas e o caso da transição do poder em Cuba

Há alguns dias, o polêmico Fidel Castro renunciou ao seu cargo de presidente, o que vai acarretar uma grande mudança nas estruturas do poder da ilha. Muito se falou a respeito desse fato, mas um dos pontos mais interessantes não foi comentado: como deveria acontecer o fluxo de conhecimento entre os veteranos do governo castrista e aqueles que vão assumir agora.

Para entendermos um pouco mais sobre a questão de Cuba, é válido analisarmos a situação brasileira. Aqui, temos a nítida impressão de que sempre há um recomeço de trabalho e apenas em poucos casos um aproveitamento das políticas e ações de outros governantes. Isso acontece nas diversas esferas do poder e envolve tradições culturais da formação política-social de nosso país.

A gestão de conhecimento no setor público deve consistir no uso de métodos e práticas que permitam transmitir tudo aquilo que foi feito durante determinado mandato para os sucessores do poder, ou seja, criar caminhos para que se dê continuidade ao que há de melhor na gestão anterior. A criação e constante alimentação de fóruns de discussão é ótimo exemplo para que isso aconteça, pois o conteúdo criado servirá como uma fonte de informações sobre as mais diversas questões públicas, como saúde e educação. Essa ferramenta é versátil, útil para quem assume tanto uma prefeitura como a presidência.

Em Cuba o caso é mais delicado, por conta de toda a história do país, da revolução de 1959 e do longo período de tempo em que Fidel permaneceu no comando. Isso tornou o conhecimento um assunto hermético, ou seja, só compreendido e acessível àqueles que fizeram parte do grupo mandante. O que significa dizer que, ao longo dos anos, poucas peças mudaram dentro da base governista, o que gerou um gap entre a velha e a nova geração. Para dar continuidade ao poder da melhor maneira possível, o governo deve adotar métodos e técnicas de gestão do conhecimento, como a que já foi exemplificada.

O cenário cubano pode ter vários desfechos, como a adoção da democracia aos moldes americanos. Por isso, seria de grande importância que os governantes introduzissem as práticas da gestão do conhecimento imediatamente, para garantir que os aprendizados da transição possam ser aproveitados em outros momentos. A capacidade intelectual dos nativos da ilha é algo conhecido de todos, o que gerido de maneira adequada seria um grande patrimônio cultural para o mundo.

Mesmo após longos anos de repressão à busca por novas informações, a nova geração política de Cuba tem idéias inovadoras em relação às idéias dos irmãos Castro. Além de uma sucessão de poder, o mundo está para ver uma sucessão ideológica, e aqui não quero dizer apenas em relação às noções de capitalismo e socialismo; a velha guarda dará poder a uma geração sedenta por informações e mudanças. É muito importante pensar os métodos que serão utilizados para garantir uma transição bem sucedida, tanto do ponto de vista político como do ponto de vista do conhecimento, que será modificado.

Seja na ilha ou aqui no Brasil, o que fica claro é que os atuais processos de sucessão não são a melhor maneira de transferir o poder, já que o ideal é fazer com que todo o conhecimento seja transmitido àqueles que assumirão o poder. Devemos pensar isso em vários âmbitos, desde ações mais tangíveis, como programas sociais e práticas econômicas, até as intangíveis, como linhas de pensamentos estratégicos. É preferível a continuidade ao recomeço e quando conhecemos o passado, somos capazes de analisar o presente e de traçar a melhor maneira de alcançar nossos objetivos.

. Por: Heitor Pereira é Doutor em Adminsitração (EAESP/FGV,1995); Professor de MBAs de várias isntituições (FGV Management; IBMEC;PUC-PR) e Presidente da SBGC - Associação Brasileira de Gestão do Conhecimento.

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