Página Inicial
PORTAL MÍDIA KIT BOLETIM TV FATOR BRASIL PageRank
Busca: OK
CANAIS

O Chato do Chato

A última coisa que fiz em 2006 foi participar de uma reunião. Daquelas em que você olha para os lados e não vê vida inteligente. Em que você se pega pensando “o que é que eu estou fazendo aqui?”. A reunião durou quatro - eu disse quatro - horas... Era mais uma das mesmas, velhas e cansativas reuniões, conversando com as mesmas velhas e cansadas pessoas sobre as mesmas velhas e cansadas coisas. Novidade? Só quando o Mané derrubou a xícara de café no colo da Miriam. E provavelmente começarei o ano com outra dessas reuniões que saem de lugar nenhum para chegar a nenhum lugar. Conduzindo, alguém que faz pose enquanto não sabe aonde quer chegar. E essas reuniões têm sempre os mesmos personagens, já reparou? Tem uma que concorda com tudo. Tem outro que dorme de olho aberto. Uma outra, quando abre a boca, é um horror de ignorância. Um ali fingindo que anota tudo e que vai fazer acontecer. Aquele ali traz de volta tudo que já tinha sido discutido na reunião anterior. O outro abriu o laptop e está respondendo o mail de sacanagem que recebeu. E aí você se desespera e pensa num jeito de instalar um pouco de desequilíbrio criativo, aquele momento de caos, de quebra de regras, do inusitado, quando a inteligência aparece. Mas, oh! Ninguém quer desequilíbrio! As pessoas querem segurança. Mesmo que tenham de ser chatas, assumindo discursos padronizados e “buscando atender às expectativas dos clientes”, não é?

Pois fazer exatamente aquilo que se espera da gente, é ser previsível! Chato!. É por isso que a reunião se torna insuportável: todos são previsíveis, atendendo às expectativas que se tem com relação a eles. Sem sensibilidade, garra, coração, alma e tesão...Sem entusiasmo. Gente que finge.

Chatos! E quando os chatos se reúnem, criam um estado de idiotização constante, repleto de rituais e de hipocrisia... Chatos unidos transformam estupidez em religião.

Para escapar, só mudando para um estado de atenção constante, quando fica claro que uma reunião como aquela não funciona. Um papo como aquele é furado. Pessoas como aquelas estão desperdiçando minutos preciosos de suas vidas, sendo... Previsíveis! E é só dar uma olhada em volta: somos dominados por chatos. Fala a verdade, o Lula não é um chato? E o Faustão? Luxemburgo é chato. Aldo Rebelo é chato. O astronauta brasileiro é chato. Galvão Bueno é chato. Ideli Salvati é chata. FHC é chato. O baixinho da Kaiser é um chato. Geraldo Alckmin é chato. Jô Soares é chato. O padre Marcelo Rossi é chato. Aquele pastor cujo nome não me lembro é um chato! A Praça é Nossa está cheia de chatos. Complete e lista com os outros chatos que você conhece! Ah, ficou tentado a me escrever dizendo que eu sou chato? Como você é chato! Chatos, chatos e mais chatos... Que poderiam ser muito interessantes se lutassem pelo desequilíbrio criativo. Mas é difícil. O desequilíbrio criativo exige um grau mínimo de inteligência e máximo de provocação, de inusitado, de desconhecido, de curiosidade. E acima de tudo, exige coragem, pois aquele que brigar pelo desequilíbrio criativo será considerado pelos chatos um alienígena. Alguém fora da realidade. Um indisciplinado. Aquele que manifestar sua indignação, não aceitar as regras envelhecidas, contestar a babaquice explícita e expuser suas idéias será considerado pelos chatos, um... chato.

Pois quer saber? Meus votos para 2007 são que você se torne o chato do chato. Feliz ano novo. Felizmente 2006 acabou. Ô ano chato...

. Por: Luciano Pires é jornalista, escritor, conferencista e cartunista, site www.lucianopires.com.br

Enviar Imprimir


© Copyright 2006 - 2024 Fator Brasil. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Tribeira