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28/12/2016 - 05:53

Crise prolongada aumenta o desalento, aponta pesquisa FGV/IBRE

O mercado de trabalho voltou a apresentar sinais de fraqueza no último trimestre de 2016. Os resultados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) surpreenderam negativamente para um período do ano que tipicamente apresenta resultados positivos nas contratações. O saldo líquido de emprego formal do Caged (admissões menos desligamentos) foi de -74 mil em outubro. O resultado negativo confirma a continuidade no quadro de demissões observado nos meses anteriores. Contudo, o resultado de outubro foi melhor do que o do mesmo mês de 2015, que registrou corte de 169 mil vagas. Para novembro, estimamos uma redução líquida de 85 mil vagas.

A taxa de desemprego da PNAD Contínua se manteve em outubro no mesmo nível dos dois meses anteriores: 11,8%. Apesar da estabilidade no desemprego, o resultado foi muito atenuado pela redução do ingresso de pessoas na População Economicamente Ativa (PEA). A taxa de crescimento da PEA reduziu-se de 0,78% em setembro para 0,56%, em outubro (na variação contra o mesmo período do ano anterior). Ao mesmo tempo, a População Ocupada (PO) ampliou sua queda, indo de -2,45% para -2,60% (período contra período do ano anterior). Caso a PEA de outubro tivesse crescido no mesmo ritmo do mês anterior (0,78%), o desemprego teria alcançado 12,0%.

Observamos, assim, uma mudança na dinâmica do crescimento da PEA, o que tende a atenuar a piora da taxa de desemprego ocasionada pela recessão. Como já ressaltado nas edições anteriores do Boletim, alguns fatores podem explicam a mudança no comportamento da PEA. Um dos principais é o efeito desalento, caracterizado pela propensão de pessoas que participam da População Desocupada (PD) a desistirem do mercado de trabalho e tornarem-se inativas. Períodos prolongados de recessão e desemprego, que levam à queda da renda e à maior dificuldade de encontrar trabalho, tendem a elevar a desistência pela busca por emprego e a exacerbar o efeito desalento.

Essa hipótese encontra respaldo no Gráfico 5. Nele apresentamos a taxa de participação, medida pela razão entre o total de pessoas participantes da PEA e o total de indivíduos em idade para trabalhar, a População em Idade Ativa (PIA). A taxa de participação vem caindo desde o segundo trimestre deste ano, do pico de 61,6% para 61,2%, taxa observada pela última vez em junho/2015.

No entanto, a queda da taxa de participação é evidência meramente sugestiva da presença de desalento. Para corroborar o diagnóstico desse efeito é necessário buscar evidências mais fortes. Neste Boletim apresentamos os resultados obtidos a partir da montagem de matrizes de transição, justamente com o objetivo de analisar, de forma mais estruturada, a hipótese de desalento.

Devemos lembrar que consideramos uma definição mais abrangente de efeito desalento, que não se limita somente ao fluxo dos indivíduos integrantes da definição clássica (saída de pessoas da PD para a PNEA). A definição mais abrangente considerará também a saída de pessoas ocupadas para a inatividade (PO para a PNEA) e a recusa de pessoas inativas de ingressar na força de trabalho (PNEA para PO ou PD). No primeiro caso, o desalento se manifestaria diante da queda de renda para o trabalhador ocupado, tornando-o propenso à saída para a PNEA. No segundo caso, o desalento se manifestaria diante do mercado de trabalho desfavorável, reduzindo o número de pessoas inativas propensas a procurar emprego.

Nos Gráficos 6, 7 e 8, apresentamos os resultados. Neles se encontram os fluxos de saída de pessoas da PD, PO e PNEA, respectivamente, em direção às demais categorias de ocupação. Verificamos no Gráfico 6 uma pequena aceleração do fluxo de pessoas da PD em direção à PNEA, indo de 33,9% para 40,0% (variação em relação ao mesmo período do ano anterior) entre mar/16 e set/16. Entretanto, essa aceleração se encontra dentro uma tendência observada desde set/14, não constituindo um fator relevante para a explicação das fortes mudanças na PEA observadas desde meados de 2016.

É nos Gráficos 7 e 8 que podemos notar mudanças mais significativas entre mar/16 e set/16. No Gráfico 7, destaca-se uma aceleração do fluxo de pessoas da PO para a PNEA no período em questão, indo de 0,0% para 10,73% na variação contra o mesmo período do ano anterior. No gráfico 8, fica evidente uma desaceleração na movimentação de pessoas inativas para a força de trabalho (PNEA para PO ou PD) nos últimos trimestres. Entre mar/16 e set/16, a transição da PNEA para PD caiu de 39,3% para 29,5%. De forma semelhante, a transição da PNEA para a PO foi de -1,6% para -6,4% no mesmo período.

Os resultados encontrados mostram que as principais evidências de efeito desalento se encontram menos na desistência da procura por emprego por parte dos desocupados e mais na: (i) aceleração do fluxo de pessoas da PO para a PNEA e (ii) diminuição da pressão dos inativos sobre a PEA. São esses dois fatores combinados que ajudam a explicar a estabilização da PEA e da taxa de desemprego a partir de meados de 2016, de onde resulta uma aparente melhoria relativa do mercado de trabalho.

Apesar da estabilidade na taxa de desemprego em outubro, devemos ressaltar que 12 | uma melhora consistente do mercado de trabalho, com a retomada de contratações, ainda se encontra distante. Os dados de atividade industrial e consumo seguem fracos, e as demissões de empregos formais continuam em ritmo forte. Portanto, o mercado de trabalho só deve apresentar recuperação a partir de meados de 2017, na esteira de uma lenta e gradual retomada da atividade e do consumo. | .Bruno Ottoni Eloy Vaz e Tiago Cabral Barreira/Pesquisadores do FGV/IBRE.

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