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10/01/2017 - 07:29

O efeito sombra

Transgredir e quebrar algumas regras podem ser uma das trilhas para o avanço em muitas áreas, mas no mundo corporativo a inovação precisa acontecer dentro dos limites da legalidade.

Deepak Chopra, Nilton Bonder e alguns outros talentosos autores já exploraram com riqueza de detalhes os aspectos positivos de se encarar e aprender a lidar com o lado sombrio da psique humana. No mundo corporativo, os códigos de conduta não alcançam as considerações filosóficas e espiritualistas na mesma proporção. O não cumprimento das regras, principalmente legais e regulatórias, implica em prejuízo de imagem e de receita e podem fazer desaparecer em pouco tempo organizações que levaram décadas para serem construídas. Reputação e ética são atributos importantes tanto para a pessoa física quanto jurídica. No caso do mundo corporativo, para acompanhar o cumprimento de uma empresa às questões legais e o rigoroso respeito às regras fiscais, regulatórias, ambientais e outras criou-se o Compliance.

Não nos faltam exemplos sobre o poder devastador da revelação de fraudes e práticas ilícitas na vida de uma organização. Enron, Arthur Andersen, Siemens, Volkswagen, Petrobrás, Odebrecht e tantas outras. De punições jurídicas à mancha na imagem e queda vertiginosa em valor das ações. A lista de consequências pode ser longa e trazer complicações insuperáveis. Devido à adoção de práticas “incorretas” por parte dos executivos, muitas empresas robustas amargaram desvalorização brutal nas bolsas de valores, além de serem condenadas na justiça e pela opinião pública.

No Brasil, esse descortinar do lado sombrio de muitas organizações está forçando uma reconfiguração de setores que, por décadas, não permitiam que novos empreendedores disputassem a fatia mais interessante do mercado, concentrando a maior parte do “share” nas mãos de meia dúzia de companhias que se intercalavam nas conquistas dos contratos. O acordo de cavalheiros agora está cobrando a conta. E não sabemos se ela poderá ser paga ou a que custo efetivo

Contrariar o Compliance envolve muitas nuances. Além da recuperação de imagem, prisão de executivos e acionistas e pagamento de multas, há um árduo trabalho na reversão comercial e financeira. Considerando o quanto tem sido difícil nos últimos tempos para as empresas percebidas como sérias se manter estável e com o caixa operando, imaginemos aquelas que mergulharam no caos da ilegalidade. A cegueira que muitas vezes acompanha o poder e a certeza da impunidade que lamentavelmente imperou no Brasil impediu uma análise mais complexa em sua essência, mas óbvia do ponto de vista comportamental: a de que a sociedade mudou. E muito rapidamente, o mundo não tem mais fronteiras de conhecimento, nem de informação. As novas gerações respondem em tempo real aos estímulos, para o bem e para o mal. Com a informação circulando o julgamento social também acontece de imediato. A má conduta não fica mais escondida por muito tempo.

Com um preço tão alto a ser pago, não temos como não refletir profundamente sobre valores, cultura e no alinhamento dos mesmos à escolha de quem vamos convidar para entrar em nossa casa. Acionistas, gestores, empreendedores e headhunters vivem uma onda ainda mais severa do que já era - ou deveria ser - na hora de selecionar um executivo. O espelho também acontece para o outro lado. Alguns executivos também estão mais criteriosos diante de novas oportunidades e na escolha de que camisa institucional vestir.

Acredito que essa checagem mútua tem ainda um bom espaço para evoluir. Do lado corporativo, o entendimento do que significa Compliance precisa avançar do medo para a naturalidade. Ser ético e cumprir a lei não deve ser diferencial e sim o padrão. Os executivos, por sua vez, precisam vencer o constrangimento de aprofundar a análise e questionar a reputação de seus futuros empregadores. E isso pode e deve ser feito através de vários canais, inclusive através dos headhunters. Vale entender que não só os negócios sob seu comando precisam ter sustentabilidade, mas suas carreiras também.

. Por: Rodrigo Forte, sócio-diretor da EXEC.

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