Página Inicial
PORTAL MÍDIA KIT BOLETIM TV FATOR BRASIL PageRank
Busca: OK
CANAIS

O que sabemos! O que faremos?

A recente reunião da diretora de Risco Soberano da Standard & Poor's, Lisa Schineller, com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, repetiu situação retratada com bom humor em algumas piadas sobre consultores e seus clientes. A especialista internacional disse tudo o que todos os brasileiros sabem e que o governo conta que está trabalhando para resolver. Vejamos: “O setor público do País tem despesa muito elevada e a carga tributária é alta. Oitenta e cinco por cento da receita tributária federal são utilizados para cobrir as despesas totais da União”.

Apesar do otimismo de Schineller no sentido de que o debate fiscal, intensificado a partir do segundo turno das eleições presidenciais, possa sinalizar a melhora das contas públicas no futuro, ela não conseguiu disfarçar sua preocupação, compartilhada pelos brasileiros, quanto a dois aspectos cruciais: a dívida líquida, que se encontra na casa de 49,5% do PIB; e os juros do serviço da dívida, que abocanham 20% das receitas. Finalmente, a diretora da Standard & Poor's proferiu indefectível sentença: “O Brasil precisa crescer de modo sustentado”.

A especialista internacional levou para a sede de sua agência as promessas do ministro de que o governo deverá fazer grande empenho para solucionar as questões que continuam emperrando a economia nacional. Sim, as mesmas promessas que empresários, trabalhadores e toda a sociedade deste país ouvem dos candidatos a cada eleição. Talvez menos cética do que os “vacinados” brasileiros, Schineller salientou que sua organização poderá melhorar a nota atribuída ao Brasil quanto ao cenário para investimentos. Estamos prestes a ser promovidos do quesito “estável” para “positivo”, dois degraus abaixo do selo de “Investment Grade”, que identifica as economias com baixo nível de risco de calote. Que bom!

Dados novíssimos da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), mais matemáticos e menos diplomáticos do que as análises de Lisa Schineller, reiteram que a moça tem razão quanto à necessidade premente de o Brasil crescer: a expansão da economia nacional deverá ser de 3,1% em 2006, 3,8% em 2007 e 4% em 2008, muito aquém, portanto, dos anseios dos setores produtivos. A informação só não foi mais dolorosa porque também não representava grande novidade. Os empresários sabem, na prática mensal de seus balanços, se o mercado e o PIB estão aquecidos ou em processo letárgico...

Quanto ao clima para os negócios e o aporte de capital em empreendimentos produtivos, dados da acreditada Fundação Seade — Sistema Estadual de Análise de Dados, divulgados em meados do ano, revelam queda, em 2005, nas intenções de investimento no Estado de São Paulo, termômetro da economia brasileira. Diz o estudo: “O clima de instabilidade que vigorou no País, principalmente no terceiro trimestre de 2005, também se refletiu nos resultados da Pesquisa de Investimentos Anunciados no Estado de São Paulo (Piesp). No ano, foram confirmados, para o território paulista, investimentos da ordem de US$ 11 bilhões, representando recuo de 29,6% sobre os US$ 15,6 bilhões de 2004 e de 14,4% sobre o menor valor anual alcançado até então pela pesquisa, US$ 12,8 bilhões em 2003. Parte desse mau desempenho pode ser atribuída ao cenário de incertezas políticas e econômicas, que levou algumas empresas a adiarem ou não confirmarem anúncios de investimentos”.

Especialistas e organismos internacionais e nacionais de alta credibilidade confirmam, com diferentes estatísticas e teses, os diagnósticos, anseios e reivindicações dos agentes produtivos brasileiros: a política monetarista de controle da inflação, implantada há 12 anos, já cumpriu sua missão e se esgotou como modelo de gestão econômica; e a irresponsabilidade fiscal do governo já não pode ser disfarçada pelas estatísticas ufanistas relativas à conquista de superávit primário. Já que sabemos tudo isto, é pertinente argüir: o que faremos para mudar o destino desta nação? Começar a escrever essa resposta com redentora e drástica redução das despesas públicas, aplicando a economia auferida em investimentos e equilíbrio fiscal, seria um gesto muito bem-vindo do segundo mandato do presidente Lula, uma iniciativa capaz de reciclar a esperança de empresários e trabalhadores.

. Mário César de Camargo, empresário gráfico, administrador de empresas e bacharel em Direito, é presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf)

Enviar Imprimir


© Copyright 2006 - 2024 Fator Brasil. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Tribeira