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07/03/2017 - 06:59

Escritor Coelho Netto é tema de palestra organizada pela FGV/CPDOC

Encontro pretende ressaltar a leitura do autor como um precursor do modernismo.

O professor Leonardo Pereira, do Departamento de História da PUC-Rio, é o convidado do Laboratório de Pensamento Social (LAPES) do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getulio Vargas (FGV/CPDOC) para uma palestra, dia 17 de março, sobre o livro “Coelho Netto, um antigo modernista”, de sua autoria. O encontro, na sede da instituição em Botafogo, pretende, segundo o autor, ressaltar a leitura de Coelho Netto como um “antigo modernista” – ou seja, “um autor que realizou em sua obra a proposta de afirmação de uma arte efetivamente brasileira, pela tentativa de incorporação das visões de mundo e perspectivas próprias dos negros e pardos até então negada por outros autores de sua geração”, destaca.

Coelho Netto foi uma figura central da vida cultural brasileira entre os últimos anos do Império e as primeiras décadas da República. Autor de mais de 120 volumes, entre romances, crônicas, contos e teatro, ele foi um dos bem-sucedidos romancistas do período e chegou a ser aclamado, em abril de 1928 , pela revista O Malho como o “príncipe dos prosadores brasileiros”. No entanto, segundo Leonardo Pereira, a partir de sua morte, em 1934, passou a ser alvo de uma feroz crítica dos novos autores modernistas, que passaram a tomá-lo como exemplo do tipo de literatura que queriam combater.

“No livro e durante a palestra, pretendo mostrar o quanto Coelho Netto, ao investir ao longo das décadas de 1910 e 1920 no diálogo com as tradições e culturas das ruas (em especial aquelas dos grupos afrodescendentes), afirmava um novo perfil para a nacionalidade que incorporava efetivamente esses sujeitos à imagem da nacionalidade – o que o colocava em uma posição muito mais moderna do que aquela que seria assumida, a partir de 1922, pelos chamados “modernistas”, explica.

Coelho Netto foi um dos primeiros entusiastas, no mundo das letras, de dois elementos que passariam a ser associados à nacionalidade a partir de então: o carnaval e o futebol. No caso do carnaval, ele valorizava pequenos grupos carnavalescos compostos por negros e pardos, como o Flor do Abacate e o Ameno Resedá, que muitas vezes iam até sua casa para pedir sugestões de temas para seus desfiles. Quanto ao futebol, foi o maior defensor do esporte no mundo letrado do período e chegou a assumir cargos de direção no Fluminense, do qual era vizinho. Não por acaso, todos seus filhos viraram atletas do clube, e foi de um filho de Coelho Netto (conhecido como Preguinho) o primeiro gol brasileiro em uma Copa do Mundo, em 1930.

Para Leonardo Pereira, a palestra será uma ocasião de discutir essa ligação de um intelectual como Coelho Netto com o mundo das ruas, algo muitas vezes deixado de lado pelas análises sobre a produção dos intelectuais.

O LAPES deriva da interface Literatura, Historiografia e Pensamento Social no Brasil. “Neste sentido, o evento reflete sobre o trabalho de historiadores que se dedicam à história social da literatura no Brasil e à vida literária brasileira, recolocando visões cristalizadas da história nacional”, explica o professor da FGV/CPDOC , Bernardo Buarque de Hollanda. Ele acrescenta que, “desde pelo menos Nicolau Sevcenko, com seu seminal ‘Literatura como missão’ (1983), passando por Sidney Chalhoub, com ‘Machado de Assis, historiador’ (2003), até a mais recente biografia de Leonardo Pereira, dedicada ao escritor Coelho Neto, a História tem-se voltado a examinar o papel dos literatos na sociedade, desvelando suas redes de sociabilidade, seus mecanismos de legitimação, seus centros gravitacionais em torno de revistas e filiações institucionais”.

O autor — Leonardo Affonso de Miranda Pereira é professor do Departamento de História da PUC-Rio e doutor em História Social pela Unicamp. É autor de “O carnaval das letras: literatura e folia no Rio de Janeiro” (Ed. da Unicamp, 2004); “Footballmania. Uma história social do futebol no Rio de Janeiro (1902-1938)” (Nova Fronteira, 2000); e “As Barricadas da saúde. Vacina e protesto popular no Rio de Janeiro da Primeira República” (Fundação Perseu Abramo, 2002).

O LAPES começou sua história em 2008, quando foi criado o Laboratório de Estudos Brasileiros (LEB), coordenado por João Maia, Helena Bomeny e Lúcia Lippi. Este grupo buscava consolidar a tradição do CPDOC nos estudos do pensamento social brasileiro, reunindo estudantes e professores interessados nas áreas de sociologia da cultura, história intelectual, teoria social e teoria literária. Com o tempo, a agenda do Laboratório se diversificou bastante, incorporando pesquisas de cunho comparativo, que implicavam considerar o pensamento brasileiro numa chave mais global, enfatizando suas conexões com outras formas de imaginação social no chamado Sul Global. Nesse sentido, houve a necessidade de mudar o nome do Laboratório, seguindo a denominação que organiza uma das linhas de pesquisa na pós-graduação do CPDOC.

O LAPES organiza seminários, mesas-redondas, conversas com jovens pesquisadores e oficinas, sempre com o intuito de produzir debate e trocas intelectuais em torno das diferentes vertentes de pesquisa no vasto campo do pensamento social. No nosso entendimento, esse campo compreende estudos sobre textos clássicos, trajetórias intelectuais, movimentos artísticos, expressões musicais e as mais variadas formas de produção simbólica do mundo social.

Palestra do professor do Departamento de História da PUC, Leonardo Pereira, sobre o livro “Coelho Neto, um antigo modernista”, dia 17 de março, das 14h às 17h, na Praia de Botafogo 190, auditório 1027. Informações: http://cpdoc.fgv.br/noticias/eventos/17032017

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