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25/03/2008 - 09:42

Exposição Sertão Contemporâneo na Caixa Cultural Rio

Como o artista de hoje retrata o país, comparado aos artistas viajantes de séculos passados.

A exposição Sertão Contemporâneo, com trabalhos inéditos de quatro artistas do Rio de Janeiro, Ceará, da Paraíba e de Minas Gerais, sob curadoria de Marcelo Campos, na Caixa Cultural Rio. A mostra ficará em cartaz até o dia 27 de abril de 2008, com entrada é franca.

Assim como nas expedições artísticas e científicas de séculos atrás, Brigida Baltar, Efrain Almeida, José Rufino e Rosângela Rennó viajaram com o curador, cada um para uma região sertaneja brasileira, entre janeiro de 2007 e fevereiro de 2008, para registrarem um Brasil sob o olhar da contemporaneidade.

A proposta do curador é a de relacionar "arte contemporânea e brasilidade e questionar se existe identidade nacional na produção artística atual", diz Campos. Este foi também o tema de sua tese de doutorado pela Escola de Belas Artes da UFRJ, defendida em 2005.

Que Brasil interessa à arte contemporânea? Nada de folclore. No lugar de tinta, pincel e tela, os artistas levaram na mala câmeras digitais para documentar paisagem e cotidiano desses sertões, criando trabalhos identificados com a produção anterior de cada um: fotografia, desenho, objeto, slides e instalação.

Tal como os antigos artistas viajantes, os contemporâneos também documentam a natureza botânica e paisagística. A diferença é que estes "têm a liberdade ficcional", descreve o curador. Sua proposta é construir narrativas sobre o sertão brasileiro, resultante da soma da construção da viagem com o pensamento de cada artista, sob a perspectiva de hoje.

Viagem contemporânea - Juazeiro do Norte, no Vale do Cariri, região fronteiriça entre Ceará, Paraíba e Pernambuco, foi o cenário de viagem de Brigida Baltar. A artista levou para o nordeste pó da parede do seu ateliê carioca e buscou olarias populares para, ela própria, fabricar tijolos compactos lá, que serão mostrados na exposição. Sua participação em Sertão Contemporâneo inclui fotos e slides de sua performance - a artista como personagem - produzindo os tijolos, e desenhos.

A paisagem que Brigida desenha na parede da galeria, também com pó de tijolo, não tem figuração, não inclui carro, ônibus, nem o homem. É como se o tempo fosse congelado: o clima é atemporal, sem índices do cotidiano. Aí se encaixa sua recusa em incluir elementos da religiosidade local, apesar de estar na região do Padre Cícero. Ela retira o cotidiano do tempo atual.

A artista pensou em encontrar a seca, mas se deparou com um sertão úmido e trouxe essa umidade para a paisagem dos seus desenhos. A água é também elemento fundamental das olarias populares, que retiram a argila das bordas dos açudes naturais ou de buracos cavados para represar água da chuva.

Efrain Almeida registrou Mossoró, no sertão do Rio Grande do Norte. Por ter nascido no interior do Ceará, seu olhar foi o de "reconhecimento", por meio de fotos e desenhos, do cotidiano da própria viagem: elementos do quarto de hotel, como cama, tênis, desenho animado na TV, retratos a óleo de pessoas que ele conheceu lá.

O sertão de Efrain é um olhar subjetivado, sobre si mesmo, uma auto-reflexão. A paisagem natural interessou menos para o artista do que os ítens com os quais lidava no dia a dia da viagem. Na exposição, Efrain apresenta aquarelas e um objeto de madeira.

Já José Rufino viajou de João Pessoa ao sertão de Sousa e Cajazeiras, no limite da Paraíba com Ceará, durante uma semana.

O artista é o que se aproxima mais do olhar naturalista dos pintores viajantes. Paleontólogo de formação, o paraibano Rufino primeiro se interessou pelos elementos geológicos e em um segundo momento, pelo que o homem faz com a geologia.

Ele fotografou a estranheza nas raízes queimadas, pedras manchadas pela natureza ou pintadas de branco. Estes elementos foram identificadores do local para ele, como se constituíssem um museu do lugar. Sua busca tem a marca do estranhamento, das formas que a natureza produziu naquela paisagem.

Na mostra, Rufino apresenta desenhos, fotografias e objetos de origem vegetal recolhidos in loco.

Diferentemente dos outros três, Rosângela Rennó não viajou, mas conhece o sertão de seu estado natal, Minas Gerais. Seu trabalho é sobre imagens de outras pessoas, com remissão ao livro Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa.

Rennó toma 'emprestado' registros dos fotógrafos Léo Drummond e João Castilho, no sertão mineiro, e Odilon Comodaro e Joel Silva, no sertão de São Paulo, seis seqüências de cada um, todas imagens de redemoinhos de terra.

A escolha de redemoinhos foi sugestão do curador Marcelo Campos, que assistiu ao fenômeno durante sua viagem com José Rufino.

Segundo os fotógrafos, o "instante fotográfico", efêmero, do aparecimento do redemoinho tem algo de espiritual, porque inesperado, imprevisível, em meio à paisagem monótona depois de alguns dias no sertão. É o relato de um momento.

Diz a crendice popular que o redemoinho, no momento de sua formação, seria a morada do diabo. A ligação dos redemoinhos com o clássico de Guimarães Rosa se dá na dúvida do personagem Riobaldo sobre a existência do diabo e, paradoxalmente, na sua sensação da presença do capeta, em razão de seu amor por Diadorim, que se pensava ser um homem.

A atuação da artista sobre as fotos que não são de sua autoria está na escolha das imagens, no tamanho da ampliação e no desenho da montagem na galeria. Ela cria uma forma de expor, interferindo em torno da imagem e não na própria imagem.

Catálogo - A publicação que acompanha Sertão Contemporâneo vai além do registro da exposição. É mais um livro de artista, uma peça autônoma, que inclui imagens que não estão na mostra, como fotos do cotidiano das viagens e relatos dos fotógrafos sobre os redemoinhos.

A mostra Sertão Contemporâneo foi selecionada pelo edital 2007 de ocupação dos espaços da Caixa Cultural.

Exposição Sertão Contemporâneo, com temporada pública de 25 de março a 27 de abril de 2008, de terça a domingo, das 10 às 22 horas na Caixa Cultural RJ. - Galeria 2, Av. Almirante Barroso, 25 [esquina com Av. Rio Branco] – Centro do Rio de Janeiro (RJ). Telefones (21) 2544-4080 | 2544-7666 | E-mail: [email protected] [ Acesso para portadores de necessidades especiais. Entrada franca | Site: www.caixacultural.com.br ]

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