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18/07/2017 - 08:17

Câncer: A esperança está na Genética

A prevenção, o diagnóstico e o tratamento do câncer sofrem uma profunda mudança em seu paradigma: a Oncologia de precisão e personalizada baseada no perfil genético-molecular dos tumores traz maiores e melhores chances de eficácia, segurança, especificidade e menor toxicidade dos tratamentos, além de detectar a possibilidade de predisposição hereditárias a vários tipos de tumores.

O diagnóstico e o tratamento do câncer passaram por profundas e extraordinárias mudanças nos últimos 12 anos. A terapia convencional, usualmente baseada em agentes quimioterápicos que atuam em células de crescimento rápido, independentemente de serem tumorais ou normais, tem sido substituída paulatinamente pela moderna terapia alvo-molecular, a qual atua especificamente nas células tumorais, pois inibe proteínas, ligantes ou receptores relacionados a mutações genéticas específicas presentes exclusivamente nas células tumorais, o que preserva em tese as células normais, premissa esta que concorre para que o tratamento seja menos tóxico e mais efetivo que a quimioterapia convencional.

As mutações que ocorrem nas células cancerígenas podem ser herdadas ou adquiridas, através de carcinógenos ambientais. Estas mutações é que determinam o crescimento exagerado e descontrolado das células tumorais. Portanto, podemos afirmar que o câncer é uma doença dos genes. Consequentemente, seu tratamento deve ser individualizado e escolhido mediante a correta identificação das mutações ocorridas nestes genes.

A partir desta identificação, drogas alvo-moleculares, anticorpos monoclonais ou imunoterápicos podem ser indicados para o correto e efetivo tratamento que, por ser direcionado especificamente às células tumorais, apresenta um potencial muito menor de toxicidade e melhor tolerância geral. Esta é a chamada Oncologia Personalizada ou Oncologia de Precisão, que passa a ser oferecida nos mais modernos e avançados centros de oncologia mundiais. Tumores apresentam diferentes perfis genéticos; portanto têm que ser tratados de forma personalizada ou customizada, e a escolha da medicação mais apropriada deve se basear na análise deste determinado perfil genético: "um paciente, um perfil genético, um tratamento". Esta é a grande mudança de paradigma da Oncologia contemporânea.

Um estudo francês chamado "Profiler" apresentado como um dos maiores destaques do Congresso Americano de Oncologia (ASCO) realizado no início de junho em Chicago (EUA) comprovou o benefício da utilização de painéis genômicos de sequenciamento de nova geração (NGS) como ferramenta de escolha de tratamentos alvo-moleculares para pacientes portadores de câncer em estágio avançado, muitas vezes sem outra opção terapêutica a ser oferecida fora de protocolos de experimentação clínica. Esta ferramenta é imprescindível na prática da moderna oncologia personalizada e de precisão, mas só agora foi consubstanciada por este estudo prospectivo de grande porte o qual analisou 1944 pacientes e pode identificar um ganho na sobrevida dos pacientes tratados personalizadamente de acordo com o perfil genético dos tumores em comparação com aqueles tratados de forma convencional.

Não só o tratamento como também a prevenção do câncer passou a contar com uma poderosa ferramenta: a análise genética para a identificação de mutações responsáveis pela predisposição hereditária ao câncer. Identificando-se estas predisposições, que podem ser responsáveis por até 32% dos casos de câncer, uma estratégia de prevenção pode então ser personalizada ou individualizada para cada paciente. Vários genes podem hoje ser rastreados através de exames de sequenciamento genético, realizados com material de saliva ou sangue.

Através das modernas técnicas de sequenciamento genético, como o NGS (sigla em inglês para o sequenciamento de nova geração) e a reação de polimerase em cadeia com tecnologia digital (dd-PCR), os genes ligados ao câncer podem ser dissecados e melhor estudados para a correta identificação de suas mutações. Através desta análise, os tratamentos específicos, quer sejam eles alvo-moleculares ou imunoterápicos são então prescritos, objetivando uma melhor resposta terapêutica, com mais especificidade e menor toxicidade. Estes modernos tratamentos têm impactado de maneira substancial a sobrevida de pacientes com vários tipos de câncer em estágio avançado, como melanomas, tumores de intestino, pulmão, rim, cabeça e pescoço, linfomas, leucemias e ovário. Com estes avanços, a sobrevida média de pacientes portadores de câncer de pulmão, melanoma ou câncer de rim por exemplo, passou de meses (7 a 9 meses) com a terapia convencional para anos (4 a 6 anos) coma utilização de drogas alvo-moleculares ou imunoterápicas. O desafio agora é integrar esta modalidade de tratamento em estágios mais precoces da doença, em associação com as demais modalidades de tratamento, como cirurgia e radioterapia, na expectativa de que as taxas de cura possam ser também majoradas.

. Por: André Marcio Murad, Professor Adjunto-Doutor, da Disciplina de Oncologia da Faculdade de Medicina da UFMG e Diretor Clínico da Personal - Oncologia de Precisão e Personalizada de Belo Horizonte, MG

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