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23/09/2017 - 08:24

A luta contra o câncer em um sistema cheio de gargalos

O câncer atualmente é a segunda maior causa de morte no País, mas deve superar as doenças do sistema circulatório até 2029. Isso segundo levantamento do Observatório de Oncologia, da Associação Brasileira de Leucemias e Linfomas (ABRALE). Existem muitos fatores para essa realidade, mas o diagnóstico é de que os pacientes acabam morrendo por conta de uma doença ainda mais grave: a ineficiência do sistema público de saúde.

O principal gargalo quando falamos da luta contra o câncer é o diagnóstico tardio. Mais de 150 milhões de brasileiros dependem do SUS, mas nas Unidades Básicas de Saúde, a porta de entrada dessas pessoas no sistema, não há especialistas suficientemente capacitados para identificar o câncer em seus primeiros sinais. Assim, a maioria dos pacientes chega aos hospitais de referência em um grau avançado – levando a tratamentos mais complicados, maior chance de morte e um custo mais alto para os cofres públicos.

É uma situação surreal, em que a estrutura não dá conta do diagnóstico com biópsias, ressonâncias, radiografias e outros exames fundamentais para o início do tratamento ou mesmo para um rastreamento adequado. Quando eles conseguem vencer essa maratona ainda sofrem com a falta de vagas. Cinco hospitais de São Paulo como Santa Casa, Hospital Brigadeiro, Hospital São Paulo (Unifesp) e Hospital da Unicamp estão fechados para novos pacientes oncológicos. Os que são encaminhados para outros hospitais continuam enfrentando a espera de um tratamento adequado. Em alguns lugares do Brasil a espera por uma cirurgia chega a demorar mais de um ano. São filas intermináveis, mas o próprio câncer não espera.

O segundo gargalo está nas opções de tratamento que são ofertadas aos pacientes, muitas vezes defasadas. Estamos em um País onde hospitais chegam a não ter nem gaze para fazer curativos ou fraldas para pacientes oncológicos geriátricos, não é de se admirar que em muitas cidades não existam ou não sejam seguidos protocolos. O SUS ainda atualiza sua lista de medicamentos indicados somente a cada dois anos, período em que muitas novas drogas salvaram milhares de pessoas que têm acesso a planos de saúde ou adquirem os medicamentos de forma particular. Em alguns casos específicos, a lista de medicamentos do SUS chega a passar dez anos sem atualização, como no caso do câncer de mama.

Tanto gestores quanto profissionais da área da saúde não sabem nem por onde começar essa estruturação e é este cenário que faz a mortalidade pela doença aumentar. Estamos perdendo pacientes que poderiam ser tratados com pequenas cirurgias ou pequenas doses de quimioterapia. A gestão incompetente aliada à redução de recursos leva a esse caos. Nossa esperança reside nos bons exemplos, como o Hospital do Câncer de Barretos e o Hospital Boldrini, em Campinas, entre outros. Podemos repetir esses modelos de sucesso com gestão profissional e competente, gerindo e unindo recursos públicos e doações de empresas e pessoas físicas.

Ainda não perdemos a esperança. O Movimento Todos Juntos contra o Câncer (TJCC), capitaneado pela ABRALE, tem fomentado encontros, diálogos e a colaboração na busca destas respostas e saídas para esse caos. O “todos juntos” vai além de apenas uma escolha pontual, já que esse é um avanço que só será possível em conjunto, convocando todos os atores envolvidos para uma série de conversas francas e diretas. Assim, reunimos a rede de oncologia, sociedades médicas, redes farmacêuticas, governos, agências reguladoras, jornalistas e entidades de pacientes – todos os que buscam a melhoria das condições para os pacientes.

Em 2017, o Congresso Brasileiro do TJCC deve reunir 3.500 pessoas com o tema central "Mobilização para Mudança Sistêmica". Nossa esperança e meta é de que esse espaço de diálogo possa propiciar cada vez mais ideias e saídas, discutindo onde estamos, como chegamos aqui, onde precisamos chegar e que caminho seguiremos – um esforço conjunto para a luta contra o câncer pela vida dos pacientes em um sistema de gargalos.

. Por: Merula Steagal, presidente da Associação Brasileira de Leucemias e Linfomas (ABRALE), instituição idealizadora do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer

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