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A cultura ficou de fora

O Mapa do Desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro, com abrangência de 2006 a 2015, foi lançado pela Firjan no Teatro Municipal. Apesar dos planos decenais, entre nós, terem um histórico negativo, foi um esforço louvável.

A Cultura não foi digna de maiores considerações, como se ela não pudesse colaborar na valorização do turismo, por exemplo. Uma decisão política lamentável. Como não houve maiores referências à inclusão digital, que foi digna de dois minutos do apresentador. Pensar o Rio sem essa revolução tecnológica já anunciada, aqui existindo a maior rede de televisão do Brasil (quarta do mundo) é uma omissão que não se sabe a quem atribuir. Certamente não é ao Estado, pois suas realizações foram praticamente ignoradas, como se tudo o que temos (ou vamos ter) tivesse origem única no Governo federal. Nossas belezas naturais, felizmente, foram poupadas dessa estranha posição.

A educação foi abordada – como não poderia deixar de acontecer – sendo bem defendida no depoimento do padre Jesus Hortal, reitor da PUC. Mas foi pouco. Os itens lembrados, sem qualquer sentido de profundidade, são os mesmos de sempre: acabar com analfabetismo (ou reduzi-lo a 3% da população em 10 anos); melhorar a qualidade da educação básica, com uma falsa democratização do ensino fundamental, que nem chegou à universalização e nem garantiu um mínimo de conforto aos seus usuários, com altas taxas de reprovação e abandono. O documento cita exames internacionais, em que fomos mal, mas desconhece o “Prova Brasil” feito pelo MEC, e que deu ao Rio de Janeiro as melhores notas em Português e Matemática, na quarta série do ensino fundamental. A formação de professores tem uma visão tímida no processo, desconhecendo os novos postulados do Curso de Pedagogia. Nem se deu a devida importância à revolucionária Educação à Distância.

Há um bom comentário sobre a formação profissional técnica e superior, alinhada aos pólos econômicos do Rio de Janeiro, intensificados no atual Governo, com ações de atração de grandes indústrias (Thiessen, estaleiros, Gerdau, Nokia, pólo de Caxias, duplicação da Michelin, nova usina da Votorantin, ampliação da Volkswagen, em Resende, etc), sem contar a campanha que resultou na decisão da Petrobras de construir uma grande Refinaria no eixo Itaboraí-São Gonçalo, a gerar cerca de 200 mil empregos diretos e indiretos. Foram criados pelo Governo estadual diversos cursos profissionalizantes (siderurgia, petroquímica, polímeros, educação, etc). A Firjan prevê um improvável incentivo à educação, o que esbarra sempre nos técnicos da Fazenda e do Planejamento, além de uma vaga Cultura do Empreendedorismo. Também foi esquecida a Agricultura.

Não há uma palavra no Mapa do Desenvolvimento sobre os salários dos professores e especialistas, nem à adequada sinergia entre a educação pública e a iniciativa privada, nem qualquer referência ao indispensável tempo integral nas escolas públicas, o que é uma necessidade em geral contemplada somente em discursos demagógicos. Certamente, em muito pouco tempo, a sociedade fluminense exigirá um outro Mapa do Desenvolvimento. Mais justo, mais equilibrado, mais atualizado – e sem os vícios que marcaram esse trabalho dos dirigentes da Firjan. Não é bom esquecer que o Rio de Janeiro tem o segundo maior PIB do Brasil.

. Arnaldo Niskier: professor emérito da ECEME, membro da Academia Brasileira de Letras e Secretário Estadual de Educação do Rio de Janeiro

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