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21/10/2017 - 08:33

Oportunidades em Empreendedorismo Social


Há alguns anos, um novo modelo de empreendedorismo vem crescendo no Brasil e em várias partes do mundo: o empreendedorismo social. Os empreendedores que aderiram a esta “nova forma de olhar” o desenvolvimento de um novo negócio se diferenciam basicamente por dois princípios: têm um foco e uma intenção de resolver questões socioambientais com sua oferta de produtos e serviços. Muitas empresas, que não se consideram negócios de impacto social, também resolvem importantes problemas socioambientais, mas o que os diferencia é já nascer com este foco e a intenção.

Hoje, dois em cada três brasileiros vivem com renda per capita de até R$ 750,00 por mês, o que equivale a de R$ 3.000,00 mensais para uma família de quatro pessoas. São as chamadas classes CDE. Estes grupos familiares têm muitas necessidades que não estão sendo bem atendidas nas áreas de saúde, educação, habitação, inclusão financeira e mobilidade. Os empreendedores sociais buscam entender a vida destes indivíduos para desenvolver produtos e serviços que atendam às suas demandas e, sobretudo, melhorem suas vidas.

Um exemplo desta nova forma de olhar os negócios são os empreendedores do Programa Vivenda. Eles entenderam que as reformas de casas em comunidades eram feitas com muito desperdício, alto custo e baixa orientação técnica. Por isso, desenvolveram uma solução de reformas para este nicho, com suporte de engenheiros, agilidade, qualidade e pagamento financiado em vários meses.

Já os empreendedores do Dr. Consulta identificaram que o tempo de espera por consultas médicas era um problema que afetava muitos usuários do sistema público de saúde, principalmente os autônomos que não dispõem de tempo remunerado para a realização dos procedimentos. Nesse cenário, eles desenvolveram uma rede de consultórios médicos com agilidade na marcação de consultas e exames, além de uma proposta de atendimento diferenciado que está tendo ótima aceitação e vem crescendo rapidamente.

Ao perceber que muitas pessoas das classes CDE têm dificuldade em compreender questões básicas sobre uso e funcionamento de serviços financeiros, a start up Konkero desenvolveu um portal na Internet que leva dicas de orientação financeira para mais de 1,5 milhões de pessoas todos os meses. Perguntas que podem parecer básicas para muitas pessoas, do tipo: “Como preencher um cheque? ” já tiveram mais de 500 mil acessos, o que mostra que há uma lacuna no sistema financeiro em prover estas informações na linguagem adequada a este público.

Exemplos como estes mostram lacunas que não estão sendo atendidas e geram boas oportunidades para novos empreendedores. Nesse sentido, algumas entidades desenvolvem um importante trabalho de apoio para que este ecossistema de negócios de impacto evolua. Os interessados em desenvolver negócios de impacto social podem buscar informações nos portais das organizações que apoiam o setor, como Artemisia, Ashoka, Aliança Empreendedora, Instituto Quintessa, ANDE (Aspen Network) e ICE – Instituto de Cidadania Empresarial. Estas organizações realizam eventos, oferecem conteúdo em seus sites e apoiam startups do setor com aceleração e processos de mentoria. Outras organizações como a Endeavor e o Sebrae, BID, PNUD, Din4amo e Sistema B oferecem conhecimento sobre o setor. Já a FGV acaba de lançar um curso sobre empreendedorismo social. E para quem já tem um modelo de negócios rodando e precisa de capital, há fundos de investimento focados em impacto social como Vox Capital, Move Investimento, Astella e IFC.

Um dos grandes desafios para os empreendedores sociais é o de conhecer com profundidade o dia-a-dia das famílias das classes CDE para encontrar as necessidades não atendidas. É muito comum, em qualquer tipo de novo negócio, que o empreendedor “se apaixone” por sua ideia e invista muito tempo desenvolvendo este produto ou serviço. Antes disso, porém, é preciso ouvir os clientes potenciais, conversar e ir à rua, ou seja, vivenciar a vida destas pessoas. Mesmo que produto ou serviço já esteja pronto, é muito importante ouvir opiniões, críticas e sugestões de ajustes dos próprios usuários potenciais. Esta validação é muito rica no processo de aperfeiçoamento do que será lançado. O conceito “customer centric”, que é o desenvolvimento de produtos e serviços pensando sempre no “cliente no centro”, é muito usado pelas startups do Vale do Silício e tende a ser útil também para os empreendedores sociais.

Aqueles empreendedores que não tem capital para contratar uma pesquisa de mercado podem recorrer a parcerias com ONGS para vivenciar o dia-a-dia do público beneficiado e entender as suas necessidades. Além disso, podem buscar pesquisas abertas na Internet sobre este público. Para avaliar os riscos do negócio, o ideal é fazer um plano de negócios que contemple diferentes cenários e conversar muito com pessoas que entendem tanto de negócios quanto do público a ser atendido. Mesmo que muitas vezes o empreendedor social vislumbre uma importante necessidade não atendida, é preciso avaliar quem irá pagar pelo serviço e como será a proposta de valor do novo negócio.

Com efeito, muitos jovens sonham em desenvolver atividades com propósito social. Há algum tempo, isso só era possível com o trabalho no terceiro setor ou mesmo em uma das esferas de governo. O empreendedorismo social é mais uma opção para estes jovens que possuem muita vontade de ajudar e podem promover inovação para as políticas públicas e os projetos sociais tradicionais.

Por fim, os negócios de impacto social não têm o objetivo de substituir o papel do Estado no fornecimento de serviços públicos. Com a agilidade das startups, eles são capazes de detectar necessidades e criar possibilidades inovadoras, que podem, certamente, contribuir para qualificar e complementar as ofertas públicas.

. Por: Maurício de Almeida Prado, Diretor Executivo da Plano CDE. Fundada em 2009, o Plano CDE é um instituto especializada em pesquisa com foco no universo das classes C, D e E. Referência em pesquisas etnográficas, à empresa busca entender o cotidiano e a lógica de escolha e de consumo dos indivíduos com o objetivo de gerar informações qualificadas, que ajudem no desenvolvimento de soluções, serviços e novos produtos. Em seus projetos, a Plano CDE procura ir além do simples entendimento do universo CDE e gerar soluções que conciliem os objetivos das empresas com a melhoria das condições de vida dessa população, gerando impacto social.

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