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24/10/2017 - 08:18

Relação entre irmãos


A chegada de um irmão, é a chegada de um estranho e portanto surgem uma série de sentimentos ambivalentes; a chegada deste perturba o equilíbrio outrora constituído; passa a ter agora a introdução da noção de divisão, de paridade e de mudança. É comum o primogênito passar por uma fase de regressão que deverá ser compreendida pelos pais afim de num primeiro momento observar o regredir e depois o avançar; os pais podem e devem receber esse movimento da criança. É importante que os pais percebam a ambivalência dos sentimentos - amor e ódio, triste e feliz, bom e ruim.

O primeiro filho tem um grande trabalho emocional a ser feito; ele precisará renunciar a crença de ser objeto exclusivo e privilegiado de sua mãe, justamente porque a chegada do irmão desloca o primogênito do lugar central que este ocupava até o momento na relação com seus pais. É muito comum que com a chegada de um bebê o primogênito passe a ser considerado “já grande, crescido” e portanto dependendo da idade é preciso que se tenha atenção a isto, principalmente se o segundo filho nasce até os cinco anos do primogênito, porque ainda estamos falando de uma crianca pequena. O ponto positivo é que a chegada do irmão arremessa o primogênito na rede de relações sociais ou seja a situação fantasiada por todos nós de ser único e exclusivo abre espaço para uma relação mais verdadeira e menos imaginária de pertencimento no mundo e que será necessário viver entre os outros com toda vulnerabilidade, ambivalencia e desamparo que isto possa representar.

A diferença de idade entre um irmão e outro tem grande importância para que o primogênito possa “adotar” o irmão. Se o nascimento ocorre precocemente, durante o desmame, é possível que surjam muito mais questões precoces a serem elaboradas; essa fase a criança ainda é muito dependente do ambiente materno e fantasias regressivas e destrutivas ganharão espaço no palco emocional. Se o primogênito está na fase pré- edípica - em torno dos 3 anos - a chegada do irmão o colocará precocemente em investigação sobre a sexualidade, diferença entre os sexos, como nascem os bebês, a origem dos bebês.

Quando o primogênito recebe um irmão tardiamente é possível que com a identificação com os pais surja sentimentos afetuosos de proteção e ternura, outros sentimentos também, em razao da ambivalencia. Mas nesse caso a crianca mais crescida já terá mais condições de fazer um julgamento mais apropriado da situação. Ainda sim, é preciso levar em consideracao o modo pelo qual os pais apresentam a ela o irmão, e ainda como os próprios pais lidavam com suas relacoes fraternas. Isso irá interferir na forma como eles passam esses valores transgeracionais para os filhos, na maior parte das vezes de modo insconsciente.

A relação entre irmãos desempenha um importante papel na constituição do sujeito. Podemos pensar que ensina a administrar sentimentos relativos a perdas e ganhos, introduz a limitação e aponta para modos de superação, estimulam a aliança, ensinam a dividir, compartilhar e sobretudo se os pais se perceberem que assim como existem as disputas, o ciúme, a inveja e a rivalidade, também é possível perceber a existência da cumplicidade, companheirismo e solidariedade entre os filhos. Saber que existem sentimentos ambivalentes, portanto conflituosos, é um grande passo para ajudar na relação entre os irmãos.

. Por: Renata Bento, Psicóloga, especialista em criança, adulto, adolescente e famÍlia. Psicanalista, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro. Perita em Vara de Família e assistente técnica em processos judiciais. Filiada a IPA - Internacional Psychoanalytical Association, a FEPAL - Federación Psicoanalítica de América Latina e a FEBRAPSI - Federação Brasileira de Psicanálise.

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