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09/11/2017 - 07:19

Dormindo com os pais: conflitos e soluções


Quando nasce um filho, nasce também uma série de dúvidas em relação a criação dessa criança. É quando os pais experimentam a delicia dessa grande chegada, misturado a insegurança dos marinheiros de primeira viagem e de quebra recebem uma série de palpites de parentes e amigos. Além da amamentação, uma das maiores dúvidas gira em torno de dormir ou não com bebê no quarto e até quando essa pratica pode acontecer sem ser prejudicial.

Independente de qualquer opinião de fora, os pais devem estar atentos a um fato. No inicio da vida, o bebê é totalmente dependente da mãe e precisa que esta seja atenta e disponível para ele. O recém nascido precisa do aconchego do colo da mãe, da suavidade de sua voz e do toque afetuoso ao embalo-lo, ao troca-lo, ao segurá-lo, a mãe será a responsável por atender as necessidades mais primitivas com a ajuda do pai. O pai tem um papel fundamental que é permitir que sua mulher agora mãe possa maternar o seu bebê. Dar apoio emocional à mãe nesse período contribuirá para o fortalecimento da dupla mãexbebê.

O bebê antes de nascer tinha sua morada no corpo da mãe, agora vive em outro ambiente que para ele é desconhecido. Aos poucos a mãe apresentará o mundo ao seu filho e ambos se apresentarão um ao outro.

Muitos pais se sentem culpados em terem a companhia de um bebe dentro do quarto na fase inicial de adaptação. É comum no primeiro mês os pais manterem um berço ou um bebê conforto ao lado da cama até porque a mãe ainda está se recuperando e está tentando se ajustar ao bebê. Isto pode facilitar a amamentação e diminuir um pouco a ansiedade inicial da mãe e do bebê. Sim, é isto mesmo, neste momento inicial a mãe vai precisar se ajustar ao bebê, até que ele esteja maiorzinho, isto aos poucos vai se modificando.

O bebê pode estar acomodado no quarto, mas nunca na cama. Além de não ser recomendado deixar o bebê na cama dos pais devido ao risco de sufocamento, existem questões subjetivas para que isto não ocorra. A cama de casal é o lugar da intimidade do casal, e este deve ser preservado.

A função da cama de casal é justamente para estreitar a relação do casal favorecendo a intimidade e o relacionamento sexual. Se a criança está ali, na cama dos pais, este lado da relação do casal fica comprometido. Sabemos com Freud que a sexualidade existe desde o nascimento. Manter o filho na cama dos pais é uma forma de negar a sexualidade. Acreditar que o bebê pequeno nada está vendo ou sentindo sobre o que ocorre na cama dos pais é não se dar conta de que existe uma outra pessoa ali, e que têm um inconsciente e que tudo capta. A criança percebe e registra tudo a sua volta.

Até o primeiro mês o bebê pode dormir no quarto dos pais. A passagem do bebê do quarto dos pais para o quarto dele pode ser feita de forma gradativa. Aos poucos durante o dia entre uma mamada e outra o bebê já pode ficar no quarto dele e a noite os pais o levam para ficar ao lado de sua cama. A mãe muito ansiosa pode sentir que assim seu filho está mais protegido e facilita as trocas de fralda da madrugada, a amamentação e mantém a mãe confortavelmente acolhida em seu quarto. Após o segundo mês, uma vez já mais ambientados, o nenem pode dormir em seu próprio quarto, sempre com supervisão de alguém.

Se essa passagem não foi realizada desde cedo e se a criança ainda insiste em dormir no quarto dos pais, é preciso investigar o que está acontecendo. Os pais precisam ser constantes em suas ações e ter paciência na condução do filho(a) para seu próprio quarto. É um processo, e é preciso levar a criança para o quarto dela, explicar-lhe que cada um tem seu próprio lugar de dormir. Às vezes pode se criar o hábito de ler uma estória na hora de colocar a criança para adormecer. Isto pode ser um momento lúdico e de compartilhamento com o pai ou a mãe. O fato é que não existe uma receita pronta. Quando durante a noite a criança passar para a cama do casal, deve ser levada de volta calmamente e pode se deitar com ela até que adormeça. É preciso calma, pois esse processo é cansativo, mas com habilidade e firmeza a criança entenderá que há um limite e que a cama dos pais não é o seu lugar e passará a dormir em sua cama. Isto facilita em muito o processo de autonomia das crianças. Acontece que às vezes são os pais que têm dificuldade de se separar do filho e inconscientemente projetam na criança esta dificuldade, criando um circulo vicioso de aliança e dependência entre pais e filhos. E não favorecendo nem um pouco a construção da autonomia e independência da criança.

Muitas vezes é comum um dos pais acabar dormindo com os filhos nesse momento de transição. Se isso acontece com muita frequência é preciso investigar o porquê desse fato estar se repetindo. A relação do casal está passando por conflitos? Se a relação do casal não está muito boa, adormecer na cama do filho pode ser uma forma de “empurrar a poeira para debaixo do tapete”, evitando o confronto, ou seja, a conversa. Este comportamento é bastante desfavorável para o desenvolvimento emocional da criança que é usada para manter o afastamento do casal.

Colocar o filho na cama não é a melhor forma de lidar com a culpa pela distância das crianças ao longo do dia, provavelmente criará novos problemas. Estará reafirmando diariamente para a criança que ela é pequena, que não consegue dormir sozinha, que pode controlar seus pais porque eles se sentem culpados por estarem fora de casa. Nota-se que os pais que compreendem bem a noção de limite e, que cada um tem seu próprio lugar conseguem passar isso com segurança para o filho sem que seja um problema, independente do tempo que passam fora de casa.

. Por: Renata Bento, Psicóloga, especialista em criança, adulto, adolescente e famÍlia. Psicanalista, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro. Perita em Vara de Família e assistente técnica em processos judiciais. Filiada a IPA - Internacional Psychoanalytical Association, a FEPAL - Federación Psicoanalítica de América Latina e a Febrapsi - Federação Brasileira de Psicanálise.

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